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Tecnologia

Está acontecendo: cientistas criaram um embrião humano geneticamente modificado

E agora?

Pesquisadores de Portland, no estado de Oregon, nos Estados Unidos, utilizaram o CRISPR, uma ferramenta poderosa de edição de genes para criar embriões humanos geneticamente modificados, conforme relatou a MIT Technology Review, na quarta-feira, com exclusividade. Trata-se do primeiro caso confirmado de edição genética em embriões humanos nos EUA, aproximando os cientistas da capacidade de criar seres humanos alterados geneticamente.

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Mas antes, um pouco de contexto. O CRISPR, muitas vezes comparado à função de copiar e colar dos processadores de texto, é uma técnica de engenharia genética poderosa e recente, que permite aos cientistas realizar alterações específicas no DNA de uma planta, animal ou ser humano. Relativamente barata e fácil de ser utilizada, os cientistas afirmam que podem controlar essa ferramenta poderosa para curar uma série de doenças, como o HIV e a distrofia muscular. Entretanto, alguns experimentos levantaram dúvidas -- em 2015, cientistas chineses a utilizaram para criar cães Beagle extremamente musculosos -- e especialistas em ética têm alertado para a rápida edição de genes em humanos. O fato de ser uma ferramenta de fácil utilização deixa muita gente desconcertada: a comunidade de inteligência norte-americana advertiu em 2016 que a edição de genes é uma potencial arma de destruição em massa.

Além do medo de que a edição genética levará a um mundo de crianças projetados em laboratório, e a exclusão de certas características genéticas, o CRISPR é uma novidade, cujas consequências ainda desconhecemos.

Muitos países têm algum tipo de proibição com relação à edição de genes em embriões humanos, embora as regulamentações e os pontos de vista estejam aparecendo conforme o uso do CRISPR aumenta nos laboratórios. Este ano, a Academia Nacional de Ciências dos EUA afirmou que a edição do DNA de embriões humanos poderá ser permitida a fim de curar algumas doenças, contanto que com determinadas proteções e condições.

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Porém, os cientistas estão pressionando. Equipes na China editaram embriões humanos ao menos três vezes. No início do ano, uma equipe chinesa relatou uma inédita: a utilização do CRISPR para corrigir mutações genéticas em três embriões humanos normais. (Testes anteriores foram realizados em embriões do tipo não viável, os quais não poderiam gerar fetos. De acordo com a Technology review, o experimento norte-americano destruiu os embriões dentro de alguns dias, pois não havia a intenção de implantá-los.)

Cientistas nos EUA assistiram aos desenvolvimentos na China "com um misto de admiração, inveja e um pouco de preocupação", a Technology Review relatou. Aparentemente, eles estão ansiosos para tentar fazer o mesmo.

Esse último teste de edição genética foi conduzido por Shoukhrat Mitalipov, da Universidade de Saúde e Ciências do Oregon, que também estava por trás dos primeiros macacos clonados em 2007. Mitalipov não quis comentar à Technology Review, e afirmou que os resultados estão aguardando a publicação em um periódico científico. Mitalipov também não respondeu imediatamente a um e-mail solicitando comentários para o Motherboard.

A Technology Review não pôde confirmar em seu relatório quais foram as doenças genéticas visadas no estudo, apesar de uma fonte ter contado à publicação que "muitas dezenas" de embriões foram criados a partir de doadores de esperma com mutações de doenças hereditárias. O experimento norte-americano parece ter melhorado resultados anteriores da China, onde o CRISPR causou erros de edição e funcionou inadequadamente, tendo utilizado somente algumas células. Uma fonte anônima chamou isso de "princípio de prova" no relatório.

Cientistas que utilizam o CRISPR têm um argumento muito bom para o seu trabalho -- quem resistiria a uma tecnologia com o potencial de curar tanto a vida quanto a morte?

Contudo, a ciência não acontece no vácuo, e mesmo as intenções mais nobres podem nos levar a uma situação não intencionada. Os experimentos de Mitalipov, entre outros, estão construindo o caminho para um futuro em que será possível curar diversas condições terríveis, mas também carregam consigo a possibilidade real de criar seres humanos "projetados", e programar desigualdades em nosso DNA.

Existem diversas barreiras legais em lugares como os EUA, as quais evitam a criação de um feto geneticamente modificado. Porém, isso não se aplica a todos os países. Estamos nos aprimorando na utilização dessa ferramenta, por isso, não uma questão de "se" vai acontecer, mas de "quando". Como apontado pela Technology Review, "a criação de um indivíduo geneticamente modificado poderá ser feita a qualquer momento".