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Tecnologia

​Mesmo que os Países Combatam as Mudanças Climáticas, Ainda Estamos Fritos

O MIT diz que cumprir as promessas da COP 21 não será suficiente. O que fazer?
Crédito: AIRS

Mesmo que todos os países que se comprometeram a diminuir suas emissões de carbono mantenham sua palavra, a temperatura mundial irá aumentar 3.5˚ C até o fim deste século. De acordo com um novo estudo do MIT Sloan Climate Interactive, ainda que se concretize o comprometimento de centenas de países, ainda estamos fadados a um aumento "catastrófico" na temperatura global. Isso se esses governos não decidirem unir essas medidas à iniciativas agressivas ou, vai saber, resolverem abrir mão delas.

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Em preparação para a COP 21 desse ano, evento considerado por muitos como a melhor oportunidade de firmar um acordo para controlar o aquecimento global, governos de todos os cantos começaram a apresentar suas metas nacionais de emissões voluntárias (INDCs, na sigla original).

É nesses documentos que cada país anuncia suas metas de redução de emissões de carbono — a Noruega, por exemplo, prometeu diminuir suas emissões de carbono em 40% até 2030. Os EUA esperam diminuir suas emissões de CO2 em 28% até 2025. Enquanto isso, a China mais uma vez atraiu olhares ao anunciar seu plano de alcançar a meta americana, além da criação de um sistema de comércio de emissões destinado a reduzir a poluição. Já o Brasil reduzirá a emissão de gases em 43%, tendo como base o ano de 2005.

Um dado importante sobre as mudanças climáticas é que, mesmo com todos esses planos de contenção no papel, marchamos rumo ao que os cientistas definem como um aquecimento alarmante. Para chegar a essa conclusão, a equipe do MIT uniu todas as metas enviadas para o evento e analisou o impacto total que teriam no aumento das temperaturas.

O estudo conclui que, caso cumpridas, essas metas farão uma grande diferença — podendo diminuir o aumento da temperatura em até 1˚C — mas que não impedirão que o termostato mundial aumente em 2˚C, número que representa o limite do que os cientistas consideram como aquecimento perigoso.

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O gráfico abaixo explica a situação:

Na parte de baixo, temos a linha dos "2˚C" — segundo os cientistas, essa é a meta na qual deveríamos nos focar para manter o clima do planeta estável. É um número bem grande — ainda mais considerando que já vivemos num aumento de quase 1˚C — mas ele poderia mitigar os piores efeitos do aquecimento global. Se atingirmos os 2˚C, o que provavelmente irá acontecer, muitos problemas surgirão — inundações no litoral, secas mais intensas, migração e a extinção de até 30% das espécies do planeta.

Mas passar dos 3˚C seria muito, muito pior. A linha vermelha do meio mostra o aumento de temperatura caso os países se atenham ao seus acordos e baixem as emissões de carbono. E, na marca dos 3.5˚C, esse aumento está muito além do limite.

A Skeptical Science, um site sobre ciência climática comandada por cientistas, oferece um resumo assustador do que o futuro pode nos reservar:

"Com um aquecimento entre 3–4°C, os corais irão definhar (nessas temperaturas, os corais viram carvão), e 40-70% das espécies mundiais entrarão em risco, o que nos levará em direção à sexta extinção em massa da Terra", explica a cientista ambiental Dana Nuccitelli.

"O derretimento das geleiras ameaçará o abastecimento de água da Ásia Central e da América do Sul. A possibilidade de emissões significantes de CO2 e metano vinda dos hidratos oceânicos e dos permafrosts pode acelerar o aquecimento global além do nosso alcance", continuou. Essa reação em cadeia pode acelerar o aquecimento do planeta em proporções nunca antes vistas.

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Crédito: IPCC

"Até o ano de 2100, a previsão é que o nível do mar suba um metro ou mais, com a possibilidade de desestabilização dos mantos de gelo da Groelândia e da Antártida, o que aumentaria a elevação dos oceanos e o risco de inundação das cidades costeiras."

Em outras palavras, estamos lidando com um desastre em escala mundial.

Mas a pior previsão é, logicamente, a que segue o ritmo de produção atual. As conferências climáticas não dão certo, ninguém entra em acordo e continuamos a queimar combustíveis fósseis como se estivéssemos em 1999. Se continuarmos a seguir a trajetória do status quo, podemos esperar um aumento de 4.5˚C até o fim do século. Esse cenário é catastrófico.

O Banco Mundial, uma instituição dificilmente descrita como liberal, publicou um relatório analisando as consequências de um mundo 4˚C mais quente: "as consequências de um aumento desta magnitude são devastadoras: inundação de cidades costeiras; riscos crescentes na produção alimentícia que resultará no aumento da taxa de subnutrição e desnutrição; regiões secas ficando mais secas, e as úmidas, mais úmidas; ondas de calor sem precedentes em alguma regiões, em especial nos trópicos; aumento da escassez de água em várias regiões; ciclones tropicais mais intensos; e perdas irreversíveis de biodiversidade, incluindo corais". Mais do mesmo, só que muito pior.

É bom lembrar que alguns cientistas afirmam que mesmo um aumento de 2˚C significaria um "desastre."

Mas vale a pena ver o lado bom dessa história: uma redução de 1˚C, número que os países prometeram atingir, é um grande feito, além de um grande passo à frente para o que já foi um processo de negociação agoniante, trabalhoso e improdutivo. Existem motivos para crer que, com os preços da energia renovável em queda, e com o espírito da cooperação internacional em alta, é possível nos manter na linha dos 2˚C.

Tradução: Ananda Pieratti