A obra e a morte de Pepe The Frog, um acidental meme político

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A obra e a morte de Pepe The Frog, um acidental meme político

Que a lápide desse virtual anfíbio sirva para mais reflexões críticas sobre o que significa dar voz às mensagens da extrema-direita.

O Pepe the Frog – aquele sapo com cara de boa e símbolo cuzão da extrema-direita – foi morto por seu criador Matt Furie nessa semana, horas antes de Marine Le Pen, candidata da extrema-direita por trás de uma das últimas encarnações como Pepe Le Pen, perder para o candidato centrista Emmanuel Macron na eleição presidencial francesa.

Será que a mágica do meme não foi suficiente para proteger outro populista?

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Crédito: globalism_sux/Reddit.

A resposta mais curta circulando pela web é que Furie, incapaz de resgatar sua criação das garras da extrema-direita, matou "simbolicamente" o sapo ao publicar a ilustração do caixão aberto. Ele não falou com mais ninguém depois de divulgar o desenho.

De acordo com Whitney Phillips, uma especialista da mídia digital na Universidade de Mercer, nos EUA, "o resultado francês sugere que a extrema-direita é capaz de controlar a influência do meme somente quando pegam carona nas forças midiáticas mais poderosas do que eles, e a França não tem um aparato midiático equivalente a ponto de apoiar essa influência".

Apesar dos relatos de que grupos da extrema-direita francesa tenham abraçado o meme da Pepe Le Pen, uma análise da atividade das mídias sociais do New York Times concluiu que o esforço da extrema-direita norte-americana em influenciar o eleitorado francês com uma enxurrada de memes e outros conteúdos virais não colou, principalmente por causa de "lacunas culturais" – e o fato de que os memes quase não foram traduzidos para o francês.

Crédito: 4Chan.

Além disso, Phillips sustenta que, para início de conversa, não há "absolutamente nenhum dado que sustente" a mágica dos memes – a ideia de que o "poder do meme" pode ter sido usado a ponto de moldar a política e contribuir para a vitória de Trump nas eleições de 2016.

"O que é evidente, e apoiado por dados, é que os canais midiáticos da extrema-direita foram capazes de influenciar significativamente o discurso da grande mídia nas eleições norte-americanas, o que favoreceu, para dizer o mínimo, a visibilidade dos antagonistas alinhados ao Breitbart (grupo de mídia da direita americana), que também foram apoiados em massa por jornalistas norte-americanos, amplificando as ações da extrema-direita e uma dada narrativa", escreveu Philips.

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Ela espera que a morte de Pepe suscite "mais reflexões críticas sobre o que exatamente significa dar voz às mensagens da extrema-direita".

Por experiência, Brian McCullough, criador do podcast Internet History, que documenta o aumento do consumo de internet, disse ao Motherboard que "os memes têm uma vida-útil, assim como a moda ou as gírias".

"No início, eles são como um cumprimento secreto entre pessoas que compartilham uma piada interna", disse. "Mas depois da vida útil, um meme perde a graça e quem o usa fica forçando a graça. Tipo um pai tentando parecer descolado."

"Mas afinal, qual é o ciclo de vida de um sapo? Talvez tenha chegado a hora do Pepe", McCullough acrescentou.

Nascido em 2005 como parte das tiras "Boys Club" de autoria de Furie, Pepe the Frog foi aos poucos incorporado por grupos nacionalistas em 2015, que transformaram o sapinho de boas em um símbolo racista e antissemita. A Liga Antidifamação (sigla ADL) classificou o meme como símbolo de ódio em setembro de 2016 por "sugerir racismo, antissemitismo ou outras noções de intolerância". Vai tarde, Pepe.