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​Todos os Biomas Florestais do Planeta Estão Morrendo Neste Momento

A revista Science dedicou uma edição inteira ao futuro das florestas do planeta. Os diagnósticos não são nada bons.
Zé Doca, no Maranhão, Brasil, em novembro de 2014. Crédito: Mario Tama/Getty

As florestas são super-heroínas ecológicas. Elas ventilam o planeta, nutrem os habitats mais biodiversos da Terra e regulam o clima global e os ciclos de carbono. Dos pólos ao equador, nossa sobrevivência depende que elas estejam bem saudáveis.

Mas não é o que vem acontecendo. Longe disso, aliás. De acordo com a edição mais recente da Science dedicada à saúde das florestas, todos os principais biomas florestais estão em perigo. Ainda que cada região sofra com dificuldades específicas, todas elas estão ameaçadas por um fator em comum: a atividade humana.

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O primeiro estudo da edição especial, conduzido pela ecologista florestal Sylvie Gauthier, traça as ameaças sofridas pelas florestas boreais, os maiores habitats florestais do planeta. Essas florestas, de grandes altitudes, são coníferas, compostas por pinheiros, abetos e lariços, e se estendem das florestas expansivas do Canadá à taiga russa.

Gauthier e seus colegas observaram que as florestas boreais foram muito resistentes às mudanças ambientais que devastariam com facilidade outros biomas. "A resistência desses sistemas é bem ilustrado na floresta boreal do nordeste da América do Norte, onde a variação de espécies originais permaneceu inalterada pelos últimos 8.000 anos, apesar de grandes flutuações nos regimes climáticos e distúrbios regionais", observou a equipe.

O problema é que a exploração de madeira industrial está começando a cobrar seu preço. A equipe de Gauthier estima que dois terços das florestas boreais do mundo estão sujeitas a grande extração de recursos, o que resultou em poluição generalizada, desmatamento, queimadas e uma população de árvores menos diversificada geneticamente.

Junto a essas questões está o efeito projetado das mudanças climáticas nas florestas do norte. "Ao longo do século XXI, espera-se que o bioma boreal sofra o maior aumento de temperaturas de todos os biomas florestais", afirmou a equipe. "Temperaturas mais altas ergueriam as barreiras para o aumento da população ou a grande expansão de pragas nativas ou invasivas, resultando em epidemias severas."

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"A saúde das florestas imensas e aparentemente eternas está sob ameaça no momento presente, assim como a vitalidade de muitas comunidades e economias que dependem da floresta", afirmam os pesquisadores.

E as florestas temperadas não estão em situação melhor, de acordo com outro estudo da edição da Science, escrita pelos ecologistas do Serviço de Pesquisa Geológica dos EUA Constance Millar e Nathan Stephenson. As florestas temperadas são compostas na sua maioria por árvores decíduas, que perdem suas folhas sazonalmente e são comuns em regiões das latitudes médias do planeta.

Assim como acontece com as florestas boreais, as mudanças climáticas são a ameaça mais devastadora para as florestas temperadas – bastante vulneráveis a secas e queimadas. As árvores decíduas evoluíram de modo a suportar essas pressões até certo ponto, entretanto, os autores salientam que a tendência crescente de aumento nas temperaturas está levando a "megadistúrbios"que não serão apagados facilmente.

"Por milênios, as secas foram um agente de perturbação importante para as florestas temperadas", afirmam Millar e Stephenson. "Entretanto, nas últimas décadas, o aumento nas temperaturas globais contribuiu para as secas com uma severidade até então sem precedentes no último século ou mais."

"Secas excepcionais em combinação com outros fatores de perturbação estão elevando as temperaturas das florestas para além dos limites da sustentabilidade", concluiu a equipe.

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Florestas que foram desidratadas por grandes secas sofrem de exaustão de água e se transformam em pilhas de madeira enormes, que podem alimentar grandes incêndios. Em primeiro lugar na lista, florestas temperadas coincidem com grandes densidades populacionais. Com efeito, há diversos estressores antropogênicos sobre elas, como poluição, desenvolvimento industrial e espécies invasivas.

"As medidas que tomarmos agora para as florestas temperadas podem facilitar e guiar as transições, diminuindo os efeitos nos ecossistemas florestais e nas sociedades humanas", afirmaram Millar e Stephenson.

Por último, mas não menos importante, pesquisadores liderados pelo professor de geografia Simon Lewis estimaram um dos habitats mais biodiversos do planeta: a floresta tropical, caracterizada por árvores de folhas perenes.

Enquanto Lewis e seus colegas observaram que as mudanças climáticas são um grande risco para as florestas tropicais, eles também concluíram que esse bioma é muito mais ameaçado pelo contato antropogênico direto.

A equipe esboça os distúrbios ecológicos induzidos pelos assentamentos humanos ao longo do curso de vários milênios, começando com a extinção da megafauna tropical e encerrando com "a integração global de hoje, dominada pela agricultura permanente e intensa, a extração de madeira industrial, queimadas e fragmentação".

"O século XXI verá um aumento na demanda por produtos provenientes de áreas tropicais", escreveram os autores. "Assim, a maior ameaça continuará sendo a conversão e degradação, que serão combinadas com os impactos de mudanças climáticas rápidas."

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Resumindo: cada bioma florestal no planeta está morrendo neste exato momento e, se esse curso não for corrigido, a deterioração desses ecossistemas valiosos acelerará ao longo das próximas décadas.

É claro que, em cada um dos estudos, os autores apontaram diversas maneiras para diminuir o declínio alarmante das florestas ao redor do mundo, como tornar mais rígidas as políticas de conservação, administrar melhor as florestas e a criação de um modelo global de políticas para as mudanças climáticas. Esses tipos de ações "vão diminuir as surpresas desagradáveis que a vida no Antropoceno trará para este século", como a equipe de Lewis colocou.

Em outras palavras, é completamente possível aos humanos reduzir os danos às florestas, até mesmo revertê-los em alguns lugares. De fato, levando em consideração que nosso destino está intrinsecamente ligado ao das florestas, parece um ato suicida considerar qualquer opção diferente.

Mas se formos bem-sucedidos, essa reviravolta dependerá quase inteiramente da capacidade humana de planejar a saúde do planeta em longo prazo. Se os humanos quiserem sobreviver à era antropogênica que causamos ao planeta, teremos que melhorar nosso jogo.

Tradução: Amanda Guizzo Zampieri