FYI.

This story is over 5 years old.

Tecnologia

​Alguém do Governo Também Serviu de Informante Para o Silk Road 2

“Ele sentia falta da renda extra”, afirmou DoctorClu, moderador do Silk Road 2, ao Motherboard.
​Crédito: Shutterstock

Na semana passada, ​surgiu a notícia de que dois agentes norte-americanos supostamente lucraram centenas de milhares de dólares com o mercado negro online Silk Road enquanto trabalhavam para derrubar o site.

Um dos agentes, Carl Mark Force IV, também está sendo acusado de ter atuado como agente-duplo pago ao fornecer informações privilegiadas ao dono do Silk Road por conta de seu papel dentro do DEA, órgão norte-americano responsável pelo combate ao tráfico de drogas.

Publicidade

Agora, pelo jeito, o Silk Road 2, site que entrou no ar poucas semanas após a queda do primeiro, também contava com uma mãozinha como esta – o próprio Force ou outro informante também vazava dados de interesse dos operadores do negócio.

O Motherboard conversou com dois membros da equipe do Silk Road 2 que afirmaram independentemente a existência de tal informante. Este recebia 500 dólares semanais – o mesmo salário pago pelo Silk Road original a Force sob uma de suas variadas identidades – em troca de informações sobre a investigação, de acordo com a dupla. O esquema começou em novembro de 2013, pouco depois do primeiro Silk Road ter sido derrubado, afirmaram.

Ambos declararam que seu informante era o mesmo do primeiro Silk Road antes de seu encerramento.

"Ele sentia falta da renda extra", afirmou DoctorClu, moderador do Silk Road 2, ao Motherboard, antes de ser preso em janeiro deste ano. "Foi o único motivo pelo qual nos abordou."

---

Após o Silk Road ter sido fechado pelo FBI em outubro de 2013, não demorou muito para que outros usuários começassem a reconstrução do site.

De acordo com uma fonte que tinha privilégios de administrador e cuidava do atendimento ao cliente do Silk Road 2, a equipe por trás do segundo site foi abordada por um indivíduo sob o pseudônimo "Lonewolf" antes de seu lançamento, afirmando ter informações vindas das autoridades.

Quando Lonewolf pediu por dinheiro demais – algo na casa dos milhares de dólares – outros usuários , sob pseudônimos, abordaram a equipe. Uma usuária, "Oracle", afirmou ser "consultora/amiga [de] Ross", disse um dos integrantes do Silk Road 2. ("Ross" no caso é Ross Ulbricht, condenado há pouco pela criação e operação do Silk Road.)

Publicidade

Oracle dizia ser mulher e trabalhar para o DEA como tradutora de espanhol e inglês, de acordo com um dos integrantes do Silk Road 2.

(Quem acompanha a história do Silk Road 2 talvez esteja familiarizado com o nome Oracle. A usuária tinha o hábito de aparecer em tempos de crise nos fóruns do site, e em 2014, um longo e prolixo texto, republicado no site de notícias Deep Dot Web. No post, Oracle disse ter sido paga por Dread Pirate Roberts 2 para espalhar informações errôneas, e também afirmava ter conhecimento profundo de alguns dos bastidores do comércio.)

As informações de Oracle, de acordo com um dos integrantes do Silk Road, tinha mais a ver com prisões. Quando o prolífico traficante SuperTrips foi pego, os administradores do primeiro e segundo Silk Road afirmaram saber de tudo muito antes de ter se tornado de conhecimento público.

Oracle dizia ser uma mulher. Ela afirmava trabalhar para o DEA como tradutora de espanhol e inglês

Dread Pirate Roberts 2 (DPR 2) fez uma alusão à captura de SuperTrips e a tentativa malsucedida do governo de usar a conta do traficante para conduzir mais investigações, durante uma entrevista com o Ars Technica em fevereiro de 2014. "Foi bem chato quando as autoridades tentaram usar o pseudônimo 'SuperTrips' pela terceira vez afirmando se tratar do cara, sabendo tanto quanto ICE onde ele está agora", disse DPR 2 ao site.

A prisão de SuperTrips não havia sido divulgada até abril de 2014. Pelo visto Dread Pirate Roberts 2 tinha mesmo alguma fonte dentro da polícia.

Publicidade

A informação a respeito de Super Trips também havia sido fornecida a DPR 1 por "alpacino", um dos pseudônimos pelo qual Force está sendo investigado. É possível que a informação tenha sido passada à equipe do Silk Road 2 por alguém que a tenha obtido por trás dos panos no primeiro Silk Road, mas não há razão para crer que alguém além de do primeiro DPR saberia do informante.

Um dos membros da equipe do Silk Road 2 também disse que Oracle deu informações sobre o envolvimento de Curtis Green, ex-integrante da equipe que foi colocado em meio ao planejamento de um assassinato inventado. O plano supostamente foi orquestrado por Force.

Porém, Oracle nunca chegou com nada de bombástico, de acordo com dois membros do Silk Road 2. "Conseguimos algumas coisas com nosso informante, mas nada demais", disse DoctorClu.

A relação entre Oracle e o Silk Road 2 não durou muito, de acordo um dos membros de sua equipe. Quando o fluxo de informações secou, ela deixou de ser paga.

---

Por mais que os dois integrantes da equipe do Silk Road 2 creiam que Oracle é a mesma pessoa que vazou informações ao 1º Silk Road, é difícil provar que tenha sido Force, o agente do DEA acusado de fornecer dados para o Silk Road original. Porém, há algumas similaridades que merecem ser destacadas.

Force supostamente cometeu o erro de assinar uma mensagem à DPR 1 com seu primeiro nome verdadeiro, de a​cordo com a acusação. Posteriormente, ele logo afirmou ser, na verdade, uma mulher​ chamada "Carla Sophia". Force, usando sua identidade secreta oficial no Silk Road 1, "Nob", por vezes cumprimentava DPR 1 em espanhol: "boa noite Cabeza [espanhol para cabeça, chefe]", "esta bien", e "amigo", como consta em chats obtidos do notebook de Ulbricht.

Force se demitiu do DEA em maio de 2014 quando teve início uma investigação sobre suas atividades, afirma matéria ​do New York Times. Isto significa que ele ainda trabalhava como agente quando Oracle deu as informações ao Silk Road 2.

O DEA não comentou o caso até o fechamento da matéria.

Mesmo anos após seu fechamento, a história do Silk Road continua a maravilhar, confundir e surpreender. Ao passo em que os investigadores vão mais fundo nos supostos elos entre agentes da lei e do site, a coisa só vai ficando cada vez mais bizarra.

Tradução: Thiago "Índio" Silva