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Dermatofagia, a Doença Psicológica Que Faz as Pessoas Morderem a Própria Pele

Pode parecer um ato inofensivo de morder a pele, mas também pode ser uma doença.
Crédito: Roger costa morera/Shutterstock.

Eu não tenho ideia de quando foi que eu passei de morder lápis para morder meus próprios dedos – talvez eu sempre tenha feito ambos. As crianças não sabem dessas coisas, e eu nem percebi que eu estava fazendo isso. E nem as pessoas com dermatofagia, o impulso não muito raro de morder e, às vezes digerir, sua própria pele.

Apesar de ser de alguma forma comum, a dermatofagia foi raramente descrita na literatura médica, e é algo sobre o qual as pessoas não costumam falar, talvez porque elas tenham vergonha. Mas também porque é algo geralmente inofensivo e não requer tratamento.

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A grande maioria das pessoas que se mastigam não procuram nunca ajuda profissional, a maioria sai dessa, e normalmente não causa problemas além de talvez seus dedos parecerem bem nojentos.

Depois de tanta ação repetitiva por meses, a pele envolta eventualmente fica mais grossa, calejada, e com liquenificação

"Não é tão raro quanto a dispersão de casos relatados indicam", escreveram pai e filho Michael Scott Jr e Michael Scott III, dermatologistas psicossomáticos, em uma descrição sobre o distúrbio em 1997, publicado no jornal Cutis. "É muito raro ser mencionado em qualquer livro didádico."

Especificamente, a doença é "um hábito neurótico de compulsão por automutilação da sua pele ou apêndices", com os dentes.

Quando mencionado na literatura médica, as pessoas que mastigam a própria pele (eu já parei há muito tempo de fazer isso) são normalmente chamadas de "lobos mordedores", porque é exatamente isso que os lobos fazem quando estão presos ou irritados. Em seu artigo, os Scotts sugerem o termo "dermatofagia" porque, bem, é mais científico.

Mas até essa distinção tem seus detratores. Dermatologistas do Walter Reed Medical Center sugerem em um artigo de 2005 do Journal of the American Academy of Dermatology que a dermatofagia, literalmente "comer a pele" em grego, dá a falsa impressão de que as pessoas estão regularmente comendo peles.

"Relatórios publicados de pacientes com dermatofagia descrevem comportamentos como somente morder compulsivamente ou roer suas peles, mas não ingerir propriamente," escreveu Panagiotis Mitropoulos em seu artigo. "De fato, esses pacientes desenvolveram um espessamento reativo da pele, não uma ferida, uma úlcera ou perda de pele."

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Mitropoulos propôs chamar a doença de "dermatodaxia", que significa "morder a pele".

Não interessa o nome, é claro pelas fotos que as pessoas com essa doença de fato comem pequenos pedaços de suas próprias peles.

"É uma forma de resposta ao estresse, um jeito de aliviar o estresse", Scott III me disse em uma entrevista por telefone. "Nós temos alguns pacientes que fizeram isso por 20 anos, eles apenas mantêm isso na sua vida – não é algo feito para desfigurar, na maior parte do tempo."

Scott me disse que a maioria dos seus pacientes que têm dermatofagia também têm outra doença, e morder a pele aparece como um item separado. Ele disse que, como eu, a maioria das pessoas com dermatofagia cresce mordendo lápis na escola e em algum ponto trocam pela sua pele. Mais comum, alguém com a doença morde a área perto das unhas dos dedos, os nós dos dedos, braços ou "qualquer lugar acessível do corpo".

Não é sempre inofensivo também.

Um cara no reddit recentemente falou que ele odeia "aquela mordida quando você passou do limite e começa a sangrar".

"Pode ficar tão ruim que é doloroso", disse Scott. "Depois de tanta ação repetitiva por meses, a pele envolta eventualmente fica mais grossa, calejada, com liquenificação e com a perda ou exagero das marcações da pele normal ou vincos."

Também é terrível para os folículos dos pelos em qualquer área que tenha sido mordida.

Mais comum, no entanto, as coisas voltaram ao normal no caso de um garoto de 15 anos descrito em um estudo de caso no Dermatology and Psychosomatics: "O comportamento do garoto era normal exceto pela teimosia, e seu desemprenho na escola era satisfatório", disse o artigo.

"Com o passar de alguns meses, a natureza da sua condição foi explicada ao garoto e ele foi instruído a conscientemente desistir de morder seus nós dos dedos", continua. "O garoto está sendo acompanhado e está quase largando o hábito."

Então, para vocês, dermatofagistas por aí: tudo melhora.

Tradução: Letícia Naísa