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Tecnologia

O rio Tietê nunca esteve tão longe de ser despoluído

Não bastasse o descaso histórico, agora as áreas de proteção ambiental estão sendo liberadas para exploração de empresas.

Segundo o Ministério Público de São Paulo, o secretário de meio ambiente do estado de São Paulo, Ricardo Salles, ajudou a alterar o plano de proteção ambiental do rio Tietê para favorecer empresas ligadas à Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). A Fundação Florestal, ligada à secretaria, afirma que houve alterações no texto do zoneamento de modo a permitir atividades que antes eram proibidas na chamada Área de Proteção Ambiental, como a mineração.

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Rio limpo na nascente

Em primeiro lugar, é preciso entender que, mesmo sendo um rio poluído quando chega à cidade de São Paulo, o Tietê tem um papel ambiental importante desde sua nascente até chegar à capital paulista. De sua nascente, em Salesópolis, até Suzano, a água tem qualidade razoável. A partir daí, esgoto doméstico, dejetos industriais e agrotóxicos transformam o Tietê na sopa tóxica e morta que os paulistanos conhecem tão bem.

Tentativa de proteção

Por isso, foi criada em 1983 a chamada Apa, Área de Proteção Ambiental. O objetivo, segundo o governo do estado, é "a proteção das áreas remanescentes de vegetação natural, nas quais ocorrem espécies da fauna e flora local que são essenciais para a preservação do rio Tietê, além do patrimônio histórico e arquitetônico do município de Tietê". A versão mais recente dessa área foi elaborada pela USP em 2013 e estava aprovada pela Comissão Técnica de Biodiversidade do Consema (Conselho Estadual do Meio Ambiente). Para haver qualquer mudança, a sociedade deveria ter sido consultada.

Mudanças às escuras

As alterações nos mapas teriam sido a portas fechadas, segundo Leandro Leme, promotor do Grupo de Atuação Especial do Meio Ambiente. Isso teria acontecido porque o que a Fiesp pedia já havia sido rejeitado pela Comissão Técnica de Biodiversidade. O secretário Ricardo Salles nega as acusações e afirma que há um erro de interpretação do caso causado por um ex-funcionário insatisfeito .

Bilhões para limpar

Pelo menos desde 1992 existem projetos para a recuperação do Tietê. Estima-se que o estado de São Paulo já gastou mais de US$ 3,6 bilhões (cerca de R$ 11 bi, em valores atuais) tentando despoluir o rio, sem sucesso. O problema é tão grave que a própria Sabesp, empresa que deveria zelar pela saúde do rio, é acusada de despejar esgoto nas águas do Tietê, segundo acusação feita pelo Ministério Público de São Paulo em 2012.

Esgoto não-tratado

Um dos principais poluentes é o esgoto doméstico, que é despejado sem tratamento e corresponde a 60% da sujeira. Os outros 40% estão divididos entre dejetos industriais, agrotóxicos e detritos vêm de córregos (como lixo, sofás e outros resíduos sólidos). Por conta disso, um trecho de 137 quilômetros é chamado de "morto", isto é, não tem condições de abrigar vida.

Margens peladas

Uma análise publicada em 2016 mostrou um problema pouco considerado quando se trata do Tietê: a falta de vegetação nativa nas margens do rio. Hoje há apenas 7% da cobertura vegetal original (originária da Mata Atlântica). O levantamento, feito pela SOS Mata Atlântica, mostrou que sem a proteção dessas plantas, o Tietê sofre com erosão, assoreamento e invasão de detritos levados pela chuva.

A Páscoa do Tietê não chega

Há pelo menos 25 anos as autoridades paulistas alegam estar se esforçando para salvar o Tietê e devolvê-lo à população. Antes, o rio era um centro de lazer onde se podia nadar, remar e observar a paisagem urbana. Décadas e bilhões depois, é difícil acreditar que o Tietê esteja próximo de ressuscitar.

Diogo Antonio Rodriguez é jornalista e editor do meexplica.com. Na coluna Motherboard Destrincha, ele resume os assuntos mais intrincados da ciência e da tecnologia. Siga-o no Twitter.