O mundo é complicado demais para Trump, afirma a física teórica
Crédito: Gage Skidmore / Shutterstock. Remix by Jason Koebler

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Tecnologia

O mundo é complicado demais para Trump, afirma a física teórica

Um ramo emergente de sistemas matemáticos complexos sugerem, em termos frios e analíticos, que Donald Trump não é esperto o suficiente para ser presidente.

Muitos observadores políticos se uniram em torno de uma teoria bastante convincente que, afirmam, explica os esforços iniciais do presidente dos EUA, Donaldo Trump. Sem floreios: Trump é burro demais para ser presidente.

São julgamentos feitos por especialistas políticos, políticos, jornalistas e eruditos. Entretanto, existe também um ramo em ascensão de físicos teóricos e matemáticos que sugerem – em termos frios, analíticos e neutros – que esses eruditos estão corretíssimos.

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A hipótese não é simplesmente que Trump seja estúpido, mas que as sociedades humanas se tornaram complexas demais para que qualquer presidente dê certo, de acordo com Yaneer Bar-Yam, presidente do Instituto de Sistemas Complexos da Nova Inglaterra, que se associou ao MIT e Harvard. Ao deixar de preencher centenas de cargos de aconselhamento no Departamento de Estado, Departamento de Políticas para Ciência e Tecnologia e no braço executivo, Trump reduziu o número de pessoas para aconselhá-lo na tomada de decisões difíceis, colocando mais peso em um sistema já quebrado.

Suas promessas de soluções fáceis para problemas complexos – construir um muro, plano de saúde para todos, banir muçulmanos, deixar a América grande novamente – o torna atraente para um número grande de pessoas desiludidas com o governo. Mas agora ele está sendo destruído pelo sistema do qual faz parte.

"Ao acreditar em Trump como solução para os problemas que enfrentamos é um assunto sério, porque as pessoas têm expectativas que não são consistentes com os problemas estruturais que enfrentamos", Bar-Yam afirmou.

A complexidade da sociedade aumentou desde o início da civilização humana. Crédito: Yaneer Bar-Yam.

A área de estudos de Bar-Yam dedica-se a explicar por que o mundo é do jeito que é com grandes conjuntos de dados e supercomputadores. Busca, assim, separar a mensagem do ruído. Por exemplo: ele utilizou indexadores globais do preço dos alimentos para alertar a inteligência norte-americana de que a Primavera Árabe estava para acontecer poucos dias antes do ocorrido. Ele explicou que diversas regulamentações norte-americanas relativamente esotéricas e aparentemente sem conexão alguma levaram aos levantes que causaram as primeiras manifestações.

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Expliquei a hipótese de Bar-Yam sobre governo e matemática por trás dela com profundidade pouco antes das eleições, porém, a essência é que a sociedade chegou a tal ponto de complexidade que é complicada demais para a democracia representativa que temos hoje. O poder está concentrado em um número pequeno de indivíduos que não dispõem de capacidades cognitivas ou informações disponíveis para tomar decisões ponderadas com confiança.

Com essa estrutura em mente, ele afirma que qualquer presidente poderia fracassar em nosso sistema atual. Porém, Trump deixou o governo dos EUA menos distribuído e, logo, está colocando mais ênfase em instituições norte-americanas que se desenvolveram e se tornaram mais complexas ao longo da história.

"O desafio básico é que ainda temos que aprender quais serão os verdadeiros impactos de nossas decisões."

O congelamento nas contratações de Trump, por exemplo, deixou em aberto milhares de cargos de especialistas em política ao longo do executivo. De modo desconcertante, a administração não preencheu praticamente 200 cargos no Departamento de Estado, o qual, normalmente, seria preenchido com especialistas políticos que compreendem as maquinarias políticas. Isso significa que as decisões a respeito de políticas domésticas e globais estão sendo feitas por Trump e seus conselheiros mais próximos, em oposição a um sistema lateral de especialistas que o aconselha. Relatórios sugerem que Trump também toma decisões no calor do momento, dispensando conselhos e planejamento de alguns de seus conselheiros mais próximos.

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"Em grande escala, essa tomada de decisões está limitada a alguns indivíduos, e a complexidade de possíveis tomadas de decisões está limitada à complexidade daquela equipe", me contou Bar-Yam. "A necessidade de distribuir a tomada de decisões ao redor do governo é peça-chave para tomada de decisões mais eficaz."

O C-individual é o ponto no qual um indivíduo não consegue, efetivamente, tomar decisões. Democracias representativas não são hierarquias estritas, apesar de ainda centralizarem o poder em alguns poucos indivíduos (o modelo "híbrido"). Bar-Yam sugere que a sociedade precisará de um processo de tomada de decisões com foco maior em equipes a fim de lidar com a complexidade das sociedades de seres humanos.

Os ataques de Trump à soberania dos tribunais e a hesitação do Congresso em pressionar Trump solapam a complexidade do sistema constitucional instaurado pelos pais fundadores dos EUA, levando-nos a uma forma rudimentar de governo, menos preparada para enfrentar os desafios de uma sociedade globalmente conectada.

"O controle mútuo feito pelas repartições governamentais é uma parte importante do sistema, o qual cria mais complexidade, e o compartilhamento mútuo da tomada de decisões", afirmou. "No momento em que esse sistema não está sendo usado ativamente, há uma simplificação da tomada de decisões. Genericamente falando, as ditaduras são melhores do que a desordem, mas a democracia é melhor do que a ditadura. Queremos substituir esse sistema com outro que seja mais eficaz, não o contrário."

O próprio Trump assumiu que não estava preparado para a complexidade da tarefa de governar os EUA em 2017: em abril, ele contou à Reuters que "achou que seria mais fácil". Em fevereiro, ele disse "Ninguém poderia imaginar que a saúde pública seria tão complicada".

"Esse é um clássico exemplo da interpretação inadequada da natureza da complexidade", Bar-Yam afirmou. Com a saúde pública, ele diz que os políticos estão discutindo soluções – um único provedor ou o sistema regulamentado pelo mercado – sem o conhecimento do sistema de saúde, que é resultado de diversos dados e políticas ao longo de todos os setores do governo norte-americano.

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"Os problemas fundamentais com os planos de saúde ocorrem porque se trata de um sistema complexo. Não podem ser resolvidos por meio de escolhas simples – deve-se reestruturar totalmente o sistema com soluções individuais para os indivíduos específicos a cada uma delas."

"No ambiente em que vivemos, a complexidade aumenta progressivamente e é basicamente nesse cenário que estamos tomando decisões aleatórias."

Conversar com Bar-Yam é, ao mesmo tempo, alentador e desconcertante – suas afirmações de que os sistemas governamentais ao redor do mundo não funcionam simplesmente porque o mundo é complicado demais para que meia dúzia de pessoas tomem decisões políticas acertadas faz tanto sentido quanto qualquer outra explicação apresentada. Mas se trata de uma hipótese que também não tem uma solução fácil – se ele estiver correto, não podemos simplesmente cassar ou eleger outra alternativa para a bagunça, nós teríamos que, literalmente, escrever uma constituição nova que permita mais equipes de especialistas políticos tomar decisões para um país sem recair no autoritarismo ou no caos total.

Ao longo dos anos, criamos soluções "tampões" para essa falta de complexidade dentro do atual sistema – é por isso que com o presidente Obama e administrações anteriores houve tantas forças-tarefas para a criação de política, comissões e painéis. Porém, Bar-Yam afirma que, enquanto esse tipo de equipe tem a habilidade de fazer o governo funcionar melhor dentro do sistema existente, o poder de tomada de decisão final ainda cai no gargalo de algumas poucas pessoas. Em uma situação ideal, as equipes que ele imagina teriam o poder de aprovar políticas.

"É importante reconhecer que a revolução violenta é regredir em vez de progredir – não é possível criar uma estrutura complexa rapidamente", afirmou Bar-Yam. Ele também sugere que a divisão entre esquerda e direita existente nos EUA e ao redor do mundo é uma tentativa de desviar a importância da questão. O problema real é que praticamente não sabemos quais serão os resultados das decisões políticas.

Estamos indo rapidamente em direção a um mundo tão complexo que os políticos não serão capazes de antecipar os resultados de suas decisões, o que significa que haverá uma menor divisão entre direita e esquerda: "No ambiente em que vivemos, a complexidade aumenta progressivamente e é basicamente nesse cenário que estamos tomando decisões aleatórias. A importância de compartilhar a tomada de decisões aumenta com o tempo. A diferença entre a tomada de decisões por um adulto e por uma criança está diminuindo", afirmou.

"As pessoas podem ter valores diferentes e buscam objetivos diferentes, mas a decisão sobre o que você deseja cria políticas que não atingem o que você intenta, não importa quais são seus valores ou ideologia – você é simplesmente ineficaz", afirmou. "O desafio básico é que ainda temos que aprender quais serão os verdadeiros impactos de nossas decisões.