Um super Ad-Blocker criado em Princeton promete acabar com a guerra entre publicitários e bloqueadores
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Um super Ad-Blocker criado em Princeton promete acabar com a guerra entre publicitários e bloqueadores

Pesquisadores criaram um bloqueador de anúncios que usa a visão computacional para burlar anti-bloqueadores de propagandas.

Numa tentativa de dar fim à guerra entre publicitários e bloqueadores de anúncios, uma equipe de pesquisadores das Universidades de Princeton e Stanford, nos EUA, acaba de revolucionar o conceito de ad-blocking. Além de ser extremamente leve, o bloqueador de anúncios criado por eles burlou scripts anti-adblock em 100% dos testes e, de quebra, barrou as propagandas do Facebook que nunca haviam sido bloqueadas.

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O software, idealizado por Arvind Narayanan, Dillon Reisman, Jonathan Mayer e Grant Storey, é inovador em dois níveis: em primeiro lugar, ele parte da ideia de que o conflito entre anunciantes e ad-blockers é uma questão de segurança comparável ao embate entre antivírus e malwares, já que muitos adotam técnicas derivadas de rootkits para bloquear propagandas sem ser detectado. Em segundo, a equipe afirma que existem leis que protegem os consumidores — e que não podem ser facilmente alteradas —, o que abre as portas para uma política efetiva de bloqueio de anúncios.

A Comissão Federal do Comércio dos Estados Unidos exige que propagandas sejam claramente rotuladas como tal, o que dá aos consumidores — e, agora, aos bloqueadores de anúncio — uma grande vantagem. A equipe utilizou diversas técnicas de visão computacional para detectar anúncios da mesma forma que um humano identificaria, um procedimento chamado "bloqueio de anúncios perceptivo". Como os anunciantes são obrigados a seguir essa regra, os autores da pesquisa acreditam que, no fim, os consumidores — e, é claro, os ad-blockers — irão sair ganhando.

"Diferentemente do comportamento de um malware, o comportamento de anunciantes e dos ad-blockers é, e continuará sendo, pautado por regulamentos", afirmam os pesquisadores no artigo. "Um ambiente jurídico favorável e a existência de navegadores que aceitem extensões que bloqueiam anúncios são dois fatores que podem favorecer os consumidores."

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A equipe simulou o conflito entre anunciantes e ad-blockers, passando pelo estágio de agravamento das tensões até a tranquilização dos ânimos.

O bloqueio de anúncios é uma questão com muitos desdobramentos éticos — em especial para os jornalistas cujos salários são pagos, em grande parte, pela publicidade digital. A ascensão do malvertising, do monitoramento invasivo e de scripts que podem afetar o desempenho do seu navegador criou fortes argumentos a favor do bloqueio de anúncios (um estudo publicado há algum tempo revelou que propagandas e scripts desaceleram o desempenho de páginas da internet em até 44%). Por outro lado, a publicidade permite que empresas como a VICE continuem abertas, e a prática do ad-blocking já trouxe prejuízos significativos para revistas digitais.

Embora os pesquisadores não tenham feito nenhuma afirmação ética sobre o uso de ad-blockers, eles acreditam que as relações entre anunciantes, editores e leitores devem mudar.

"O grande problema da propaganda digital é a divergência de interesse — não apenas entre usuários e anunciantes, mas também entre editores e anunciantes", disse Narayanan ao Motherboard por email. "Descobrimos que os editores estão incomodados com o crescimento da publicidade direcionada e preocupados com a segurança de seus leitores, mas eles não têm muito controle sobre a tecnologia usada na publicidade. Se quisermos uma solução a longo prazo, precisamos acabar com este desequilíbrio de poder ."

Uma versão demo do ad-blocker já está disponível; no entanto, ela ainda não é totalmente funcional (em outras palavras, ela só detecta propagandas, mas não as bloqueia). "Para evitar tomar partido nessa discussão ética, decidimos não disponibilizar uma demo completamente funcional — a versão disponível foi configurada para detectar propagandas, mas não bloqueá-las", disse Narayanan.

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É por causa dessas identificações — que são exigidas por lei — que o bloqueio de anúncios perceptivo funciona.

Graças às duas partes envolvidas no conflito — uma comunidade de desenvolvedores de ad-blockers e editores que dependem de propagandas para se sustentar — a corrida do ad-blocking se tornou mais complexa ao longo dos últimos anos. Atualmente, bloqueadores de anúncios como o Adblock Plus e o uBlock Origin detectam o código utilizado na maioria dos anúncios. No entanto, URLs e códigos de markup comumente utilizados em propagandas são compartilhados em listas de código aberto criadas por publicitários.

Isso significa que anunciantes e editores podem alterar o código de seus anúncios a qualquer momento, burlando a vigilância desses ad-blockers. Esse tipo de ad-blocking é facilmente detectado por anti-bloqueadores de anúncios, presentes em mais de 50 sites de notícia populares. Além disso, os ad-blockers tradicionais não bloqueiam anúncios nativos, o que explica porque seu ad-blocker é incapaz de detectar e bloquear os posts patrocinados que aparecem no seu feed do Facebook.

O ad-blocking perceptivo, por outro lado, não usa esses códigos. Em vez disso, usa um sistema que envolve reconhecimento de caracteres, técnicas de design e busca de containers (os quadradinhos onde os anúncios geralmente são colocados) para detectar palavras como "patrocinado" ou "anúncio", que, segundo a lei, devem aparecer em todo anúncio digital. Essa habilidade permite que esse novo ad-blocker detecte e bloqueie anúncios no Facebook.

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Ad-blockers tradicionais usam códigos comumente utilizados em anúncios para impedir que eles sejam carregados.

"Desde que os padrões de divulgação sejam seguidos, um ad-blocker perceptivo terá 100% de sucesso em identificar anúncios que aderirem a esse padrão", escrevem os pesquisadores. Como novos padrões de divulgação têm que passar por um processo legal antes de serem aprovados, é justo dizer que eles são menos voláteis do que os códigos utilizados nos anúncios.

Para burlar os anti-bloqueadores de anúncio, os pesquisadores utilizaram técnicas comumente empregadas em rootkits, softwares que, embora mais utilizados por hackers, podem ser usados para "acobertar as atividades" desse novo bloqueador de anúncios. Isso acontece porque as extensões de um navegador recebem mais "privilégios" do que os detectores de ad-blocking.

Uma outra técnica proposta pelos pesquisadores — mas não utilizada na pesquisa — é ainda mais impressionante. Essa técnica permitiria "criar duas cópias da página, uma vista pelo usuário (e na qual o ad-blocker é usado) e outra na qual o código do site funciona normalmente, garantindo que o conteúdo da página passe de uma dessas cópias para a outra em uma via de mão única".

Temos aqui, portanto, uma pesquisa que anuncia o fim da guerra entre ad-blockers e anunciantes. Cabe agora aos editores planejar um contra-ataque.

Tradução: Ananda Pieratti