Meio Ambiente

Cientistas estão a alterar plantas geneticamente para lutarem contra o aquecimento global

Ao fazerem com que as plantas desenvolvam raízes mais profundas, os cientistas estão a ajudá-las a reter mais carbono.
mão segura planta numa estufa
Imagem via Shutterstock.

Este artigo foi originalmente publicado na Motherboard - Tech by VICE.

Cientistas descobriram como manipular plantas geneticamente para que estas desenvolvam raízes mais profundas, melhorando potencialmente o armazenamento de carbono, a resistência à seca e a protecção contra inundações. Esta investigação faz parte da Iniciativa de Aproveitamento de Plantas do Instituto Salk, nos Estados Unidos, que tem como objectivo o uso de plantas para capturar carbono da atmosfera e armazená-lo no solo.

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Quando uma planta desenvolve um sistema radicular mais profundo, ajuda a armazenar carbono num solo mais estável. Controlar a forma como as raízes de uma planta crescem, no entanto, não é tão fácil como pode parecer. Os cientistas há muito que sabem que a hormona vegetal auxina é responsável pelo crescimento das raízes, mas não sabem exactamente como é que isso afecta a forma do sistema radicular.

O estudo, publicado esta semana na revista Cell, usou o modelo da planta thale cress (Arabidopsis) para identificar um gene específico - EXOCYST70A3 - que controla a maneira como as raízes crescem, alterando a quantidade de auxina que chega à ponta da raiz. Este gene - ou uns altamente parecidos - está presente em todas as plantas, abrindo portas para que os investigadores consigam manipular quase qualquer planta para que desenvolva raízes mais profundas.


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E o que tens de fazer para testar o que um gene faz? Tens de o desligar. As raízes crescem naturalmente em muitas direcções, mas, geralmente, corrigem o seu caminho para apontarem para baixo. Os investigadores identificaram o EXOCYST70A3 como um possível gene que direcciona o crescimento das raízes, mas analisaram o que acontece quando este não está a funcionar. Quando mudaram a actividade do EXOCYST70A3, desligando-o ou amplificando a sua actividade, conseguiram que as plantas com raízes bastante curtas criassem umas que crescem muito mais profundamente.

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Quando as plantas crescem, elas armazenam carbono em carboidratos complexos que não são facilmente decompostos pelos micróbios do solo, um processo que envia o carbono de volta à atmosfera. A Iniciativa de aproveitamento de Plantas está a trabalhar para garantir que as plantas armazenem mais carbono na molécula de suberina, que é basicamente cortiça. A Suberina é encontrada nas raízes das plantas e parece bastante resistente à decomposição. O crescimento de raízes profundas também significa que há menos hipóteses de que o carbono regresse à atmosfera.

"A ideia não é armazenar mais carbono, mas armazenar carbono em partes do solo onde o carbono está mais estável", explica o principal autor do estudo, Wolfgang Busch. E acrescenta: “Muda-se a bioquímica, aumenta-se a estabilidade”. Os investigadores antecipam que esta técnica possa ser particularmente útil para a agricultura. Muitas culturas (por exemplo milho) são muito maiores do que o agrião (thale cress) e podem desenvolver sistemas radiculares profundos. Como de qualquer forma são já plantados de forma alargada, são uma aplicação ideal para este tipo de edição genética, realça Busch.

E há ainda mais benefícios em sistemas radiculares mais profundos. Como o agrião é muito pequeno e, normalmente, não possui sistemas radiculares extensos, as raízes superficiais mostraram-se melhores pela sua resistência à seca. Na maioria das plantas, porém, sistemas radiculares mais profundos podem ajudá-las a sobreviver com menos água. Enquanto o sol pode secar o solo superficial, as raízes profundas conseguem atingir os depósitos de água mais abaixo do solo. Mais carbono no solo, fornecido por esses sistemas radiculares, também podem ajudar a aumentar o teor de água no solo, segundo Busch. Isto pode ainda fornecer mais estabilidade ao solo, protegendo-o contra a erosão provocada pelas inundações.

Portanto, as plantas podem não só ajudar a desacelerar as alterações climáticas, como também podem começar a proteger-se contra alguns dos eventos climáticos extremos causados pelo aquecimento global. Os investigadores estão a planear testar esta nova técnica de edição de genes noutras plantas em breve, na esperança de ajudar mais plantas a capturarem e armazenarem melhor o carbono.


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