Chefe Kaxuqui-Francisco, tribo Apurinã. Todas as imagens por David Tesinsky.
Por décadas, pessoas vêm incendiando a Amazônia, principalmente para limpar a terra para plantar e fazer pastos. Mas a escala da destruição deste ano foi devastadora, atraindo atenção global e demonstrando que as coisas estão piorando. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), 45.256 focos de incêndio foram detectados de janeiro a agosto de 2019, um aumento de 84% para o mesmo período do ano passado.Ambientalistas culpam o governo liderado por Jair Bolsonaro pelo pico, dizendo que ele encorajou fazendeiros e madeireiros a queimar a floresta. Eles apontam como Bolsonaro apoia o agronegócio e que fez campanha para permitir agricultura em larga escala e mineração de ouro em áreas protegidas.O fogo na Amazônia fez mais que danificar os pulmões da Terra: ele continua ameaçando tanto pequenos agricultores como comunidades indígenas que vivem na floresta. Viajei para o noroeste dos estados do Amazonas e Acre, e falei com comunidades sobre os incêndios recentes e tudo que eles perderam como consequência.Em 22 de agosto de 2019, a comunidade do Chefe Mapu testemunhou sua floresta pegar fogo. Mapu pertence aos Huni Kuin, um grupo indígena que vive no Brasil e Peru. Apesar de ser a maior tribo do Acre, partes de sua terra não são reconhecidas como protegidas pelo estado. Como resultado, muitas pessoas da tribo já foram deslocadas da fronteira entre Brasil e Peru, onde perderam terras para interesses comerciais competidores.Mapu, que já realizou rituais de plantas medicinais pelo mundo todo, está levantando dinheiro através de várias campanhas para comprar territórios para seu povo. Os Huni Kuin dependem da floresta como meio de vida e para seu bem-estar físico e mental. Como muitos outros povos indígenas, o conhecimento deles de plantas e animais locais e sua relação com a terra os tornam aliados valiosos para esforços de conservação. “A floresta, para nós, indígenas, é a fonte de plantas medicinais”, ele me disse. “Enquanto os madeireiros a veem simplesmente como fonte de madeira preciosa e portanto dinheiro, temos a sabedoria que herdamos de nossos ancestrais do uso de plantas medicinais. Se a floresta desaparecer, nosso conhecimento desaparece com ela.”Desde os incêndios, o Chefe Mapu fez uma queixa formal para as autoridades locais. Sua comunidade está decidida a reflorestar a área devastada.Kaxuqui-Francisco é o chefe de uma das tribos Apurinã, que vive à beira do rio Purus no oeste do Brasil. Do final dos anos 1800 em diante, donos de plantação de seringueiras para produção de borracha se assentaram no rio Purus, e escravizaram, torturaram e massacraram o povo Apurinã. Agora, essas tribos habitam 27 terras indígenas, mas só 20 delas são áreas demarcadas.Essas árvores de 50 metros podem ser encontradas em florestas do Brasil, Peru e Bolívia, e podem viver por mil anos. Além de sustentar um ecossistema delicado, as plantas também são a principal fonte de renda para muitas famílias na Amazônia, incluindo a de Francisco, que colhe e vende as castanhas. Os incêndios prejudicaram muito os ganhos de Francisco, mas ele ainda consegue sobreviver graças ao apoio dos filhos que trabalham na cidade.Dona Jô é mãe solteira e agricultora de orgânicos. Ela perdeu quase tudo no incêndio recente, menos sua casa, mas ela continua dedicada a replantar suas terras com vegetais e árvores. Como plantações de transgênicos estão crescendo no país, Dona Jô criou um banco de sementes orgânicas em sua casa. A cozinha dela é cheia de garrafas plásticas com rótulos, cheias de variedades de feijão, grão-de-bico, arroz e sementes de vegetais.Hoje, ela é uma figura fundamental do movimento de cultivo de orgânicos local. Ela é uma das organizadoras de feira de orgânicos da região e tenta convencer outros agricultores a mudar seu cultivo para meios mais sustentáveis de produção.Saque mais fotos do Amazonas e Acre abaixo:David TesinskyMatéria originalmente publicada pela VICE Reino Unido.Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter, Instagram e YouTube.
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Chefe Mapu, 29 anos, líder da tribo Huni Kuin
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Kaxuqui-Francisco, chefe local da tribo Apurinã, município de Boca do Acre
Francisco e sua esposa nos receberam em sua casa, onde passamos a noite dormindo em redes no meio da floresta. Na manhã do dia seguinte, partimos para uma caminhada de quatro horas pela floresta para ver locais da Amazônia onde os incêndios continuam. A terra onde o povo de Francisco vive é protegida. Apesar disso, ele alega que sua tribo perdeu um total de 600 hectares de floresta durante vários anos, tanto para incêndios como para madeireiras ilegais e plantações muito lucrativas de árvores de castanha-do-pará.
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