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Esta ex-militar persegue caçadores furtivos em África

Kinessa Johnson é uma celebridade do Instagram. Serviu o exército norte-americano, é modelo da indústria de armamento e combate a caça ilegal em países africanos.

Todas as fotografias pertencem ao Facebook de Kinessa Johnson.

Este artigo foi originalmente publicado na VICE USA.

Levanta pesos no ginásio, posa em atitude provocadora, mostra as suas dezenas de tatuagens, empunha espingardas, percorre selvas inexpugnáveis, ou fotografa-se sorridente a escassos metros de animais selvagens que poderiam despedaçá-la numa fracção de segundo. Kinessa Johnson tornou-se numa celebridade do Instagram muito graças ao seu trabalho: lutar contra os caçadores furtivos de alguns dos países mais remotos de África.

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Originária do Estado de Washington, onde se alistou no exército dos Estados Unidos, Kinessa deu uma reviravolta radical à sua vida. Um belo dia conheceu a VETPAW, uma organização que luta contra a caça ilegal em África com a ajuda de veteranos de guerra dos Estados Unidos. Soube que procuravam uma mulher para formar parte da guarda de parques em África e concorreu ao cargo. Foi seleccionada e nada voltou a ser o que era.

Kinessa, para além de trabalhar para a VETPAW, também é modelo para empresas de armamento. Passou uma longa temporada na Tanzânia e embora actualmente esteja de volta aos Estados Unidos, espera voltar brevemente a outro país africano.

VICE: Em que consiste exactamente o teu trabalho na VETPAW?

Kinessa Johnson: VETPAW é o acrónimo de Veterans Empowered to Protect African Wildlife. Somos um grupo de veteranos que prestámos serviço no Iraque e no Afeganistão. Os nossos conhecimentos e capacidade de liderança podem ser muito úteis quando aplicados à prevenção da caça de espécies em vias de extinção. Sou mecânica e instrutora na utilização de armas de fogo, conhecimentos que transmito aos guardas florestais africanos na sua luta contra a caça furtiva.

Este trabalho tem alguma coisa em comum com o que desempenhavas no exército dos Estados Unidos?

Na verdade não. São dificilmente comparáveis. Mas não me arrependo de nada do que fiz até agora. Tento olhar para trás e aprender com o que vivi.

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Apareces em muitas fotografias com armas. São assim tão necessárias para o teu actual trabalho?

Fico contente que me faças essa pergunta, porque me dá a oportunidade de esclarecer a situação: muitas dessas fotografias foram tiradas antes de ser membro da VETPAW, por isso não pertencem a esta etapa, nem ao meu trabalho actual.

A indústria de armamento procura mulheres que posem com armas para as suas revistas. É uma maneira de ganhar algum dinheiro.

Mas é inegável que tens uma relação muito íntima com as armas. Inclusivamente és modelo da indústria de armamento…

Sim, mas é um trabalho secundário. É o que se conhece como Tactical Model. Procuram mulheres que posem com armas para as suas revistas. Há quem acredite que é atractivo para os amantes de armas… Para mim, é simplesmente uma maneira de ganhar dinheiro extra.

Utilizas essas armas no teu trabalho actual? Alguma vez tiveste que disparar contra um caçador?

Não. Nunca tive de apertar o gatilho. O nosso objectivo é prevenir a caça furtiva, não é disparar contra ninguém. Queremos que os caçadores furtivos respondam perante a justiça.

A caça furtiva é um problema em África. Que medidas achas que deviam ser tomadas para o resolver?

A caça ilegal é um problema em muitas partes do Mundo, mas em África é um problema enorme. Falamos, sobretudo, de espécies em perigo de extinção. Um dos principais problemas é que em determinados países abundam teorias não demonstradas cientificamente, como a que diz que o dente de elefante é um poderoso afrodisíaco. Se a isto juntares que a pobreza na maioria destes países é endémica, o resultado é que muitas pessoas tentam ganhar a vida como podem e a caça furtiva é uma dessas vias. A solução seria, obviamente, que esses países tivessem economias auto-suficientes.

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Dirias que a situação piorou nos últimos anos?

Acho que sim, especialmente se virmos como o número de exemplares de algumas espécies, como o rinoceronte branco meridional, ou os elefantes, continuam a diminuir. Não há dúvida de que a caça furtiva é um problema cada vez mais preocupante.

Tens mais de 85 mil seguidores no Instagram. Porque é que achas que as pessoas fazem "like" nas tuas fotos?

É incrível! É surreal, nem sequer sei como explicá-lo. Sinto-me feliz de conseguir inspirar as pessoas e estar a lutar por uma causa que toca muita gente. Se puder fazer com que uma só pessoa se sinta motivada a tentar acabar com a caça furtiva, terei conseguido algo muito positivo.

Para além da caça furtiva, achas que as pessoas vêem, cada vez mais, a caça como algo desnecessário no Mundo actual?

Essa é uma pergunta que me fazem frequentemente. Há argumentos a favor e contra. Como alguém que luta contra a caça furtiva, só posso dizer que é algo absolutamente desprezível.