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Tecnologia

Como os seres humanos podem evoluir e precisar de menos sono no futuro

Em 2055, a maior parte das pessoas dormirá apenas cinco horas por noite. A tecnologia ajudará a otimizar esse tempo.
Ilustração de Anita Rundles

Esqueça o formato clássico da cama, com colchão retangular e quatro pernas. Isso vai virar coisa do passado. Foque em outra imagem de local para sono: uma cápsula em forma de bolha e pijamas inteligentes que monitoram seu sono e ajustam temperatura, som e luzes.

Seres humanos passam um terço da vida dormindo, mas alguns pesquisadores da área acreditam que gadgets como esses podem reduzir este tempo. Podemos evoluir a ponto de dormir menos ao usar tecnologias de aprimoramento de conforto que, dizem, otimizariam nosso sono. A chave é conseguir o sono mais profundo e de maior qualidade em menos tempo – uma habilidade que os seres humanos vêm dominando ao longo de milhares de anos.

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Se você quer saber como trapacear o sono no futuro, observe o passado, diz David Samson, pesquisador do sono da Universidade de Duke, nos Estados Unidos. Com base em um estudo que prova que humanos dormem "de forma mais eficaz" do que nossos ancestrais primatas mais próximos, cientistas crêem que é possível reduzir as horas totais de sono a cada noite ao melhorar o ambiente em que se dorme.

Para explicar sua tese, Samson aponta para um macaco. O estudo revolucionário co-escrito por ele examinou 21 espécies de primatas e descobriu que humanos precisam de cerca de metade do tempo de sono que macacos e gorilas – por volta de sete horas por noite. (Lêmures dormem de 14 a 17 horas por noite e chimpanzés por volta de 11 horas e meia.)

Ao longo do tempo, os seres humanos deixaram de dormir em árvores. Mudamos para o solo, passamos a dormir perto de fogueiras e, mais tarde, fomos para as camas, onde ficamos mais confortáveis e seguros, com menos medo de "predadores". Agora temos um sono mais profundo, chegamos ao REM mais rápido e perdemos menos tempo com sono leve do que os primatas, de acordo com a pesquisa. A previsão é que continuaremos evoluindo nesse campo com ajuda da tecnologia.

"Por centenas de anos temos manipulado nossos ambientes, não o contrário. Não há motivo pelo qual não possamos usar a ciência para dar mais um passo adiante e continuar a otimizar o sono. Penso que, com o tempo, veremos cada vez mais cápsulas com controle de luz e temperatura se popularizando nos lares no futuro", disse Samson, antes de comentar que já existem tais dispositivos em estágios iniciais, ainda que caríssimos.

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Em 2055, de acordo com previsões de cientistas do Instituto de Ética e Tecnologias Emergentes e o especialista em sono Dr. Raj Dasgupta, a maior parte das pessoas dormirá apenas cinco horas por noite. A mudança já está em curso. Os norte-americanos dormem, em média, uma hora a menos por noite do que há 40 anos, explicou Dasgupta.

"Qualquer médico ou pesquisador sério te dirá que dormiremos menos no futuro", disse Dasgupta. "O tempo de sono total tem caído há anos. Nos anos 70 dormíamos de 7 a 8 horas, hoje de 6 a 7. Fazendo alguns cálculos, nos próximos 40 a 50 anos o número pode reduzir para 5 a 6 horas."

"E isso me assusta", comentou.

No passado, os humanos evoluíram – lentamente ao longo de milhares de anos – para reduzir o tempo de sono. Mas a tecnologia pode acelerar o processo, alertou. De estudantes a militares, todos querem descobrir os segredos por trás de dormir menos. Mas mexer com nossa biologia pode ter efeitos negativos em nossa saúde, disse.

"Apenas observe no que é dito sobre o sono em nossa sociedade. São coisas como 'Você dormirá quando estiver morto'e 'Camarão que dorme a onda leva'. Agora os millenials dizem 'O sono é um substituto péssimo da cafeína'. Isso quase promove de forma subliminar a ideia de que deveríamos dormir menos", afirmou Dasgupta. "É triste", notou. "O sono está associado a melhores humores e vidas."

Mas isso não impede empresas de sonharem com trapacear o sono. O setor de wearables que monitoram padrões de sono para melhorá-lo, como aparelhos de exercícios, vem crescendo rapidamente.

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Uma camiseta noturna, desenvolvida pela empresa de diagnóstico do sono Nyx Devices, usa tecidos "entremeados por eletrônicos" de forma a "monitorar a qualidade e quantidade do sono do usuário", de acordo com seu site. Modelos mais avançados podem chegar ao mercado em breve, monitorando respiração, batimentos cardíacos, pressão sanguínea e condutividade cutânea enquanto o usuário dorme.

Alarmes de ciclo do sono são outra forma de dormir melhor, dizem os pesquisadores. Os aparelhos monitoram a respiração e movimento do usuário durante o sono leve para que ele se sinta mais descansado. Esses passarão a ser usados em hotéis em 2035, de acordo com previsão do futurista Ian Pearson, contratado pela Travelodge em 2011 para estudar o futuro do sono.

"Alarmes de ciclo do sono monitorarão a atividade elétrica no cérebro e identificarão a melhor hora de acordar a pessoa dormindo para que se sinta mais descansado do que se acordasse em meio a um novo ciclo", escreveu Pearson no relatório.

A cama também terá papel importante nessa mudança, previu o autor.

Espaços esféricos fechados, semelhantes à cápsulas de sono – encontradas em aeroportos e escritórios moderninhos como os do Google e Uber – também podem ser desenvolvidos de forma a controlar automaticamente luz e temperatura, melhorando a eficácia do sono.

Cápsula de sonequinha no Google. Crédito: Flickr/Joe Loong

Um primeiro modelo já está disponível no mercado, chamado Tranquility Pod, ao custo de 30.000 dólares. A camada coberta por fibra de vidro tem o formato de um grande ovo. O aparelho controla sons, temperatura e luz de forma a "transportar corpo, mente e espírito rumo a um estado de relaxamento", de acordo com seu site. Ele conta ainda com um "sistema de biofeedback" que monitora os batimentos cardíacos e pulso do usuário, com espuma em formato oval e colchões d'água.

O domo esférico promove o descanso e privacidade ao eliminar as distrações ao redor, de acordo com a empresa. Uma pesquisa feita pela fabricante de cápsulas MetroNaps revelou que pessoas que haviam tirado sonecas de 20 minutos nestas tinham melhoria de 30% em seus níveis de alerta, tornando-as mais produtivas.

Dormir menos no futuro poderia deixar mais tempo livre para o trabalho e diversão. Mas temos que tomar cuidado ao mexer com a natureza humana, alerta Dasgupta. Uma sociedade cheia de gente que pensa estar descansada pode virar um pesadelo de saúde pública. "A privação do sono está associada à baixa imunidade. Pode ser preciso algo drástico antes que percebam o quão importante isso é", disse.

Não há como negar que a sociedade moderna está obcecada por dormir menos e se sentir bem. Onde há demanda, há mercado – e neste caso, um mercado voltado para a tecnologia. Mas é importante que as pessoas ouçam seus corpos, não só seus aparelhos, disse Dasgupta. "Não acho que menos sono seja o que nossos corpos queiram", comentou. "Mas acho que é o caminho que estamos seguindo."

Tradução: Thiago "Índio" Silva