​Conheça Monero, a moeda que promete ser mais anônima que o bitcoin

Nem mesmo o bitcoin é anônimo o bastante para alguns criminosos da deep web. Há anos a moeda eletrônica tem sido o método de pagamento favorito de pessoas que compram e vendem drogas e outros itens ilegais na parte não-indexável da internet.

Mas ela é uma faca de dois gumes: o bitcoin usa pseudônimos, o que permite que o pessoal compre metanfetamina com algum grau de privacidade, mas também é estruturado de forma que todas as transações sejam rastreáveis num banco de dados público chamado de blockchain – não é o sistema ideal se você prefere que ninguém, nunca, em nenhuma circunstância, descubra os seus hábitos de consumo digital.

Agora há uma alternativa. Na segunda-feira, o AlphaBay – o maior mercado online para drogas e outros itens duvidosos como ferramentas para fraudes – anunciou no Reddit que, a partir de 1º de setembro, a plataforma está adicionando suporte a uma moeda eletrônica ostensivamente superanônima chamada Monero.

Afinal, o que é o Monero? A primeira coisa a se dizer é que, ao contrário da maioria dos outros rivais do bitcoin, o Monero não foi criado usando o código do bitcoin. Em vez disso, ele é baseado num protocolo chamado Cryptonote, que foi descrito pela primeira vez num relatório de 2012 escrito por um tal de "Nicolas von Saberhagen", um provável pseudônimo, assim como o criador do bitcoin adotou o pseudônimo de Satoshi Nakamoto. Embora o Monero tenha algumas similaridades com o bitcoin, entre elas a mineração e o blockchain como pontos-chave de seu funcionamento, ele tem algumas grandes diferenças que ajudam seus usuários a manter o anonimato online, pelo menos de acordo com os defensores da moeda.

Usuários do bitcoin costumam usar um só endereço de carteira, e todas as transações conectadas a esse endereço são visíveis para qualquer pessoa. Em contraste, o Monero cria um endereço único para cada transação, com uma "senha" privada que só permite que as informações completas da transação sejam vistas pela pessoa que recebeu o depósito e por outras pessoas com quem ela decidir compartilhar a senha.

Em teoria, isso significa que tudo fica longe dos olhos da polícia. O Monero também "mistura" moedas automaticamente – ao juntar uma transação com outras de valores similares – criando outra camada de camuflagem para dificultar a vida de qualquer pessoa que tente identificar uma transação no blockchain.

Esse diferencial fez com que o Monero chamasse a atenção de um público cativo e discreto desde sua criação em 2014. Na segunda-feira, o dia do anúncio do AlphaBay, o Monero era vendido com uma capitalização de mercado de aproximadamente US$ 40 milhões, comparada à capitalização de mercado do bitcoin de mais de US$ 9 bilhões. Na manhã de terça-feira, a capitalização de mercado do Monero era de quase US$ 60 milhões.

"Faz completo sentido que o Monero seja bem-vindo num site de leilões na dark web", me escreveu por e-mail Tyler Moffitt, pesquisador de ameaças sênior da firma de segurança Webroot. "Ele é mais seguro que o bitcoin, já que o banco de dados de transações do bitcoin pode ser visto publicamente."

De acordo com o ex-chefe da Fundação Bitcoin e pesquisador de segurança Peter Vessenes, o Monero receberia "notas razoáveis" por seus fundamentos tecnológicos, mas pode estar prometendo demais quando o assunto é proteger a privacidade de criminosos.

Segundo o que Vessenes me disse por e-mail, o fato de que há um número relativamente pequeno de usuários do Monero significa que qualquer grande transação vai chamar muitíssima atenção: simplesmente não há muitas outras transferências de tamanho similar para camuflá-las. Isso acabaria com a promessa de privacidade da moeda eletrônica, especialmente para vendedores de drogas movendo grandes quantidades de seus produtos.

"Se você está pensando em transferir US$ 2 milhões numa moeda como essa, por exemplo, você vai enfrentar muitos problemas", escreveu Vessenes. "O Monero funciona combinando sua transação com outras transações de valores similares – vai ser muito difícil encontrar pessoas que façam outras transações desse mesmo tamanho ao mesmo tempo que você."

Para o usuário médio que transfere quantidades pequenas de dinheiro, porém, "minha impressão é que há um grupo maior de pessoas para reforçar seu anonimato no Monero em comparação com o bitcoin", me disse por e-mail Jonathan Levin, co-fundador da Chainalysis, uma firma de análise de blockchain de bitcoin.

Se o Monero for um sucesso no AlphaBay, ele pode criar uma massa crítica de usuários que permitirá que suas promessas sejam cumpridas. É uma profecia que se cumpre sozinha: a ampliação do uso do Monero no mercado da dark web vai aumentar o investimento na moeda eletrônica e seu uso, o que solucionaria o problema criado pelo fato de que há um número relativamente pequeno de usuários. De fato, o post da AlphaBay no Redditanunciando a adoção do Monero afirma: "Esperamos que isso cause uma alta nos preços, portanto, se você é um investidor, agora é uma boa hora para comprar Monero."

Esta não é a primeira vez que uma moeda eletrônica tentou entrar no mercado prometendo mais privacidade que o bitcoin, o que faz que alguns usuários sejam céticos em relação às promessas do Monero. Dash, uma moeda eletrônica antes conhecida pelo nome de Darkcoin, foi alvo de atenção considerável da mídia quando alguns mercados de médio porte a implementaram em 2014. Dois anos depois, o Dash ainda não foi implementado em nenhum mercado digno de nota na dark web.

"O custo de trocar o bitcoin pelo Monero vai ser alto, já que não se trata somente de uma mudança tecnológica e de uma questão de confiança, como também de uma maior volatilidade", escreveu Levin. A alta de US$ 20 milhões na capitalização de mercado do Monero, embora indique um aumento no uso e, portanto, um maior anonimato, também significa que o valor da moeda é altamente volátil.

Se o Monero decolar, talvez seja a moeda super-anônima pela qual a economia secreta de comércio de drogas na dark web estava esperando este tempo todo.