Escute a ciência: fone de ouvido caro não é garantia de som bom

Dizem que você recebe pelo quanto pagou. Ouvimos isso tantas vezes que já aceitamos como verdade. Mas quando o assunto é fones de ouvido, amigo, o que você paga nem sempre tem a ver com o que você leva pra casa.

Veja os achados de um estudo recém-publicado no The Journal of the Acoustical Society of America. Por meio de variados métodos, ele mediu a resposta de frequência de vários fones de ouvido a fim de determinar se há alguma correlação entre preço, tipo do fone de ouvido e a resposta de frequência. As descobertas falam por si mesmas. "Os resultados indicam que a nem a resposta medida, nem a tentativa de quantificar a qualidade percebida estão relacionadas ao preço", afirma o estudo.

Claro, não é a primeira vez que a ciência mostrou que um equipamento de som caro não é necessariamente o melhor. Quase nunca ouvimos falar disso porque os audiófilos que escrevem sobre equipamentos quase sempre são patologicamente avessos aos testes cegos.

A Home Theater Review publicou um artigo interessante sobre esse problema anos atrás. A Audio Engineering Society (Sociedade de Engenharia de Áudio) escreveu em 1994 que pesquisadores em Harmon, nos EUA, que queriam descobrir se as pessoas classificaram a qualidade dos fones de ouvido de modo diferente se pudessem vê-los. (Spoiler: sim.) Trata-se de um problema com os equipamentos de áudio – somos todos suscetíveis a um viés de confirmação. Se nos deparamos com um dispositivo que parece chique, ou que sabemos ser caro, isso vai maquiar nossa impressão da qualidade.

Testes de audição às cegas já foram tema de muito debate na comunidade de audiófilos; alguns gurus do som com frequência aparecem com desculpas duvidosas a respeito dos motivos para sua invalidação (quase sempre combinadas com uma completa falta de entendimento sobre o que significa um teste duplo-cego). Claro, é possível encontrar vários artigos implorando para que você não gaste dinheiro com cabos. A CNET tem um ótimo. O cético James Randi uma vez ofereceu um milhão de dólares a quem pudesse provar a superioridade de cabos de áudio de 7.250 dólares (ninguém conseguiu). Mas é difícil encontrar visões que não sejam enviesadas sobre caixas de som ou fones de ouvido.

O teste mais recente foi único a dar um passo adiante nos testes duplo-cegos de audição. Mediu a resposta de som com um método que conseguiu remover completamente as preferências de audição humana e as falhas. Os pesquisadores utilizaram uma cabeça especial acusticamente modelada com orelhas artificiais, embutidas com microfones, de modo a obter uma medição precisa, mas não específica de ouvinte para ver o quão variados são os fones de ouvido quando colocados em uma cabeça (com todas as mudanças acústicas implicadas).

Eles encontraram diferenças impressionantes. Os fones de ouvido internos, em média, têm melhor resposta de baixo do que os supra-aurais (que ficam na orelha) ou circumaurais (sobre a orelha). E os supra-aural têm uma resposta de frequência menos precisa do que os fones internos ou sobre as orelhas. Não importa o tipo, o preço dos fones não é um fator determinante em sua capacidade de reproduzir sons adequadamente.

Isso não quer dizer que você deve comprar os fones mais baratos que encontrar por aí. Alguns fatores que não foram medidos pelos pesquisadores, como qualidade de fabricação e o conforto, são muito importantes. Mas antes de gastar uma grana fodida, pergunte-se: estou pagando pela marca? É tudo marketing? Se o que esses fones de ouvido têm é uma propaganda cara, talvez você esteja pagando por ela, não pelo produto. Melhor dar uma olhada por aí antes de comprar.