É possível que exista vida extraterrestre nesse sistema solar com um monte de planetas do tamanho da Terra

FYI.

This story is over 5 years old.

Tecnologia

É possível que exista vida extraterrestre nesse sistema solar com um monte de planetas do tamanho da Terra

Os sete planetas recém-descobertos pela NASA são nossa melhor aposta para encontrar novas formas de vida.

Uma estrela a 39-anos luz de distância da Terra — um passinho em termos cósmicos — abriga sete planetas do tamanho do nosso, de acordo com pesquisa publicada há pouco na revista  Nature. Mas isso não é o principal: os astrônomos responsáveis dizem que pelo menos seis desses corpos celestes aparentam ser rochosos, de clima temperado, e alguns podem até mesmo ter água em formato líquido na superfície. Indo direto ao ponto: sim, eles podem ter os ingredientes certos para a vida.

Publicidade

"É a primeira vez que tantos planetas deste tipo são encontrados em torno da mesma estrela", afirma o principal autor do estudo, Michaël Gillon, astrônomo da Université de Liège, na Bélgica, em conversa com jornalistas antecipando o anúncio na terça-feira. "Este sistema provavelmente é a melhor aposta hoje para se buscar vida fora da Terra", disse o co-autor Brice-Olivier Demory, da Universidade de Berna, na Suíça, em release que acompanhava a notícia.

Infográfico mostra possível organização dos sete planetas de TRAPPIST-1 ao lado de planetas rochosos em nosso sistema solar. Crédito: NASA

O sistema solar recém-descoberto tem algumas diferenças significativas em relação ao nosso. Sua estrela principal, TRAPPIST-1, é o que se chama de anã vermelha "super fria", com 8% da massa do nosso Sol e 11% de seu raio. Os sete planetas orbitam bem próximo da estrela: todos ficam a mais ou menos na distância da órbita de Mercúrio.

A maioria também tem acoplamento de maré, de forma que um lado sempre está virado para a estrela e o outro vive uma noite eterna, o que fez com que pesquisadores comparassem com as luas de Júpiter, que passam pela mesma situação com o planeta.

Ao tentar identificar se um exoplaneta (qualquer planeta fora de nosso sistema solar) é habitável, os cientistas buscam por algumas características, incluindo a produção de energia de sua estrela, bem como distância orbital. Estes dados ajudam a determinar se a temperatura de superfície fica em uma amplitude relativamente temperada, de 0 a 100 graus, de forma que água possa existir em sua forma líquida.

Publicidade

Ilustração do sistema TRAPPIST-1. Crédito: NASA

De acordo com Gillon, este sistema solar traz bons candidatos. Apesar dos planetas serem tão próximos da estrela, a TRAPPIST-1 é "tão pequena e gelada [que os planetas] são temperados, o que significa que podem ter água líquida na superfície", disse.

As medidas de massa dos planetas, ainda que preliminares, indicam que estes são rochosos, outro bom sinal visto que não existem formas de vida conhecidas que poderiam sobreviver em um gigante gasoso como Júpiter. Determinou-se ainda que a estrela não é lá muito ativa e que explosões solares são raras, outro fator que contribui para que estes planetas abriguem vida.

Como este sistema está relativamente próximo da Terra, cientistas já puderam ter alguma noção das atmosferas de seus planetas. Estudos posteriores darão ainda mais pistas de sua habitabilidade.

Digno de nota também é o fato de que todos os planetas são ideais para um tipo de observação detalhada que entrará em curso nos próximos anos. Já que a estrela emite maior parte de sua energia como luz infravermelha, o telescópio espacial James Webb – que observa o espectro infravermelho – será perfeito para estudar os detalhes destes planetas recém-descobertos quando for lançado, em 2018.

"É verdade que uma estrela dessas é muito fraca na [luz] ótica, mas esta assinatura que buscamos pode ser observada no infravermelho", disse Gillon.

Ilustração da vista de um planeta no sistema TRAPPIST-1. Crédito: ESO/M. Kornmesser/spaceengine.org

Cientistas estão esperançosos de que futuras missões (como a do telescópio James Webb) também sejam capazes de detectar ozônio em quaisquer das possíveis atmosferas, o que poderia indicar atividade biológica.

Publicidade

A estrela TRAPPIST-1 recebeu este nome por conta do projeto de telescópio robótico usado para descobrí-la. O TRAPPIST (sigla para Telescópio Pequeno para Planetas em Trânsito e Planetésimos) usa fotometria de trânsito para detectar planetas em outros sistemas solares, ou seja, ele analisa a queda na luz de uma estrela quando um planeta passa na sua frente.

Controlado remotamente por uma equipe belga, o primeiro estágio do sistema telescópico foi construído nas montanhas chilenas, mais precisamente no Observatório de La Silla. Agora, com novas instalações no Marrocos, sua área de observação aumentou. "Temos acesso a todo o céu, norte e sul para buscar estes planetas", afirmou Emannuël Jehin, co-autor da pesquisa.

As descobertas da equipe do TRAPPIST foram confirmadas pelo Grande Telescópio do Observatório Sul-Europeu, bem como observatórios nas Ilhas Canárias e África do Sul.

O sistema estelar TRAPPIST-1 também ganhou as manchetes no ano passado com o anúncio de três exoplanetas em órbita. Observando melhor, um raro trânsito triplo foi detectado, sugerindo que há mais mundos além destes três a serem descobertos.

Nosso Sol comparado à TRAPPIST-1, estrela menor e avermelhada. Crédito: ESO

Mas e quanto às expedições até lá? Bem, visitar estes planetas num futuro próximo é impossível, por mais que seja um destino interessante para o Project Starshot,  iniciativa pioneira em viagens interestelares. Se a humanidade conseguir ir tão longe, de acordo com o co-autor da pesquisa Amaury Triaud, os viajantes veriam um céu com um sol carmesim ou "salmonado".

"Seria um lindo espetáculo, já que poderíamos ver planetas talvez duas vezes maiores que a Lua, dependendo do planeta em que se está e qual se observa", disse Triaud. Quem sabe um dia, né?

Tradução: Thiago "Índio" Silva