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Um Hacker Mandou Fotos Bizarras para uma Mulher Tiradas com a Webcam do Computador Dela

Após uma noite assistindo Netflix com seu namorado, Chelsea Clark recebeu de uma conta anônima uma série de fotos do casal da noite anterior, aparentemente tiradas pela webcam do laptop deles.

Os rostos foram borrados. Screenshot via Facebook.

Era o final de um dia longo: a canadense Chelsea Clark e seu namorado estavam se preparando para uma maratona de Netflix no laptop dele. "Com certeza, estávamos assistindo à Hora da Aventura", diz a barwoman de 27 anos. "Uma noite de quarta-feira bem normal."

Mas a noite íntima e totalmente comum do casal logo se tornaria outra coisa.

No dia seguinte, ao logar no Facebook depois do trabalho, Clark conta que seu sangue gelou. Uma conta anônima tinha mandado uma série de fotos do casal da noite anterior, aparentemente tiradas pela webcam do laptop deles. "Eram fotos muito íntimas", ela frisa.

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"Que casal fofo", era a única mensagem.

Assustada, Clark ligou imediatamente para a polícia de Toronto. "Era algo muito invasivo, como se alguém tivesse entrado na minha casa."

Esse tipo de incidente não é incomum, mas o caso de Clark é peculiar.

As imagens foram tiradas usando o laptop do namorado dela, um computador que Clark explica nunca ter usado. "Ele só usa isso para videogames e Netflix", ela explicou. A partir disso, o hacker conseguiu fazer a conexão com Clark, hackeando a conta dela no Facebook e o adicionando aos contatos da barwoman para poder enviar mensagens.

"Pelas minhas configurações de privacidade, só amigos podem me mandar mensagens", ela destaca, em relação à sua conta no Facebook. "Então, quando um desconhecido apareceu, achei estranho. Fui até o histórico, vi quando o usuário tinha sido adicionado e foi logo antes de as mensagens serem enviadas."

O especialista em segurança cibernética Eric Parent afirma que o contexto sugere que o perpetrador conhece o casal. "Ou estamos lidando com alguém que gastou tempo tentando entender o relacionamento dessas duas pessoas", disse Parent. "E isso exige investigação, já que não é só porque alguém te vê por uma webcam que a pessoa te reconhece."

O perfil (agora deletado) do Facebook usado para mandar as fotos oferece poucas pistas sobre a identidade do hacker (Mahmoud Abdo é um nome incrivelmente comum e provavelmente falso). Junto com as fotos de perfil de Heath Ledger como o Coringa e estranhos ditados motivacionais, a pessoa seguiu várias páginas de clubes de futebol e pertenceu a um grupo chamado "Spammers and Hackers". A locação listada do usuário era Cairo, Egito.

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Parent acredita que esse detalhe seja apenas para despistar. "É loucura pensar que alguém sentado lá no Egito vai pensar: 'Vou traumatizar um casal do outro lado do planeta'", ele destaca, acrescentando que o tipo de assédio à longa distância geralmente vem acompanhado de algum tipo de extorsão. "É muito mais provável que seja alguém que eles conhecem."

Deixando a motivação de lado, Parent alerta que hackear uma webcam é relativamente fácil. "Se tem acesso a um computador físico, você só precisa de algum conhecimento técnico e uma chave USB para fazer isso", ele comenta. Acesso remoto, ele explica, requer algum tipo de envolvimento do usuário. "Algo tem de ser clicado, um documento tem de ser aberto", ele completa. Mas, no geral, é um hack simples que pode ser difícil de detectar. "É muito difícil se proteger desse tipo de ataque porque são coisas que fazemos normalmente, como abrir e-mails. Essas coisas acontecem", diz Parent. "O melhor que se pode fazer é ter um software de segurança, manter tudo atualizado e cruzar os dedos."

O casal ainda não faz ideia de como o computador foi acessado. "Meu namorado não tem nada de diferente em seu histórico de navegação, nenhum alerta de segurança, nenhum vírus", pontuou Clark. "Ele rodou um teste – e deu tudo normal."

Segundo Clark, a intervenção inicial da polícia ofereceu pouca assistência. "Eles vieram até aqui e fizeram perguntas. Eles foram simpáticos, educados e completamente inúteis."

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Ainda de acordo com a barwoman, o policial contou que eles não tinham os recursos para lidar com esse tipo de crime. "Ele disse 'Talvez seja só [o caso de] bloquear essa pessoa e esperar que ela não entre em contato de novo'", ela diz. "Ótimo, claro."

A VICE contatou a polícia de Toronto e foi jogada de um departamento para o outro, uma série de telefonemas kafkianos que ilustram como é complicado navegar por esse tipo de crime.

Quando o detetive responsável pelo caso de Clark, Constable Garth Naidoo, finalmente foi encontrado, ele alegou que não podia dar muitas informações. "Ainda estamos no começo da investigação."

Naidoo disse à VICE que sua equipe precisa de mais detalhes de Clark para poder seguir em frente, mas que não tinha conseguido falar com ela. Em seguida, ele perguntou como tínhamos entrado em contato com ela e se podíamos passar o nome do empregador de Clark e outro número de telefone.

O detetive afirmou que o comentário do primeiro policial, sobre a falta de recursos para cibercrimes, tinha sido mal interpretado. "Não é esse o caso, temos toda uma unidade devotada a esse tipo de coisa", ressaltou Naidoo, aconselhando a VICE a entrar em contato diretamente com o departamento de crimes tecnológicos.

No entanto, ligações para a telefonista da polícia resultaram em respostas confusas da equipe, que parecia não ter ideia de que a força tinha um departamento de tecnologia ou crime cibernético.

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Quando a ligação da VICE foi transferida para o Centro de Operações da Polícia de Toronto, a mulher do outro lado da linha reiterou que a equipe de crimes tecnológicos não falava diretamente com repórteres e que os detalhes do caso de Clark só poderiam ser obtidos através de uma requisição de informação.

Ela disse que era provável que Clark estivesse escondendo detalhes. "Obviamente, ele conseguiu a informação de algum jeito. Ela deve ter colocado isso lá", ela comentou sobre o hacker. "Ela está perdendo alguma coisa ou não está sendo sincera sobre o que aconteceu."

Quando perguntei se ela poderia comentar sobre esse tipo de investigação em geral, a mulher respondeu à VICE que eles não eram "a polícia da internet" e que depende das pessoas "se autocensurar".

"Não podemos ir até o Egito e dizer o que ele tem de fazer", ela acrescentou, desligando quando perguntei seu nome.

Parent explica que esse tipo de crime é difícil para as autoridades. A polícia pode abrir processos de fraude de identidade, assédio e voyeurismo. Mas rastrear o perpetrador pode ser um desafio. No caso de Clark, Parent diz que a polícia canadense tem o poder legal de recuperar os detalhes do usuário, incluindo o endereço de IP, diretamente dos administradores do Facebook. "Você tem um contexto em que sabe que uma conta é falsa; logo, eles não devem ter problemas em conseguir essa informação", ele acrescenta.

O possível ângulo internacional acrescenta outra complicação. "Se você estiver lidando com um país membro da Interpol, então isso é viável", ele diz. "No entanto, se a polícia de Toronto ligar para a Interpol e disser 'Alguém hackeou um laptop e tirou fotos', bom, eles têm outras coisas com que se preocupar."

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Ele reitera que a frequência e o volume dos crimes cibernéticos, combinado a uma clara falta de conhecimento para se lidar com o assunto, significam que os casos geralmente ficam sem solução. "Há muitas histórias como essa", comenta Parent. "Só quando a vida de alguém está em risco ou alguém morre esses casos sobem para o topo da lista."

Clark contatou o Facebook e o Netflix para avisar sobre o problema. O Facebook alegou que a conta não violava seus termos de serviço; apesar disso, um representante da rede social disse à VICE que a conta foi removida. O Netflix não respondeu aos pedidos de comentário nem ao e-mail de Clark.

Depois das ligações da VICE, Clark contou que a polícia finalmente entrou em contato com ela e que viria buscar o laptop e o roteador. "Eu só quero saber que isso não vai mais longe", ela diz.

"Se isso é algo que acontece e só temos de ter mais cuidado ao usar o computador, tudo bem", ela afirma, acrescentando que colocou um bandeide por cima da webcam. "Mas eu gostaria de saber de onde essa pessoa é, que ela não é alguém que saiba onde moro."

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Tradução: Marina Schnoor