​‘Sete Horas de Horror’: Arpoar Um Cometa Não É Fácil, Mas Vai Acontecer
Detalhe do cometa Rosetta no dia 30/10. Crédito: ESA

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​‘Sete Horas de Horror’: Arpoar Um Cometa Não É Fácil, Mas Vai Acontecer

Na próxima quarta-feira, uma espaçonave aterrissará lentamente na superfície de um cometa pela primeira vez na história.

Na próxima quarta-feira, uma espaçonave aterrissará lentamente na superfície de um cometa pela primeira vez na história. A Agência Espacial Europeia (ESA) lançará a Philae a partir da sonda espacial Rosetta na manhã de 12 de novembro, que descerá lentamente a um ponto cuidadosamente escolhido no cometa 67P/Churyumov–Gerasimenko.

Isso se tudo ocorrer de acordo com o planejado. Matt Taylor, o cientista de projetos da missão Rosetta, disse-me ao telefone que espera por um "aumento exponencial no estresse" enquanto a nave faz sua curta viagem. Em comparação ao rover planetário Curiosity que teve seus "sete minutos de horror" ao aterrissar em Marte, Taylor afirmou que neste caso seriam "sete horas de horror".

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Esta aterrissagem é a próxima grande etapa de uma missão que já tem uma lista impressionante de primeiras vezes. Após ter "acordado" em janeiro, a Rosetta foi a responsável por um marco em agosto ao ter se encontrado com o cometa. Para a próxima semana, todos os dedos estão cruzados para que a próxima missão também seja outro grande feito. "Este é um dos grandes feitos inéditos que faremos, que é a aterrissagem", disse Taylor.

A Rosetta deverá lançar o Philae por volta das 8h35, e a confirmação da aterrissagem deve chegar às bases terrestres da ESA por volta das 16h. Taylor me falou um pouco mais do que acontecerá durante esse período de tempo.

O cometa Rosetta. Crédito: ESA

"Temos uma série de marcos a serem atingidos até o desdobramento da aterrissagem", explicou. "Temos que observar se a determinação de nossa órbita está boa ou não, se a nave está em condições que consideramos boas o bastante – estes são os panoramas que darão os sinais para prosseguirmos ou não."

Por volta das 9h, se tudo estiver certo para seguir em frente, a Philae será lançada, e "alguns de nós ficaremos sentados ali sem ter o que fazer, esperando que a nave desça e chegue à superfície do cometa", disse.

O ato em si não é tão dramático quanto parece. No momento, a Rosetta plana ao lado do cometa em ritmo de passeio, e a Philae receberá um empurrãozinho para descer em uma velocidade semelhante, cerca de 1m/s, levada à superfície do cometa por uma fraca força gravitacional. Taylor disse que o gerente de projetos do Philae Stephan Ulamec comparou o impacto a "como esbarrar em uma parede: não te machuca nem causa danos em especial, mas você sabe que aquilo acabou de acontecer".

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Enquanto isso, a Rosetta rumará para uma órbita maior "para certificar-se de que não irá bater no cometa, ou de que se colocará em uma posição em que isto seria uma possibilidade".

A selfie da Philae. Crédito: ESA

No lançamento da Philae, sua câmera CIVA – já conhecida por ter tirado uma selfie da Rosetta em órbita – tirará uma "foto de despedida" da Rosetta enquanto a dupla toma caminhos diferentes, então uma câmera na parte inferior da nave começará a registrar imagens.

De acordo com Taylor, duas horas após o lançamento, a equipe terá dados de telemetria para o observar o que está acontecendo, até chegarem ao ponto principal que é saber se a nave aterrissou ou não.

Deixando o restante nas mãos do acaso, a aterrissagem em si será assistida pelos demais instrumentos da Philae. O experimento CONSERT – um dos muitos realizados durante a missão – envia ondas de rádio através do cometa para estudar seu núcleo. Estes sinais sofrem perturbações ao passarem pelo cometa, perturbações estas que devem ser detectadas pela Rosetta, e a observação destas mudanças dará aos cientistas mais informações sobre o interior do cometa.

Porém, Taylor explicou que ao observar o efeito Doppler dos sinais, eles também poderão rastrear a trajetória descendente do cometa. "Usaremos este experimento enquanto a sonda desce para observar a mudança no Doppler e observar o que o sinal está fazendo, então daí teremos uma ideia de como a nave está se comportando", afirmou.

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A Rosetta também rastreará a Philae de uma distância segura, e assim que ela aterrissar, ocorrerão um monte de reações. Dois arpões serão lançados para ancorar a Philae a um ponto específico do cometa, recentemente batizado como Agilkia, em referência a uma ilha no Rio Nilo.

Mas assim que a nave aterrissar e sua tropa de fãs de no Twitter puder respirar aliviada, é aí que a ciência começa. "Assim que chegarmos ao solo, faremos uma panorâmica para ver se Bruce Willis e a equipe dele estão ali, aí sim começaremos a fazer algumas das medidas investigativas de verdade", disse Taylor.

Tanto a fase de descida quanto de aterrissagem e a primeira sequência científica tem um prazo apertado: as três dependem do sistema de alimentação primário da nave. "Assim que a Philae for liberada da Rosetta, ela rodará com energia própria", declarou Taylor. "Há um tiquinho de energia solar que ajudará a regenerar as coisas, mas ela basicamente está limitada a cerca de 70 horas de vida útil com aquelas baterias".

Inicia-se um ciclo em que cada instrumento da Philae tem um turno para cumprir suas funções antes da sequência científica de longo prazo comece, esta usará baterias secundárias recarregadas por geradores solares. Aliás, este foi um dos principais fatores para se escolher Agilkia para aterrissar. Pode parecer que a "barriga" lisinha no cometa em forma de pato seria um bom lugar para se firmar, mas aquele lado só recebe cerca de quatro horas de luz solar por dia.

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QUEM SABE O QUE VAI ACONTECER? COMETAS SÃO UM TANTO QUANTO IMPREVISÍVEIS

A Rosetta já sentiu um tico do bafo espacial do 67P, mas a Philae é que realmente ficará íntima dele. Como descrito por Taylor: "Onde a sonda prova e cheira a coma, a atmosfera externa do cometa, que vem do núcleo, a nave em terra poderá chegar mais perto e realmente arranhar e cheirar aquilo".

A Philae deve durar até março, quando alguns de seus componentes começarão a esquentar demais para funcionarem corretamente. Mas o trabalho não termina ali; a Rosetta segue em frente. Ela atingirá o ápice de atividade no próximo verão quando começará a perder quilos e quilos de material e formar uma cauda como aquela que se espera de um cometa.

Há a chance de que ela se parta ao meio, o que de acordo com Taylor seria o tipo de coisa que mudaria a missão e limitaria o quanto de ciência eles poderiam de fato fazer. "Quem sabe o que vai acontecer?" disse. "Cometas são um tanto quanto imprevisíveis, e esse é o maior desafio tecnológico que tivemos com a missão, tentar aprender a conviver com uma coisa dessas."

Mas Taylor deu a entender que eles já tem alguns resultados "revolucionários" da missão Rosetta que estão sendo revisados agora, e destacou o fato de que a missão já forneceu uma base de dados sem paralelos sobre cometas. "Já coletamos mais dados do que nunca a respeito de um cometa, e a resolução é a melhor possível", declarou.

Torcemos aqui para que a Philae faça um pouso seguro e possa adicionar ainda mais a estes dados. Umas selfies espaciais massa não cairiam mal também.

Tradução: Thiago "Índio" Silva