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Tecnologia

​Terraform: Por que Criamos Um Novo Lar Para a Ficção Futurista

Conheça o Terraform: uma nova seção do Motherboard, onde publicaremos ficção especulativa autoral semanalmente.
​Arte: Koren Shadmi

O Motherboard acaba de lançar o Terr​aform, um canal dedicado à publicação de ficção futurista. Eis o porquê.

A ficção cie​ntífica está em toda parte. Talvez o seja mais popular, e populista, entre nossos gêneros. Parecemos não enjoar dele seja em cinemas ou no Netflix. Mas, estranhamente, há uma carência de ficção científica em sua forma mais pura, discutivelmente sua forma original – contos – no ambiente que mais lhe parece adequado. A internet.

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Os críticos podem discutir à respeito das origens literárias da ficção científica – Frankenstein de Mary Shelley! Não, As Viagens de Gulliver! – mas o gênero atingiu a metástase nos anos 50 e 60, por meio da publicação de revistas pulp, na forma de contos e aventuras seriadas. Contos são o DNA do gênero; futuros e realidades paralelas em pequenas porções criados para levar seus leitores a uma desconexão radical com o presente.

Com certeza temos espaço para estes contos novamente neste mundo interligado. Eles não tomam muito de nosso tempo. O meio é ágil e versátil. Poderíamos muito bem levar estes contos no bolso (ou enviá-los para os dispositivos que levamos em nossos bolsos), ligando a ficção em cadeia à editoriais e notícias que lemos e compartilhamos ad nauseam todos os dias.

Há um sem-fim de grandes editoras de ficção científica online – mas mesmo assim, é estranho que não haja tanta ficção se misturando a posts noticiosos e testes de personalidade e atualizações de status que saem rolando por nossos feeds. Nós encorajamos a disseminação da informação e do storytelling de todas as formas possíveis, seja na forma de listas, visualização de dados, colagens em vídeo, enxurradas de tuítes, o que for. Mas quando foi a última vez que você viu um link para um conto sendo compartilhado no Facebook? A internet, pelo visto, não sabe o que fazer com essas coisas.

Ao menos por enquanto. Nós vamos dar uma chance. Conheça o Terr​aform: uma nova seção do Motherboard, onde publicaremos ficção especulativa autoral semanalmente. Você se deparará com nomes reconhecidos aqui – aqueles escritores cuja imaginação já deixou sua marca no mundo – bem como talentos emergentes, mentes brilhantes que amamos e mal podemos esperar para compartilhar com vocês.

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Contos nos entretém, mas histórias são mais que excursões escapistas rumo ao desconhecido: tratam-se de ferramentas críticas, de questionamento, de exploração. Eles podem literalmente nos ajudar a entender nosso selvagem, maravilhoso e aterrorizante presente. Por que não deveria estar ao lado de suas contrapartes não-ficcionais aqui no Motherboard e através do ecossistema da internet?

O objetivo é que o Terraform se apodere e tome proveito do zeitgeist; se drones são o assunto dessa semana, tentaremos criar o melhor texto possível sobre máquinas autônomas. Se a mudança climática estiver em taque, então talvez tenhamos algo de ficção que se passe em um futuro escaldante não tão distante.

Porque, como você possivelmente sabe, a relação entre ficção científica e realidade é uma hierarquia entrelaçada. Talvez máquinas autônomas e robôs quânticos existam hoje em partes porque seus engenheiros foram desmamados com romances de William Gibson e Bruce Sterling, e subconscientemente dedicaram suas vidas adultas a replicar os futuros super bacanas das leituras da adolescência. E isso não é novidade. Como observado certa vez por Isaac Asimov, "escritores e leitores de ficção científica não colocaram um homem na lua sozinhos, mas eles criaram um clima em que o objetivo de colocar um homem lá tornou-se aceitável".

A saber: dê uma olhada nas manchetes do Motherboard hoje. Ou qualquer dia. Praticamente tudo que é publicado aqui poderia servir como premissa para um romance distópico ou filme noir cyberpunk. Oceanos ácidos, robôs quânticos, drones assassinos, e próteses controladas com a mente: estas são as verdades do mundo moderno que povoam nosso mundo de ficção científica.

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Por que começar a publicar ficção científica quando estamos cobertos até os joelhos de verdades muito mais esquisitas?

Bom, nós acreditamos que a ficção não é só um lugar em que vamos para fugir da realidade; é um lugar em que podemos ir para entender, até mesmo controlar, o que é real. Para testar um código, você tem que executá-lo. Para ver se um prédio ficará de pé ou se um avião voará, você tem que construir um modelo. A funcionalidade da ficção científica é a mesma: pegue o mundo como o conhecemos, mexa em algumas variáveis essenciais, e deixe rodar por alguns – ou alguns milhões de – anos. O que resulta deste experimento pode ou não nos revelar algo de importante sobre o futuro, mas serve como um ótimo espelho para o que acontece aqui e agora.

Nós precisamos de um espelho para o agora. Não um que nos deixe bonitos, ou que distorça quem somos. Mas sim aquele que mostra cada um de nossos poros.

Porque a tecnologia é complicada, em sua construção e suas consequências. Distinções outrora alienáveis – entre real e irreal, humano e máquina – caem por terra como satélites inativos na órbita. O planeta está mudando em uma velocidade mais rápida do que a que podemos lidar. Assim como a língua, o poder e nosso senso de lugar no teatro cósmico. Nós aterrissamos em cometas; comentamos tudo.

Para começar, estamos estreando com dois contos estelares de dois dos grandes, Bruce Sterling e Cory Doctorow, dois empolgantes novatos, a co-editora do Terraform Claire L. Evans e Adam Rothstein, com a arte matadora de Koren Shadmi e Gustavo Torres.

A ficção científica é uma ferramenta extremamente poderosa. Não para prever o futuro, e sim para esclarecer nosso presente. Queremos ver isso acontecer não só em revistas mensais, mas no Reddit, Digg e Facebook. Queremos que a ficção faça parte do seu feed.

Encare o Terraform como as notícias de amanhã, hoje.

As primeira​s remessas ​já chegaram.

Tradução: Thiago "Índio" Silva