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O exército de Myanmar continua a cometer crimes contra a minoria étnica Rohingya

Um relatório da Amnistia Internacional diz que o exército da antiga Birmânia tem conduzido acções que resultam em assassinatos extrajudiciais, desaparecimentos e torturas.
Rohingya Muslims Myanmar
Uma mulher lava a louça num campo de refugiados Rohingya em Cox's Bazar, no sudeste do Bangladesh, a 1 de Janeiro de 2019. (Kyodo via AP Images)

Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma VICE News.

De acordo com um novo relatório da Amnistia Internacional, unidades militares de Myanmar acusadas de crimes de guerra contra os muçulmanos Rohingya em 2017 continuam, ainda hoje, a cometer atrocidades contra o grupo minoritário.

O relatório diz que as forças militares de Myanmar são culpadas por novos "crimes de guerra", incluindo execuções extrajudiciais, desaparecimentos forçados e tortura na sua luta contra os rebeldes da minoria étnica na região de Rakhine. O relatório afirma que essas ofensas foram cometidas por soldados do Comando Ocidental de Rakhine, uma unidade militar que também foi implicada nas atrocidades contra os Rohingya em Agosto de 2017.

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Vê: "Deixados para morrer: a minoria muçulmana da Birmânia"


A mais recente onda de violência eclodiu no Estado de Rakhine em Janeiro, quando rebeldes do Exército Arkhan mataram 13 polícias. Em resposta, o governo civil de Aung San Suu Kyi ordenou que os militares "esmagassem" o grupo - mas, o relatório da Amnistia afirma que o exército foi muito além disso, matando homens, mulheres e crianças inocentes.

"As novas operações em Rakhine mostram um exército não arrependido, não reformado e irresponsável a aterrorizar civis e a cometer inúmeras violações como táctica deliberada", afirma num comunicado à imprensa Nicholas Bequelin, director regional da Amnistia Internacional para a Ásia Oriental e Sudeste.

A Amnistia pediu ao Conselho de Segurança das Nações Unidas para alertar o Tribunal Criminal Internacional sobre os crimes. O Conselho de Segurança foi criado para responder exactamente a este tipo de situações. Está na altura de levar a sério a sua responsabilidade", realça Bequelin.

Em Janeiro, um investigador sénior de direitos humanos da ONU pediu que o chefe do exército da antiga Birmânia fosse acusado de genocídio contra os Rohingya.

Fundamentando as suas conclusões em entrevistas, imagens de satélite, fotografias e vídeos, o relatório da Amnistia documenta atrocidades conduzidas contra os Rohingya no Estado de Rakhine no Oeste do país desde Janeiro, incluindo sete ataques ilegais que mataram 14 civis e feriram pelo menos outros 29.

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Num dos incidentes, um rapaz de Rakhine de sete anos de idade pertencente à minoria étnica morreu depois de um morteiro, “quase de certeza disparado” pelos militares de Myanmar, ter rebentado na aldeia de Tha Mee Hla. A explosão feriu gravemente a criança e os militares impediram a sua família de o levar ao hospital durante várias horas. Morreu no dia seguinte.

Em Agosto de 2017, uma brutal repressão militar contra os muçulmanos, principalmente Rohingya, no estado de Rakhine resultou na morte de milhares de civis e na fuga de mais de 700 mil pessoas do país com medo de perderem a vida. Agora, cerca de 30 mil pessoas fugiram já das suas casas em resposta à actual onda de ataques, segundo o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários.

Apenas sete membros das forças armadas foram condenados por qualquer uma das atrocidades cometidas em 2017. Na semana passada, soube-se que esses soldados tinham sido libertados em Novembro, depois de cumprirem apenas sete meses das sentenças de 10 anos. Os jornalistas que noticiaram o massacre foram perdoados este mês, depois de terem passado 16 meses na prisão.


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