FYI.

This story is over 5 years old.

Tecnologia

​Eis por que Martin Shkreli, o "CEO mais odiado do mundo", foi preso

Lembra do cara que comprou um medicamento para HIV e elevou seu preço às alturas? Ele rodou por fraude financeira.
Martin Shkreli sendo mantido em custódia. Crédito: AP/ Craig Ruttle

As autoridades americanas revelaram, na tarde de quinta, mais infos sobre a prisão de Martin Shkreli, o CEO de uma farmacêutica milionária que atraiu a ira pública depois de comprar um medicamento de tratamento para HIV e aumentar – e muito – seu preço. O americano foi preso na manhã de ontem junto de seu ex-advogado Evan Greebel com sete acusações de fraude por operar aquilo que os investigadores chamaram de um "golpe estilo Ponzi" por meio de suas empresas de fundos de cobertura.

Publicidade

"As acusações destacam a audácia e amplitude do esquema de Shkreli e a ultrajante rede de mentiras e enganação tecida por ambos os réus: Shkreli e Greebel", afirmou o promotor federal Robert Capers em coletiva de imprensa.

Há alguns meses, Shkreli acendeu um debate público sobre a indústria farmacêutica privada quando sua empresa, Turing Pharmaceuticals, comprou o Daraprim, um medicamento usado no tratamento de HIV. Há muito o Daraprim custava US$ 13,50 por pílula – não era barato, mas estava ao alcance financeiro. A empresa então subiu o preço para 750 dólares (!) por dose, o que levou as pessoas a chamarem Shkreli, de 32 anos, de "lixo humano" a "homem mais odiado dos EUA".

Mas, muito antes de chamar atenção pela alta no preço, Shkreli tocava alguns fundos de cobertura e, por causa da administração deles – não por sua empresa farmacêutica, ressaltemos –, foi acusado de atos ilegais. Por meio de recursos visuais, Capers e representantes do FBI e a Comissão de Segurança e Câmbio e deram mais detalhes das alegações dispostas no processo de 30 páginas aberto antes da acusação formal de Shkreli.

Eis o fundamento da acusação dos federais: Shkreli era dono de um fundo de cobertura chamado MSMB Capital, fundado em 2009. Os investidores colocaram seu dinheiro ali (como fazem com fundos desse tipo), mas Shkreli, segundo as autoridades, perdeu ou gastou quase tudo no primeiro ano.

"O Sr. Shkreli gastou, prevaricou ou perdeu por meio de péssimas decisões comerciais tudo com exceção de 331 dólares dos cerca de 660.000 investimentos [iniciais] obtidos" afirmou Andrew Ceresney, diretor de fiscalização da SEC.

Publicidade

Ao longo dos anos seguintes, os investigadores alegam que Shkreli obteve cerca de 3 milhões de dólares por meio da MSMB Capital, mas perdeu quase tudo.

"Ele não disse aos investidores que havia perdido seu dinheiro", declarou Capers. "Em vez disso, Shkreli montou um novo fundo chamado MSMB Healthcare, em 2011. Novamente ele mentiu para os investidores: ocultou o fato sobre seu desempenho anterior na MSMB Capital e o detalhe de ter perdido 3 milhões".

Com o novo fundo, Shkreli conseguiu cerca de 5 milhões de dólares, de acordo com os investigadores, e continuou dizendo a investidores em ambos os grupos que o dinheiro estava rendendo. Alega-se que Shkreli tenha usado o dinheiro da MSMB Healthcare para pagar dívidas relacionadas às decisões erradas tomadas com a MSMB Capital, bem como capital inicial para a Retrophin, a farmacêutica que fundou em 2012.

Gráfico apresentado pelo Departamento de Justiça ilustrando a fraude de Shkreli

Os promotores afirma que Shkreli então usou secretamente lucros da Retrophin para pagar os acionistas de ambos os fundos e contou com a ajuda de Greebel para encobrir tudo da diretoria da Retrophin.

As alegações feitas até então podem levar Shkreli a 20 anos na cadeia. O golpe como todo é uma intricada rede – e, claro, até o momento não foi comprovada no tribunal – e os investigadores jogaram alguma luz sobre ela durante coletiva de imprensa. Mas restam muitas dúvidas. O que aconteceu com o dinheiro que Shkreli supostamente gastou ou perdeu? Haviam mais envolvidos – como os anônimos "funcionário corrupto 1" e "funcionário corrupto 2" na acusação? Os débitos remanescentes contribuíram em sua decisão de aumentar o valor daquele medicamento em 50 vezes? Os investigadores não deram muitos detalhes, em parte por que ainda estão investigando Shkreli.

Publicidade

"Estamos acompanhando a investigação onde quer que ela nos leve. Não comentaremos o que está sendo investigado ou como", disse Capers. "Isso pode ou não levar a novas prisões."

Durante a acusação formal de Shkreli, o cômodo logo foi preenchido, e espectadores e membros da imprensa que não tinham onde sentar foram pedidos a se retirar.

Shkreli deixando o tribunal. Crédito: Rachel Pick/Motherboard

Shkreli chegou de camiseta preta e jeans. Tanto ele quanto Greebel se declaram inocentes e concordaram com as fianças de 5 e 1 milhão de dólares, respectivamente. Ambos já entregaram seus passaportes ao FBI.

O juiz leu ainda uma condição do acordo de fiança em que Shkreli e Greebel não deveriam ter contato com atuais ou antigos funcionários da Retrophin, mas como alguns destss trabalham na Turing Pharmaceuticals no momento, ele estaria disposto a abrir uma exceção em tais casos – as conversas devem se restringir a assuntos ligados à Turing, porém.

Ambos os réus pediram dispensa entre agora e 20 de janeiro, próxima data em que devem comparecer ao júri. (Como o direito a um julgamento rápido determina um período máximo de 70 dias até que os réus sejam trazidos ao tribunal, alguns optam por atrasar o começo dessa contagem a fim de ganhar mais tempo para montar uma estratégia de defesa.) A dispensa foi concedida.

Do lado de fora do tribunal, jornalistas e fotógrafos esperavam por Shkreli em meio à chuva forte. Assim que ele apareceu, tudo ficou uma loucura. Shkreli não respondeu a nenhuma das perguntas.

Tradução: Thiago "Índio" Silva