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Tecnologia

Falámos com ciborgues sobre o futuro dos corpos

Para o artista Neil Harbisson, uma visita ao supermercado significa o desencadear de uma sinfonia sónica. Uma antena implantada no crânio permite-lhe "ouvir" as prateleiras. Literalmente.
Moon Ribas e Neil Harbison. Fotos por Hector Adalid

Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma Motherboard.

Para o artista Neil Harbisson, uma visita ao supermercado significa o desencadear de uma sinfonia sónica. Uma antena implantada no crânio permite-lhe "ouvir" as prateleiras repletas de pacotes de cores vivas, graças a um sensor que transforma as frequências de cor em frequências sonoras. Mas esta experiência pode sempre ser interrompida a qualquer momento. Harbisson teve que abandonar muitos supermercados e outros estabelecimentos porque confundiram a sua antena com um dispositivo de gravação de vídeo.

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Durante uma manifestação em Barcelona os polícias pensaram que Harbisson os estava a filmar e deram-lhe cabo do aparelho. Em 2010, em protesto contra estes actos de discriminação, e numa tentativa de consciencializar as pessoas sobre a condição dos ciborgues, Harbisson, juntamente com a coreógrafa (também ciborgue), Moon Ribas, criou a Cyborg Foundation.

A sua missão divide-se em três aspectos: ajudar as pessoas a transformarem-se em ciborgues, defender os direitos dos ciborgues e promover o "ciborguismo" como movimento artístico e social.

Antes de continuarmos, eis um pequeno curso intensivo sobre "ciborguismo": o termo cibernética é difícil de definir. Falando de forma geral, a cibernética implica o estudo de processos que se estruturam como uma cadeia causal, com uma entrada e uma saída (por exemplo, uma cor que se converte num som). No caso dos ciborgues, ampliam-se os sentidos existentes — ou criam-se sentidos novos — ao aplicar a tecnologia cibernética ao organismo.

"Existem diferentes tipos de ciborgues", explica Harbisson. Há quem se submeta a uma cirurgia, outros que utilizam a cibernética de forma permanente, mas sem passar por uma intervenção cirúrgica, e ainda quem utilize a cibernética tantas vezes que acaba por sentir-se um ciborgue", acrescenta.

Durante uma palestra na TEDxMünchen, Moon Ribas explicou as suas descobertas sobre um novo sentido criado em exclusivo para ela: o sentido sísmico. Um sensor online colado à sua pele envia-lhe uma vibração através do braço de cada vez que detecta um terramoto em qualquer lugar do Planeta. "Depois de sentir este movimento universal - e desde que este movimento se transformou numa emoção - comecei a sentir-me ciborgue. Foi nesse momento que senti que o meu corpo e a cibernética se tinham encontrado", explicou Ribas à plateia da TEDx.

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É este sentimento - o reconhecimento de uma nova identidade - que mantém a comunidade conectada. Um dos trabalhos da Fundação é consciencializar as pessoas e ajudá-las a entender o "ciborguismo", bem como promovê-lo como práctica artística, visto que muita gente acaba por levar a cabo os seus projectos cibernéticos na sua própria casa, sem nunca chegar a partilhá-los.

Procura a hashtag#humanswithantennas no Twitter e no Instagram para perceberes o interesse crescente que existe sobre esta comunidade. Foto por Lars Norgaard

Ribas explica: "Queremos incentivar outras pessoas a procurarem os seus próprios sentidos, a investigarem e a experimentarem, através da extensão desses mesmos sentidos". A Cyborg Foundation foi, entretanto, transferida da Catalunha para Nova Iorque, para continuar a sua missão e ampliar o raio de acção.

Harbisson adianta algumas ideias que querem desenvolver: "Queremos começar vários projectos que utilizam a Internet para expandir os sentidos. Um exemplo: um satélite ao qual os humanos podem conectar-se de forma sensorial".

Moon Ribas. Via.

Aqui podes ver uma palestra entre os dois artistas.


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