Esta startup chinesa fabrica o novo plug anal favorito dos americanos
Pense na Apple. Só que para sua bunda. Crédito: b-Vibe

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Esta startup chinesa fabrica o novo plug anal favorito dos americanos

Lançado no mês passado, ele foi projetado para ser o melhor vibrador anal de todos. Pense na Apple, só que para a sua bunda.

Na minha frente vejo uma boneca sexual corpulenta, de cabelo louro, sobre um colchão de ar. Atrás de mim, próximo à janela, há um enorme balanço sexual de cor preta. Por todos os lados, enxergo estantes de metal com consolos de ponta dupla, vibradores, plugs e manequins com lingerie em neon – um deles, sem cabeça, repousa sobre caixas de papelão. Dá para imaginar onde estou?

Na dúvida, esclareço: estou no oitavo andar de um prédio comercial de Guangzhou, na China, onde fica a sede do A&H Design Group, um desconhecido fabricante e distribuidor chinês de brinquedos sexuais que vem ganhando cada vez mais força nos EUA.

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"Algumas pessoas usam plugs anais quando estão trabalhando ou mesmo quando estão sem fazer nada por aí", diz Kat Weiss, uma das designers do grupo, ao esclarecer o porquê do sucesso de sua principal linha de produtos. Ela é a única entrevistada que concordou em ter o nome citado. Por mais que a equipe seja franca comigo sobre o trabalho, todos os outros pediram que seus nomes fossem mantidos em segredo por medo de que suas famílias soubessem da natureza de seus empregos.

Fora isso, a equipe enxuta composta por quatro millennialls é bastante jovial durante o encontro. São eles que penetram cada vez mais naquilo que chamam "mercado anal da América do Norte". O novo carro-chefe da A&H, explicam, é um brinquedinho anal chamado b-Vibe,composto de silicone, em diferentes tamanhos, com uma série de contas rotatórias em seu interior. Lançado no mês passado, ele foi projetado para ser o melhor vibrador anal de todos. Pense na Apple, só que para a sua bunda.

"Todo mundo quer experimentar – você tem um dia longo de trabalho em Hong Kong e, quando chega em casa, quer se divertir e relaxar"

A aposta no b-Vibe e tamanha que a empresa deixou de lado os distribuidores. A companhia acaba de vender o primeiro b-Vibe de forma direta a um cliente no Canadá, isto é, sem o auxílio de intermediários. A ideia é que mais pedidos ocorram em seguida.

Na sala de reuniões em que me encontro com a equipe, cada um dos tamanhos do b-Vibe – em um arco-íris de cores como rosa, roxo e azul – está exposto na mesa à minha frente, junto de seus respectivos controles Bluetooth. A embalagem já me encanta. Há um belo casal gay junto de outros casais hetero e homossexuais curtindo momentos íntimos.

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Para ajudar com sua campanha nas redes, o pessoal da A&H acaba de contratar John*, que será responsável pelo marketing online. Ele acredita que há, sim, um mercado para os produtos da A&H e quer vender todos diretamente pela internet.

"O que descobrimos que dá certo é quando as pessoas procuram por termos como 'rimming plug' e 'what is rimming' [Nota: rimming se refere ao famigerado beijo grego ou cunete em bom português] e aí aparecemos nos resultados. Isso leva a galera a pensar: 'epa, que produto é esse?'. Daí saem do nosso site e procuram por avaliações do b-Vibe", disse John. "Tem toda essa jornada até a compra."

Durante a etapa de testes, a empresa contou com a ajuda da sexóloga americana Alicia Sinclair, que usou o produto e deu seu feedback ao longo do processo. Alicia, que é membro da Associação Mundial de Coaches Sexuais, é a face pública da empresa hoje. Ela e outro sexólogo, Charlie Glickman, foram responsáveis pela criação de um panfleto sobre sexo anal responsável, distribuído junto do b-Vibe.

"Este produto não está disponível em nenhum outro lugar – não existem plugs anais com contas rotatórias", disse Sam*, gerente de design da empresa.

Dentre outros produtos populares fabricados pela empresa temos o Drilldo, um enorme consolo afixado a uma broca. "Dá pra usar qualquer consolo e broca da sua casa – fomos numa pegada faça-você-mesmo", disse Sam. O Drilldo vem ainda com óculos de proteção de plástico e uma roupinha de construção civil sensual feminina. Outro futuro lançamento é o Cow Girl, um brinquedinho não tão "inho" assim: um touro mecânico com um consolo bem no meio, também projetado na fábrica de Guangzhou – distante algumas horas de trem de Hong Kong, no continente chinês. Lá, no sul do país, os custos de fabricação costumam ser mais baixos.

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Em Hong Kong, onde a cultura cantonesa local é infinitamente mais conservadora do que nos EUA, acessórios sexuais vendem bem, independentemente de tabus. A empresa conta com uma rede de sete lojas chamada Pink Pussy Cat espalhadas pela cidade, vendendo seus produtos. E nem só de sexo vive a empresa – às vezes também vendem cafeteiras, kits para liquidificadores e até mesmo colchões, adquiridos com outro fornecedor.

"As pessoas são muito recatadas ao falarem de brinquedos sexuais porque acham que serão julgadas", disse John. "Todo mundo quer experimentar – você tem um dia longo de trabalho em Hong Kong e, quando chega em casa, quer se divertir e relaxar."

A embalagem dos apetrechos é criação de Weiss e Thomas*. Este último é mais um dos designers da firma, egresso de um cargo em uma agência especializada na web. "Tenho que ficar de olho nos esquemas de cores, formatos de ícones – as mesmas coisas de quando faço um site", diz. "Assim como é um site, o que importa é a imagem."

John e Sam ainda não contaram para suas famílias com o que trabalham e nem pretendem. "Quando meus pais vieram me visitar na fábrica em Guangzhou pedi pra esconderem tudo – eles não achariam nada legal se soubessem", disse Sam, que é de Bangladesh, na Índia, outro país em que falar sobre sexo é um tabu total.

"O lance todo com os pais rola porque [Sam] e eu somos do sul da Ásia", disse John, que também é de família indiana. "Se eu contasse pro meu pai que vendo brinquedos anais, ele provavelmente…", divagou.

Por mais que ele afirme que a transição do web design para projetar esse tipo de coisa não tenha sido lá grandes coisas, Thomas esconde o trabalho de sua família tradicional de Cingapura. Weiss, mesmo tendo aberto o jogo com a família, não deixa escapar detalhes sobre seu trabalho quando conhece alguém.

Nesse momento, porém, a barreira a ser superada nas vendas online não é cultural. É fazer com que as pessoas comprem um plug anal de 150 dólares no qual nunca tocaram ou viram. "Cu todo mundo tem, mas cada um cuida do seu", disse John. "E esse é o nosso maior desafio."

*Os nomes dos funcionários foram alterados.

Tradução: Thiago "Índio" Silva