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Temer se acerta com o PSDB e Erundina fica de fora dos debates na semana da política

Senadores do Norte e Nordeste podem barrar a renegociação das dívidas, Serra é acusado de tentar comprar voto do Uruguai no Mercosul e outras mumunhas da vida pública.
Crédito: Agência Brasil.

Semana vai, semana vem, e o governo interino conta os dias ansiosamente para a sua legitimação final: o julgamento derradeiro da presidente afastada Dilma Rousseff. Depois da pífia repercussão da sua "Carta aos Senadores e ao Povo Brasileiro", Dilma decidiu fazer um apelo final, que deve render pelo menos algum capital político e boas citações para os livros de história: ela vai se defender pessoalmente diante dos senadores na sua sessão de julgamento, no dia 29. Dificilmente vai funcionar para reverter o pesado placar contra sua volta à presidência, mas pode animar a militância anti-Temer, a exemplo da sua histórica resposta à canalhice do senador Agripino Maia (DEM-RN) quando ainda era chefe da Casa Civil de Lula. E para não dizer que é tudo favas contadas, uma última cartada do PT contra o impeachment parece estar andando: a OEA pediu explicações ao governo brasileiro sobre o processo.

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Já o interino, se achando fora de risco, tenta apaziguar a relação com o PSDB, que andou criticando o ministro da Fazenda Henrique Meirelles na tentativa de frustrar os precoces planos de reeleição de Temer. Chamou os tucanos pra jantar, avisou que Aloyzio Nunes (PSDB-SP), líder do governo no Senado, vai poder participar das reuniões ordinárias do Planalto e parece que melhorou na fita – segundo o senador Aécio Neves (PSDB-MG), essa turminha do barulho vai tocar uma "agenda ousada e corajosa" na economia.

Quem não está de boas com Temer são os governadores – e, por consequência, os congressistas – do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Como o projeto de renegociação das dívidas dos estados, que ainda não avançou por falta de quórum na Câmara, contempla principalmente o Sul e Sudeste (com 84% da dívida), os chefes dos outros estados querem também sua cota de investimentos do governo federal, e para isso, ameaçam barrar a proposta no Senado. Os governadores do Nordeste têm uma desconfiança especial do governo interino: Temer transferiu para o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), controlado pelo PMDB, verbas que antes eram destinadas diretamente aos estados, numa tentativa de ajudar os candidatos à prefeitura do PMDB na região – e atrapalhar os adversários, obviamente.

Já a dupla de ministros mais polêmica e eleitoreira do governo não passa uma semana sem aprontar das suas. Alexandre de Moraes, da Justiça, disse que o Brasil não precisa de pesquisa sobre segurança pública, e sim de chumbo grosso – ou seja, mais armas. A CBC e a Taurus agradecem. Já o ministro das Relações Exteriores José Serra esculhambou-se de vez ao ser acusado pela chancelaria do Uruguai de tentar "comprar o voto" do país na disputa pela presidência do Mercosul, na tentativa de barrar a Venezuela da rotatividade do cargo. Falando em ministros, o ministro do STF e presidente do TSE Gilmar Mendes desagradou geral ao afirmar (e insistir) que a Lei da Ficha Limpa foi "feita por bêbados" – seu colega de STF Luís Roberto Barroso saiu em defesa da lei, e muitos congressistas também ficaram enervados com a declaração de Mendes.

E com o fim das Olimpíadas, quem vem aí? Sim, ela, a esvaziadora do Congresso, a medidora de buracos na rua, a multiplicadora de memes e vídeos bizarros: a eleição municipal. Numa grande prova do nível de pragmatismo político (pode chamar de cara de pau mesmo) que pode ser esperado no próximo mês e meio, Ciro Gomes (PDT-CE), o homem que seus amigos de esquerda começaram a gostar, anunciou seu apoio a Pedro Paulo (PMDB-RJ). Paulo, candidato de Paes que se licenciou para votar a favor do impeachment (aquele que Ciro chama de "golpe"), também é conhecido como o candidato que bateu na mulher, fez ela pedir desculpas (no estilo Dick Cheney) e teve o caso arquivado pelo STF.

Já em São Paulo a disputa só melhora. Marta Suplicy (PMDB), João Dória (PSDB) e Major Olímpio (SD) barraram Luiza Erundina (PSOL) de participar dos debates na televisão – o seu partido tem apenas 6 deputados na Câmara Federal, e apenas com 9 poderia ser convidado autonomamente para os debates, pela nova lei eleitoral, ou então com a aprovação de 2/3 dos seus adversários qualificados. Fernando Haddad (PT) e Celso Russomanno (PRB), além do presidente do PSDB paulista, aprovaram a participação da candidata, que está em terceiro lugar nas pesquisas eleitorais. A ex-prefeita apelou ao STF, que deve julgar a ação na próxima semana, depois do debate paulistano na Rede Bandeirantes.

Enquanto isso, os candidatos mais cotados vão fazendo suas lambanças. Haddad fez o Geraldo Alckmin e afirmou que a ameaça de greve dos professores municipais tem "caráter político" (jura?), enquanto Dória, sempre ele, posa em foto com o chefe da Máfia dos Fiscais, embolsa cheque de R$ 20 mil de empresa investigada de ser fachada na Lava Jato e fala que vai extinguir secretaria que não existe – além de ter que voltar atrás e prometer manter a Secretaria de Pessoas com Deficiência. Pelo menos podemos nos alegrar com Marta Suplicy, nova candidata ao prêmio José Serra de Memética, tentando dançar ciranda com a criançada.

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