Este site de assassinos de aluguel é o mais elaborado golpe da deep web
Crédito: Tobias Michaelsen/Flickr

FYI.

This story is over 5 years old.

Tecnologia

Este site de assassinos de aluguel é o mais elaborado golpe da deep web

Besa Mafia, um serviço de uma suposta gangue albanesa, faz propaganda, incendeia carros e ameaça pessoas online com uma só intenção: fazer com que as pessoas gastem seus bitcoins.

A deep web está cheia de golpes e trapaças, mas nada é tão engenhoso quanto o site de assassinos de araque Besa Mafia. O endereço, ainda ativo, oferece serviços de "pistolagem" – uma espécie de mediador entre clientes e assassinos de aluguel.

"Se você quer matar alguém, ou encher de porrada, somos os caras certos pra isso", anuncia o site. "Temos assassinos profissionais espalhados por todo os EUA, Canadá e Europa, e você pode contratá-los facilmente." O grupo afirma ser nativo da Albânia.

Publicidade

Print do site

Embora muitos já suspeitassem que o site era fraudulento, a empresa Risk Based Security relatou na semana passada que dados hackeados e postados na internet esclareciam os bastidores das negociações. Em meio aos dados estava uma suposta lista de "pistoleiros", fotos de alvos enviadas por clientes, pedidos feitos pelo site e um tantão de mensagens que teriam sido trocadas entre usuários e administradores da página. Tudo levava a crer que nenhum assassinato havia sido consumado.

Por mais que o site certamente seja uma fraude – e das lucrativas – o esforço envolvido na mentira faz com que o Besa Mafia se destaque em relação a qualquer outra coisa na deep web. Envolve, afinal, uma máquina de propaganda, vários adoradores da farsa, resenhas compradas e ameaças offline. Sem dúvida, o mais elaborado golpe das profundezas da internet.

***

De acordo com o site, os clientes em potenciais se cadastram, enviam informações de seus alvos e então fazem suas escolhas a partir de uma lista de serviços. Assassinatos custam entre US$ 5 mil a US$ 200 mil; fazer a morte parecer acidente custa US$ 4 mil extras; uma surra sai por 500 paus; já atear fogo no carro da vítima custa milzinho.

Qualquer um disposto a se tornar um assassino de aluguel pode se cadastrar no site também. Lá precisa especificar como pode matar outras pessoas – com uma pistola ou rifle de precisão, por exemplo – e se possui algum treinamento militar.

Publicidade

O objetivo do site é claro: fazer com que as pessoas gastem suas bitcoins. As mensagens mostram o administrador enrolando um monte de clientes, tomando grana deles e dando várias desculpas para justificar o fato de que nada aconteceu.

"Estes caras faturaram pelo menos 50 bitcoins [cerca de US$ 23 mil só nisso", disse Chris Monteiro, pesquisador independente que tem acompanhado o site. Junto de um colega, ele também hackeou o Besa Mafia e segue coletando mensagens, mas não comentou se é o responsável pelos dados vazados anteriormente.

Em uma das mensagens vazadas, o administrador do site escreve que o site não se limita a enganar as pessoas para roubar suas bitcoins; ele também fornece informações às autoridades sobre pedidos de assassinato.

"Este site foi criado para tirar dinheiro de criminosos. Nós os denunciamos por dois motivos: para acabar com os homicídios, o que é moral e correto; e para evitar acusações de conspiração para assassinato ou associação para assassinato, caso sejamos pegos", afirma.

A marca Besa Mafia não está isolada ao seu próprio site. Ela se espalhou pela web, com avaliações de seus assassinatos, com chamadas para combater o serviço online e com os administradores do Besa Mafia intimidando os céticos pela internet.

Em 17 de abril, alguém editou a página da Wikipédia em inglês da "Máfia albanesa" e adicionou a informação de que "a Máfia Albanesa é administrada por um controverso site na Deep Web em que recebem pedidos do público em geral para a prestação de serviços como agressão, atear fogo a carros, assassinatos etc.".

Publicidade

Claro que qualquer um poderia ter feito essa edição, o que vale também para as avaliações positivas do site espalhadas pela rede. Uma dessas notas postadas em um blog pessoal e supostamente escrita por um cliente satisfeito inclui a foto de um homem coberto de sangue no banco do motorista de um carro. Em 800 palavras, ele explica de forma meio desconexa, ainda que detalhada, como a Besa Mafia o ajudou a matar o homem que havia estuprado sua namorada.

"Vi que eles também tem gente que assassina por dinheiro e fiquei impressionado ao ver que o preço era muito baixo: apenas US$ 5 mil", escreveu o cliente. Outro usuário conta como foi atropelado e contratou a Besa Mafia para incendiar o carro do culpado.

A Besa Mafia também promoveu uma campanha de indicações em que os usuários compartilhavam um link para ganhar missões. Sempre que alguém que se inscrevesse no site, ganhariam 10% do valor da transação do cliente.

Como resultado da propaganda, houve aqueles que se revoltaram. Alguns sites revelaram que estavam atrás de pessoas para combater o grupo. "Eles estão na rede há algum tempo e não há reclamações, então não seja preguiçoso e diga que se trata de fraude. É ótimo desencorajar as pessoas ao falar que se trata de um golpe, mas melhor ainda é a verdade de que eles são reais e precisamos fazer o que for preciso para encerrar suas atividades", dizia o anúncio do Texas publicado no site de classificados Reachoo.

Publicidade

Outros, compreensivamente, se mostraram mais céticos. Monteiro o denunciou como falso lá em fevereiro, o que o levou a ser contatado por um administrador do Besa Mafia. "Seria possível que lhe pagássemos por uma avaliação honesta e positiva?", disse o administrador, de acordo com Monteiro. Outra pessoa que havia postado comentários negativos sobre a Besa Mafia e pediu para permanecer anônima disse ter recebido 50 bitcoin após remover tais comentários.

Monteiro não deu a mínima. Pouco depois, o administrador lhe enviou um vídeo de encapuzados incendiando um carro, com o endereço do blog de Monteiro digitado em um papel. O mesmo aconteceu com quem mais havia postado comentários negativos sobre a Besa Mafia; pelo menos três vídeos foram feitos, com veículos em chamas, todos acompanhados de mensagens direcionadas para quem havia falado mal do grupo.

"Sendo bem sincero, me senti intimidado", disse Monteiro ao telefone.

Mas os dados hackeados lançam alguma luz sobre os atos. Ao que tudo indica, eles podem ter sido forjados como parte de um intricado plano para fazer com que a Besa Mafia pareça ser coisa séria mesmo.

De acordo com as mensagens, as pessoas queimando os carros eram candidatos a "pistoleiros" que esperavam conseguir trabalhos por meio do site.

"No momento, precisamos de sua ajuda para incendiar carros", disse o administrador a um suposto candidato. Em outra mensagem, deixou instruções específicas para o vídeo: escolha um carro normal, não muito barato ou caro, leve para fora da cidade, escreva o endereço da Besa Mafia em um pedaço de papel, incendeie o carro, afaste-se cerca de 10 metros e mostre o papel para a câmera de novo.

Publicidade

A fim de verificar a legitimidade dos dados hackeados, tentei entrar em contato com os usuários mencionados por meio do sistema de mensagens do site da Besa Mafia. De 22 mensagens enviadas, apenas cinco foram enviadas com sucesso, o que indica que as contas podem ter sido apagadas ou que nunca existiram. Nenhum dos supostos clientes e assassinos do site respondeu meus e-mails. Não pude confirmar a veracidade de todas as mensagens incluídas nos dados vazados, mas algumas continham detalhes de transações com bitcoin que batiam com as registradas no blockchain.

Já a pessoa – ou as pessoas – por trás da conta de administrador do Besa Mafia declararam em mensagem a mim que os dados hackeados eram falsos.

"Alguém conseguiu roubar a senha de um nossos prestadores de serviços, tendo acesso a uma lista de clientes postando ofertas de trabalho; dali em diante ele inventou e escreveu diversas mensagens fictícias entre administradores e usuários", afirmaram.

O administrador disse que não pagariam mais para as pessoas removerem avaliações negativas. Em vez disso, afirmaram: "queimaremos seus carros e casas; ao fazer isso provaremos que somos reais e que eles deveriam apagar seus comentários ou queimaremos mais".

***

A natureza multifacetada e intrincada deste golpe – de fazer com que pessoas queimem carros a pagar críticos para ficarem calados – é diferente de tudo que já vi na deep web. Talvez mais preocupante seja o fato de que parece haver uma demanda para este tipo de serviço.

Como me disse a pessoa paga para apagar seus comentários negativos, "só é preciso um idiota cair nessa para fazer valer".

Tradução: Thiago "Índio" Silva