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O Mundo está a ficar sem água

Já passámos a maior parte dos limites da sustentabilidade, por isso, seria importante saber quanta água nos resta. Estamos a esgotá-la muito rapidamente.
Sanjeev Gupta/ EPA

Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma VICE News.

Os seres humanos estão a esgotar os aquíferos subterrâneos em todo o Mundo a uma velocidade alarmante, ameaçando centenas de milhões de pessoas que dependem deles para sobreviver, de acordo com um abrangente estudo conduzido por investigadores da NASA e da Universidade da Califórnia, Irvine. 21 dos 37 maiores aquíferos do mundo estão a perder água a uma velocidade maior do que a de reposição, por culpa do crescimento populacional e das alterações climáticas. Treze dessas fontes estão a sofrer perdas significativas, incluindo o Sistema Aquífero árabe, que abastece a Arábia Saudita, a Síria, o Iraque e o Iémen, a Bacia Murzuk-Djado no Norte de África, a bacia Indus da Índia e do Paquistão e o Sistema Aquífero do Vale Central da Califórnia. "É muito sério", diz à VICE News Jay Famiglietti, do Laboratório de Propulsão a Jacto da NASA e um dos autores do relatório. "Em todo o mundo, estamos a usar mais água do que a que temos disponível numa base renovável".

Os cientistas analisaram 10 anos de dados dos satélites GRACE da NASA, que medem anomalias na gravidade da Terra provocadas por mudanças nos depósitos de água. De acordo com a UNESCO mais de dois biliões de pessoas confiam nos aquíferos como as únicas fontes de água potável. Perder essa água pode perturbar as economias e provocar conflitos, particularmente em áreas do Planeta que são, já por si, bastante instáveis, disse Charles Iceland do World Resources Institute. A Síria, por exemplo, viveu a pior seca da sua história nos anos que antecederam a eclosão da guerra civil em 2011. Os agricultores desesperados começaram a usar as fontes de águas subterrâneas, que foram secando e forçaram alguns deles a fugir das suas casas. Estima-se que um milhão de sírios das zonas rurais mudaram-se para as cidades do país. Um vasto leque de investigadores e funcionários do governo dizem que este êxodo rural massivo ajudou a alimentar o sentimento anti-governo. No Iémen, onde os depósitos de água em algumas áreas urbanas podem vir a secar até ao final da década, é provável que em breve possa viver-se uma situação semelhante, diz-nos Iceland. "As pessoas vêem o declínio nos níveis das águas subterrâneas e preocupam-se. Se ficarem sem água as populações terão de migrar para outro lugar", salienta Iceland à VICE News. "Como se já não existissem problemas suficientes com a dissolução do Estado, o Iémen poderá cair num caos ainda mais profundo". Um relatório de 2012 do Departamento de Estado descobriu que a escassez de água pode contribuir para a instabilidade em áreas cruciais para a segurança nacional dos EUA ao longo dos próximos 10 anos. O Conselho Nacional de Inteligência advertiu que a escassez de abastecimento de água pode levar ao colapso do Estado, inflamar as tensões regionais e levar os parceiros diplomáticos dos EUA a deixarem de cooperar nos objectivos políticos comuns. Mas, enquanto é claro que as águas subterrâneas estão a desaparecer em muitos lugares, não se sabe exactamente quanta água permanece nos aquíferos do Mundo, tornando-se impossível de saber quando podem ficar totalmente secos, diz Famiglietti. Muitos estão no subsolo e em locais de difícil acesso. Então, ao contrário das reservas de petróleo e gás, as estimativas precisas dos depósitos de água do Mundo são imprecisas. Por exemplo, as projecções para quando o Sistema Aquífero do Nordeste do Sahara poderá esgotar-se totalmente é de entre 10 a 21 mil anos. Entretanto, usar cada vez mais as fontes de água subterrânea está a causar estragos debaixo do solo - assim como à superfície. "Presentemente, estamos a provocar graves danos ecológicos. O chão está a afundar na Califórnia, os pequenos riachos estão a secar, o lençol freático está a desaparecer, os poços estão a secar, a qualidade da água é cada vez pior", sublinha Famiglietti à VICE News. "Já passámos a maior parte dos limites da sustentabilidade, por isso, seria importante saber quanta água nos resta. Estamos a esgotá-la muito rapidamente".