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Tecnologia

Como Pesquisadores Usam o Google para Fazer Propaganda Contra o ISIS

Grupo de pesquisa veiculou anúncios contra o ISIS a mais de 50 mil jovens que poderiam se interessar em participar do grupo extremista.

Você é um muçulmano britânico que pesquisou "como chegar à Síria" no Google? Aí esbarrou em uma animação que detalha os motivos para não se juntar ao Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS)? Isso não foi acidente, cara: foi o resultado da parceria entre Google Ideas e um instituto de pesquisa britânico.

Durante o festival Web We Want realizado em Londres no último fim de semana, o pesquisador Zahed Amanullah do Institute for Strategic Dialogue (ISD) explicou como sua organização tem parcerias com Facebook, Twitter e Google para usarem as mesmas técnicas dos gigantes de tecnologia na hora de promover uma propaganda anti-extremismo.

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A tática é simples e direta: em vez de apenas tirarem do ar conteúdos radicais, a iniciativa do ISD tenta lutar contra o ISIS com os mesmos métodos que nos fazem clicar em algo de modo quase instintivo. "O que fazemos é usar seus recursos para ajudar a ampliar vozes confiáveis", disse Amanullah.

No exemplo citado por Amanullah, sua organização bombou uma série de vídeos no YouTube postados pela Against Violent Extremism, uma rede de ex-radicais. Na mídia, os ativistas listam razões pelas quais as pessoas não deveriam viajar à Síria para se juntar ao ISIS. Os motivos que levam os usuários ao vídeo ficam ocultos. "A ideia é não deixarmos nossa marca ali", diz o pesquisador, que ressalta não querer que a mídia seja identificada como parte de seu projeto.

"Com ajuda do Google, fizemos testes com variações e determinamos certos públicos como alvos", disse. "Contamos com alguns conselheiros para nos ajudar a melhorar o trabalho — sem alterar o conteúdo, não nos envolvemos nisso."

"Durante um período de seis semanas, alcançamos mais de 50.000 jovens em situação de risco."

Os alvos da ação eram jovens muçulmanos britânicos que buscaram termos como viagem para a Síria. Amanullah e sua equipe fizeram com que o vídeo parecesse ter sido postado pelo ISIS de forma a atrair a atenção daqueles que optam por este tipo de conteúdo. Eles então alternaram extensão e palavras utilizadas na descrição do vídeo — técnicas clássicas de CEO e construção de público — para ver o que funcionaria melhor.

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"Durante um período de seis semanas, alcançamos mais de 50.000 jovens em situação de risco", explicou.

Amanullah me falou, depois da conferência, sobre como escolhiam o público. "Determinamos os alvos por geolocalização ligados às buscas dentro da Grã-Bretanha com anúncios previamente selecionados após o uso de determinados termos — de informações gerais sobre o Islã à informações específicas sobre ir para a Síria para o jihad", falou. "Os anúncios levavam a vídeos que revelavam informações de perfis em caso de estar logado à contas do Google/YouTube. Os termos mais específicos que pareciam estar mais ligados a um interesse no radicalismo ou na situação na Síria indicavam uma probabilidade de se alcançar jovens em situação de risco na região-alvo."

Muçulmanos britânicos buscando informações sobre o Islã pode parecer algo amplo demais, mas Amanullah afirmou durante o festival que suas ferramentas conseguia chegar a "um grupo muito específico de jovens na Grã-Bretanha". "O ponto principal é chegar às pessoas suscetíveis e que já mostravam interesse no assunto."

"A melhor resposta ao discurso de ódio muitas vezes consiste em mais discurso, um discurso que afaste."

O ISD testou 20 versões do vídeo e mediu seu êxito com métricas padrão de rede, como a média de segundos assistidos. Os organizadores consideraram o projeto um sucesso; segundo Amanullah, as lições aprendidas serão aplicadas em outras mídias sociais. "Se tivéssemos mil desses, em diferentes comunidades com diferentes nuances e diferentes backgrounds culturais, talvez consigamos fazer algo", afirmou.

Ainda é cedo e mais pesquisa é necessária para compreendermos as melhores formas de lidar com radicalismo na rede. Tanto Amanullah quanto Katherine Brown, palestrante em Estudos de Defesa da King's College de Londres e também participante do festival, sugeriram que o trabalho para lidar com o conteúdo do ISIS na rede corre riscos já que os governos planejam banir conteúdo radical e acabam forçando a mão das redes sociais ou impedindo que este tipo de conteúdo seja postado. "Quando você começa a banir certos materiais e impede que sejam vistos por todos, ele se esconde… O que dificulta muito mais contra-atacar porque eles não estão visíveis", comentou Brown.

Amanullah afirmou ainda que qualquer medida eficaz tem que "reconhecer os agravos". De acordo com ele, uma das queixas que leva à radicalização é o governo controlar aquilo que as pessoas podem falar ou sentir.

"Temos noção disso", comentou o palestrante. "A resposta ao discurso de ódio muitas vezes consiste em mais discurso, um discurso que afaste. Mesmo que você tenha que mexer em resultados de busca para que ele seja visto."

Tradução: Thiago "Índio" Silva