Nós, do Terraform, recebemos uma quantidade impressionante de contos sobre sexo e máquinas; este é um tema que excita e assusta em igual proporção. É verdade que, do nascimento do cinema à ascensão da pornografia online, o sexo guiou o avanço tecnológico — mas talvez quando as tecnologias do prazer se tornarem mais sofisticadas, aquilo que nos separa das máquinas não será apenas o hardware, mas também o que estamos dispostos a sacrificar. Essa história ilustra esse futuro de forma arrepiante.
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— Os editores
A entregadora se esquivou do aglomerado raivoso que protestava na frente do bordel. A maioria dos manifestante eram mulheres, algumas despidas, todas com cartazes. Seus dois produtos — um macho e uma fêmea — a seguiram, cercados pela multidão. Ela torceu para que eles não sofressem nenhum dano. Quando eles ultrapassaram o grupo, a mulher olhou sobre seu ombro. Ela conseguiu ler um dos cartazes: "CARNE à venda". A tinta havia escorrido, mas a mensagem era bem clara. Outro ramo dominado pelas máquinas.A entregadora entrou no bordel segurando uma prancheta. Ela foi logo recebida pela Madame. Alta e pesada; calças formais e um blazer ajustado."Assine aqui", disse a entregadora."São os novos modelos? Preciso fazer a inspeção antes."A entregadora concordou."Tire a roupa."Em um único movimento, o modelo feminino arrancou seu vestido preto e ajustado pela cabeça e atirou-o no chão. Depois o sutiã. A calcinha. Por último, ela arrancou suas sapatilhas. A Madame checou seu corpo: estrias, uma barriguinha, peitos caídos. Ela parecia real."Meus modelos costumam ser mais bem cuidados", disse a Madame."Nossa especialidade é o realismo…"A Madame não respondeu. Ela abaixou sua mão direita e a enfiou entre as pernas da fêmea. Inseriu um dedo e o levou até o nariz."Vira."O modelo feminino obedeceu. Outro dedo foi inserido, ainda mais fundo do que o outro. Ela o moveu um pouco antes de retirá-lo. Sem dizer nada, a Madame andou até o macho.
A entregadora se esquivou do aglomerado raivoso que protestava na frente do bordel. A maioria dos manifestante eram mulheres, algumas despidas, todas com cartazes. Seus dois produtos — um macho e uma fêmea — a seguiram, cercados pela multidão. Ela torceu para que eles não sofressem nenhum dano. Quando eles ultrapassaram o grupo, a mulher olhou sobre seu ombro. Ela conseguiu ler um dos cartazes: "CARNE à venda". A tinta havia escorrido, mas a mensagem era bem clara. Outro ramo dominado pelas máquinas.A entregadora entrou no bordel segurando uma prancheta. Ela foi logo recebida pela Madame. Alta e pesada; calças formais e um blazer ajustado."Assine aqui", disse a entregadora."São os novos modelos? Preciso fazer a inspeção antes."A entregadora concordou."Tire a roupa."Em um único movimento, o modelo feminino arrancou seu vestido preto e ajustado pela cabeça e atirou-o no chão. Depois o sutiã. A calcinha. Por último, ela arrancou suas sapatilhas. A Madame checou seu corpo: estrias, uma barriguinha, peitos caídos. Ela parecia real."Meus modelos costumam ser mais bem cuidados", disse a Madame."Nossa especialidade é o realismo…"A Madame não respondeu. Ela abaixou sua mão direita e a enfiou entre as pernas da fêmea. Inseriu um dedo e o levou até o nariz."Vira."O modelo feminino obedeceu. Outro dedo foi inserido, ainda mais fundo do que o outro. Ela o moveu um pouco antes de retirá-lo. Sem dizer nada, a Madame andou até o macho.
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"Tire a roupa.""Ele está em boas condições", protestou a entregadora.O modelo virou a cabeça e olhou para a entregadora. Ela abaixou a cabeça. A Madame não tirou os olhos de suas novas propriedades." Tire a roupa."O macho obedeceu. Jeans e cuecas no chão, camisa levantada. Ele se agachou para desamarrar os sapatos."Tudo bem, pode ficar com os sapatos."O macho se levantou. Ele era mais conservado do que a fêmea. Mais bonito, também. A Madame abriu sua boca com a mão e a examinou, como se ele fosse um cavalo. Depois ela abaixou sua mão. Seus dedos brincavam e apertavam gentilmente enquanto a entregadora assistia desconfortavelmente. Movimentação na área genital."Bom… meia volta."Ele se virou. O mesmo tratamento da fêmea. Ela removeu seu dedo."E eles tem mais funções?"A entregadora suspirou longamente. "Os novos modelos podem emitir líquidos.""Com que frequência eles precisam ser recarregados?""Nós podemos cuidar disso para você."A Madame colou o ouvido no peito do macho. Ouviu um leve palpitar. Ela olhou para a entregadora. "O que mais?"A entregadora pegou um panfleto."Veja você mesma". A Madame olhou para o papel. Ele balançava entre os dedos raquíticos da mulher, sua aliança presa ao dedo apenas pelo osso.A Madame pegou o papel. Nele havia uma lista de upgrades: pode simular emoções (os olhos se dilatam, a respiração acelera, o coração bate mais rápido), auto-lubrificação, líquidos com odor artificial de suor, saliva, fluidos vaginais e urina; habilidade de ter uma ereção, fluido seminal com odor artificial, vermelhidão e hematomas realistas, sangue.
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"Isso é tudo?"A entregadora fez que sim com a cabeça. "Nós os pegamos de noite, os limpamos e trazemos de volta no dia seguinte. E o pagamento… vou precisar da metade agora". Sua voz vacilou com a palavra, como se ela estivesse barganhando.A Madame fez contato visual com a entregadora pela primeira vez. Ela parecia frágil. Faminta e doente, ou seja, normal para os parâmetros atuais. Ela não daria muito lucro. A Madame não conseguia controlar o impulso de avaliar estranhos — era um velho hábito."Eu costumo ficar com o que é meu", disse a Madame enquanto colocava a mão sobre o ombro do modelo masculino.A respiração da entregadora acelerou. "Nós fazemos todo o trabalho e assumimos todos os riscos.""O pagamento é diário?""Assim é mais fácil controlar as finanças…"A Madame travou contato visual pela segunda vez. Depois ela pegou a prancheta."Tudo bem."A caneta se moveu pela folha. Nome e sobrenome. Agora era oficial. A Madame devolveu a prancheta, mas a entregadora a ignorou. Sua mão voou até sua boca. Ela começou a tossir. Levemente, de início, depois com mais força. Tosse seca. Suas tripas pareciam querer sair de sua barriga. A Madame esperou pacientemente, até que a entregadora terminasse e se recompose."Desculpa", disse a entregadora, pegando a prancheta de volta."Vejo você mais tarde", respondeu a Madame.A entregadora hesitou. Então, abruptamente, ela se virou e sussurrou algo na orelha do macho. Algo rápido e doce.
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A Madame não pode ouvir o a mensagem. "Algum problema?""Apenas um comando que eu havia esquecido de passar."A Madame encarou a entregadora."E a fêmea?""Ah… o macho vai passar o recado."Nesse exato momento, o macho se dirigiu à fêmea e sussurrou. A Madame tentou escutar o recado, mas não ouviu nada. A entregadora deu um passo em direção à porta. "Eles estão prontos…" Ela acenou com a cabeça mais uma vez enquanto saía.A Madame ajeitou seus óculos. Ela olhou para o macho. Para a fêmea."Sigam-me", ela disse sobre o ombro.O macho e a fêmea encabeçavam a fila. Havia três outras mulheres e dois homens, todos andróides. A Madame vestia cada um de um jeito: meia arrastão, minissaia, jeans de cintura baixa, lingerie, um fio-dental. Ela deixou a nova fêmea com seu vestido preto. Para o macho, só cueca. Amanhã a roupa seria outra.Entra um homem. Altura mediana, magro, tímido."Ouvi que os novos modelos chegaram hoje. Será que—" o homem exitou, "— ele podem… ir ao banheiro?"A Madame deu ao cliente seu sorriso mais largo e caloroso."É claro. Esses são nossos novos modelos — e cá entre nós, querido, eu também gosto dessas coisas."Uma mentira que a Madame sempre repetia, independente do cliente ou do fetiche. Ela era uma artista. Uma voyeur. Uma ouvinte. Ela dava. Dava o que o cliente precisasse ouvir. Ela vendia aceitação.O cliente ignorou o macho e deu uma rápida olhada na fêmea. Sua aparência não era importante.
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"Como eu…""Igual aos velhos modelos, é só dizer o que você quer que ela cuida do resto."O cliente tirou sua carteira do bolso. Primeiro o dinheiro, depois um dos quartos vazios. A Madame fechou a porta atrás deles. O macho olhava para a Madame enquanto ela fazia esse caminho, mas sua atenção estava na porta. Um segundo cliente havia entrado. Outro Homem. Maior que o primeiro."Hank", disse a Madame, junto de um abraço e um sorriso.O homem sorriu de volta e a segurou com força, olhando para o macho por cima do ombro da Madame."Esse é novo", disse o cliente, afrouxando o abraço."Ele chegou hoje…"A Madame conhecia o histórico desse homem. Ele era bruto. Mas os novos modelos teriam que ser testados eventualmente. "Então ele vai custar um pouco mais."O cliente olhou o modelo mais de perto. Ele observou o abdômem liso se movendo com a respiração do modelo."Quanto?""100 a mais."O homem apoiou sua mão contra o peito do macho. Era macio e firme."Tudo bem", disse, ainda olhando para o modelo. "Eu quero o quarto da frente.""É claro."O homem e o macho seguiram a Madame até a primeira porta à direita. A Madame ficou do lado de fora e os dois entraram. Ela fechou a porta. Eram só os dois, agora.O homem vestiu sua calça. O macho não disse nada. Ficou lá, em silêncio. Respirando. Ouviu o som da porta se fechando. Ele estava sozinho. Com muita dificuldade, ele caminhou em direção ao espelho no canto do quarto. Seu reflexo o encarou. Seus olhos se focaram no seu dedo sem aliança. Ele olhou de novo para o espelho.
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Uma lágrima escorreu pelo seu rosto. Ele a limpou, em pânico. Piscou algumas vezes para secar as lágrimas antes de respirar fundo mais uma vez."Melhor eu do que ela", disse o homem para si mesmo.
Esse conto faz parte do Terraform, nossa casa de ficção futurista.Arte de Gustavo Torres.Tradução: Ananda Pieratti