O Cara que Transformou a Composição Química das Drogas em Arte
O artista Kelsey Brookes foca seu trabalho em como vemos a química. Crédito: Chase Cruz

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Tecnologia

O Cara que Transformou a Composição Química das Drogas em Arte

Kelsey Brookes dá cores e formas ao que não podemos ver.

Um grande problema aflige todos aqueles que escrevem sobre computação, física, criptomoedas, meio-ambiente e outros temas dentro dos ramos da tecnologia e da ciência: nem sempre é possível ver aquilo sobre o que escrevemos.

É claro que dentro dessas classificações existem os robôs, o espaço e a natureza; redes neurais de reconhecimento de imagem, a microgrofotografia e a fotografia de games. Mas às vezes não há nada a ser visto. Como é possível ajudar alguém a visualizar um bitcoin ou uma onda gravitacional? Para resolver esse problema, criamos ilustrações, diagramas, imagens 3D e muitas outras ferramentas que nos ajudam a melhorar a compreensão do leitor.

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Contudo, às vezes surge algo (ou alguém) que nos ajuda a ver o que não pode ser visto a olho nu. Psychedelic Space ("Espaço Psicodélico", em português), novo livro de Kelsey Brooke, oferece uma visão única de uma das áreas mais invisíveis da ciência: a química.

Brookes, ex-pesquisador do Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos Estados Unidos e da Genprobe, empresa especializada em diagnósticos moleculares, pintou quadros inspirados na fórmula estrutural de moléculas psicoativas como o LSD, a mescalina, o Oxycontin, o MD, os quaaludes, a Ritalina e a psilocibina. (Ou: a lista de compras de um final de semana normal.) Os quadros são representações estéticas de uma realidade que sabemos que está lá, mas que não podemos ver; expressões artísticas vibratórias, alucinógenas e chocantes nascidas de uma inspiração real.

Brookes começa cada uma de suas obras com um rascunho da estrutura molecular em grafite. Ele mapeia o espaço que cada átomo e ligação ocupam a tela. Em seguida, seu pincel usa essas marcações como pontos de partida e se radiam de dentro para fora em feixes de tons contrastantes.

Kelsey Brookes, "One-Pointed Attention." Crédito: Philipp Scholz Ritteman

O ensaio/lamento que abre o livro, de autoria de Hamilton Morris, analisa com mais exatidão a barreira entre ciência e expressão visual que Brookes rompe com tanta graça. Morris enaltece a microscopia de força atômica sem contato, a forma mais avançada de se ver estruturas moleculares, para em seguida admitir que ela é insuficiente.

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"Mesmo com todo seu poder, o microscópio não representa a molécula em sua totalidade, e só está disponível a um número limitado de químicos", escreve. "A missão de desenvolver uma compreensão pessoal do mundo invisível e de sua aparência será sempre um dos aspectos fundamentais da química,e, por extensão, do mundo físico."

Kelsey Brookes, "Serotonina, 2012." Crédito: Artscans Studio

As obras são como uma rave sob o efeito de ritalina. O esforço e o zelo depreendidos em cada pintura são impressionantes. Leitores mais metódicos podem comparar essas obras a uma versão inútil e sádica de Onde Está o Wally ou talvez a um autoestereograma que se recusa a revelar um pônei em 3D quando você desfoca o olhar. Há, porém, uma recompensa para aqueles que se deixam participar das obras de Brooke. Ao seguir aquelas linhas com o olhar, passamos a fazer parte do movimento inerente a cada quadro. Não pude controlar o impulso de procurar padrões nos redemoinhos, repetições que nasciam de pontos de origem, alcançavam o exterior e retornavam ao seu epicentro. Era quase uma meditação.

"Mescalina, 2012." Crédito: ArtScans Studio, Inc

A pergunta que ainda paira no ar, uma que não me incomodaria se nunca fosse respondida, é: qual seria a utilidade desses quadros? Na minha opinião, a licença artística de Brooke é mais uma exploração subjetiva do que um reflexo da estrutura diagramática ou das sensações geradas por cada uma dessas drogas.

Kelsey Brookes, "Psilocybin, 2012."

Quando deparado com a incômoda escuridão das pinturas dedicadas à psilocibina, alguém poderia se perguntar: é esta a sensação de comer cogumelos? Ou talvez essa seja a representação do momento em que você exagera na dose e o mundo fica meio bizarro? Você está dentro da vivência de Brooke, não do resto do mundo. Esse livro é mais um símbolo de liberdade do que uma cartilha, e isso é muito legal.

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O livro é muito bem feito.

O livro, que tem mais ou menos o tamanho e o peso de um machado, já demonstra em sua própria figura a união entre forma e função. Folhear suas páginas é como entrar numa good vibe e aprender a curtir as surpresas que surgem pelo caminho. O livro é um lindo exemplo de design, desde suas páginas transparentes que sobrepõem diagramas nas pinturas, páginas duplas e adesivos (!), a guia de cores, diagramas, insertos, entrevistas e ensaios de Ryan McGinness, Leonie Bradbury, Anthony Kiedis e Richard M. Doyle.

Kelsey Brookes, "LSD, 2012."

No fim das contas, as obras que compõem o livro Psychedelic Space formam uma visão original de um mundo invisível e são uma adição muito interessante à mesinha de centro de qualquer aspirante a psiconautas.

Psychedelic Space

de Kelsey Brookes

220 Páginas. Gingko Press.

Tradução: Ananda Pieratti