Fórmula Matemática Afirma que os Humanos Poderiam Viver Dez Vezes Mais
Crédito: Vinoth Chandar/ Flickr/ Creative Commons

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Fórmula Matemática Afirma que os Humanos Poderiam Viver Dez Vezes Mais

Um novo estudo mostra que a evolução nos programou para morrer — e que, sim, é possível nos reprogramarmos.

Na natureza, existem animais que morrem logo depois de se reproduzir, a exemplo do polvo fêmea. Outros, como o jacaré, parecem não envelhecer. O que esses dois animais têm em comum? Ambos são a prova de que envelhecer não é uma condição inescapável, e sim consequência da evolução de uma espécie em um determinado ambiente. Para os pesquisadores, mostram também que a evolução pode estar forçando os animais, inclusive nós, humanos, a morrer.

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Essa ideia fascinante é o tema do novo estudo "A morte programada é favorecida pela seleção natural em sistemas espaciais", conduzida pelos melhores biólogos e especialistas em sistemas complexos dos Estados Unidos. A equipe usa um novo modelo matemático para subverter as ideias tradicionais sobre o processo de envelhecimento. Caso seus resultados sejam comprovados, esse estudo mudará tudo o que sabemos sobre o envelhecimento — e, quem sabe, trará um pouco de esperança para aqueles que sonham em viver por mais tempo.

A controversa teoria está sendo desenvolvida por Yaneer Bar-Yam, presidente do Instituto de Sistemas Complexos da Nova Inglaterra (NECSI), Donald E. Ingber, diretor do Instituto Harvard Wyss de Engenharia Biológica, e Justin Werfel, um pesquisador associado a ambos. O último artigo da equipe foi publicado na revista Physical Review of Letters, em que os autores afirmam que "a base matemática do nosso conceito de evolução é essencialmente falha."

Hoje a ciência afirma que a evolução beneficia organismos que vivem mais e que estes tem mais chances de sobreviver na natureza. "Na teoria tradicional, a evolução sempre escolhe o indivíduo com maior longevidade, o que resulta no maior período de vida possível, biologicamente falando", disse Bar-Yam em uma entrevista. "Podemos diminuir essa expectativa de vida, mas não podemos aumentá-la.

Mas e se a expectativa de vida dos seres vivos — incluindo humanos — não for determinada pela sua capacidade de adaptação, mas sim pré-determinada pela própria evolução, com base nos recursos disponíveis para uma determinada população e pela necessidade de reprodução? E se a morte não for uma conclusão inevitável, e sim um tipo de medida instituída para garantir que uma geração não esgote todos os recursos e impossibilite a perpetuação da espécie? Essa é, basicamente, a teoria dessa equipe de pesquisadores.

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"Se a evolução está decidindo nossa expectativa de vida, isso significa que tudo o que precisamos fazer para aumentá-la é interferir no mecanismo que controla nossa longevidade", disse Bar-Yam. A pesquisa cita uma série de espécies que agem contra seu próprio interesse, uma prova de que a morte é uma ferramenta evolutiva, e não uma condição inerente.

"Envelhecer não é inerente. É genético. A possibilidade de aumentar nossa expectativa de vida de forma dramática é uma conclusão razoável."

"Existe um tipo de polvo que morre logo depois de se reproduzir", ele me diz. "Mas se removermos sua glândula, o polvo continua a viver, o que significa que a morte é desencadeada por seu sistema e não provocada por um colapso inevitável."

"Já os crocodilos", ele continua, "não envelhecem de forma aparente. A expectativa de vida da espécie varia de animal para animal. Os peixes do gênero Sebastes também — alguns vivem por alguns meses, e outros duram centenas de anos." Bar-Yam me mostrou um gráfico sobre as diferentes espécies desse gênero, que mostra que, apesar de todas as semelhanças genéticas, esses peixes possuem diferentes expectativas de vida.

Isso, ele afirma, é mais uma prova de que o envelhecimento não é inerente; é uma característica evolutiva.

E como os pesquisadores chegaram a essa conclusão? Por que o modelo matemático anteriormente utilizado para descrever a evolução havia inspirado uma conclusão tão diferente?

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"A teoria evolutiva tradicional trabalha com o pressuposto de que todo organismo compartilha o mesmo ambiente", disse Bar-Yam. "Chamamos essa ideia de estimativa média. Na física, a mesma ideia é chamada de 'teoria do campo médio', e ela basicamente ignora o contexto local. Uma das partes mais importantes de nossa pesquisa foi mostrar que, quando o contexto local é incluso na teoria, temos uma interação entre o organismo e o ambiente. As características de um organismo mudam seu ambiente, o que por sua vez muda o resultado dessa interação."

A parceria Harvard + NECSI utilizou um modelo novo e, segundo eles, mais exato para explicar como os organismos interagem com os recursos locais necessários para sua sobrevivência.

O resultado foi fascinante. "Descobrimos que a heterogeneidade espacial de recursos limitados e estruturas populacional auto-organizadas resultam em uma seleção mais rigorosa de limitação de longevidade", afirma o estudo. Traduzindo: junte recursos limitados com uma competição acirrada em uma determinada região e o resultado será uma expectativa de vida menor. "Em nosso modelo, a mortalidade intrínseca deixa recursos para os descendentes, que muito provavelmente viverão na mesma região, o que aumenta a sobevivência da espécie a longo prazo."

Em outras palavras, isso significa que, quando os recursos são escassos, uma espécie tem chance muito maior de sobreviver caso sua população seja programada para garantir a sobrevivência a longo prazo por meio da redução da longevidade individual. Resumindo, as espécies estão evoluindo para combater a superpopulação e o consumismo.

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"Se um organismo prejudica o ambiente, ele não irá necessariamente sofrer as consequências, mas seus filhos sofrerão, e seus descendentes também", explicou Bar-Yam. "Isso explica o funcionamento de todas as organizações sociais."

"Os organismos tendem a explorar todos os recursos possíveis, e isso afeta sua longevidade evolutiva. Se uma espécie viver no mesmo ambiente e se uma expectativa de vida maior aumentar seu número de descendentes, então ela será bem-sucedida. Mas como o ambiente interfere nesse processo, e como uma espécie também afeta o ambiente, se a longevidade dessa espécie aumentasse, sua população esgotaria os recursos naturais, e isso seria muito perigoso."

Essa teoria também inclui humanos, e é aí que as coisas ficam interessantes. Bar-Yam acredita que o modelo demonstra que os humanos poderiam viver muito mais do que eles vivem hoje — afinal, nós herdamos a longevidade de nossos ancestrais, caçadores que lutavam para sobreviver. "Existe um limite inerente à nossa capacidade de regeneração? A resposta é que talvez sim— mas isso não significa que esse seja o fator principal do envelhecimento."

"Envelhecer não é inerente", decretou Bar Yam. "É genético. A possibilidade de aumentar a expectativa de vida de forma dramática é uma conclusão razoável. Na verdade, podemos articular essa ideia da forma contrária: por que não aceitamos isso como verdade? Por que a ciência diz que nossas vidas não podem ser estendidas? E a resposta é que nossa ideia de velhice é baseada em um modelo inválido."

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"Se essa é a base que a ciência supostamente utiliza para negar a possibilidade de estender nossa vida", ele acrescenta, "o ideal seria voltar e dizer 'tudo bem, que outras conclusões podemos tirar a partir disso?'"

Bar-Yam já pensou muito sobre esse problema e me disse que ele não apenas acredita que suas descobertas irão expandir a longevidade dos humanos: ele afirma que "é razóavel esperar uma expansão assustadora, como um aumento dessa expectativa em 5 ou 10 vezes."

Crédito: NECSI

"Não existe nenhuma razão para afirmar que nossa expectativa de vida é um limite intransponível", afirma Bar Yam. "Já temos exemplos de mutações que aumentam a expectativa de vida de nemátodos em cinco ou dez vezes, e sabemos que existem animais que não envelhecem de forma aparente." Ele também já pensou muito sobre qual seria o mecanismo que destruiria o envelhecimento, apesar desse não ser o tema de seu artigo.

"Embora essa característica seja genética, não quer dizer que a única forma de mudá-la seja por meio da manipulação genética", disse. "É possível que o uso de vitaminas, drogas e intervenções farmacêuticas sejam o suficiente."

No ano passado, um estudo publicado na revista Science revelou que quando a "proteína do crescimento", a GDF11, é administrada em ratos idosos, eles aparentemente param de envelhecer. Essa pesquisa levou o Michael Byrne, editor da Motherboard americana, a definir a velhice como uma doença. Também existem muitas pesquisas sobre telômeros, estruturas que protegem as extremidades dos cromossomos e que influenciam seu envelhecimento — um estudo de Stanford revelou que manipulação dos telômeros "parou o envelhecimento de células humanas."

Há outra questão essencial: será que a evolução está certa em controlar nossa longevidade? Se ninguém morrer, não estaremos correndo o risco de destruir esse já explorado planeta? Bar-Yam não tem muita certeza. Ele reconhece que a forma com que distribuímos nossos recursos é profundamente defeituosa. Mas ele também salienta que seríamos capazes de produzir comida suficiente para alimentar toda a população mundial, desde que proibíssemos práticas imprudentes como queimar comida para produzir combustíveis.

"Se decidirmos alterar nossa expectativa de vida intencionalmente,certamente teremos a responsabilidade de preservar nossos recursos", diz Bar-Yam. "Mesmo que alguém descubra um botão que aumente nossa expectativa de vida em centenas de anos, ele só funcionaria se resolvêssemos o problema da escassez de recursos naturais. Mas esses obstáculos ainda não são muito claros."

Tradução: Ananda Pieratti