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Veículos independentes de Cuba recusam ajuda de Trump para melhorar a Internet

Os portais que supostamente seriam ajudados com a medida alegam que não querem ser vistos como porta-vozes de Washington.
Foto por Alejandro Ernesto/EPA.

Matéria originalmente publicada na VICE México .

Os principais veículos independentes de Cuba disseram que não desejam ter qualquer relação com a iniciativa anunciada pelo governo de Donald Trump para estimular o surgimento de mais veículos de notícias, sob a justificativa de que o projeto interfere na política da ilha e os veículos pareceriam porta-vozes de Washington.

O Departamento de Estado dos Estados Unidos anunciou no mês passado a criação de uma Força de Tarefa sobre Internet para Cuba, que se reuniu pela primeira vez na última quarta-feira (7) em Washington, nos EUA, com o objetivo de analisar as “oportunidades para expandir o acesso à Internet e aos meios independentes” na ilha caribenha.

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A iniciativa foi criticada pelo governo cubano, que a considerou uma ação subversiva, assim como pelas organizações e pessoas que supostamente seriam ajudadas.

“Não estamos falando somente de algo que poderia criar tensões para a situação política do país, mas de algo que pode prejudicar a credibilidade e a imagem de independência dos meios alternativos” disse Elaine Díaz, de 32 anos, editora e fundadora em 2015 do site Periodismo de Barrio.

Nos últimos anos, “millenials” cubanos, como Díaz, fundaram diversos veículos de notícias independentes publicados na rede graças à expansão da cobertura de internet na ilha e devido também a uma maior abertura econômica e social.

Embora a Constituição de Cuba proíba os veículos privados, esses sites vêm sendo tolerados até o momento, contanto que não sejam “contrarrevolucionários” — termo utilizado pelo Governo para catalogar aqueles que, de acordo com sua visão, buscam derrubar o sistema socialista.

Esses sites têm minado progressivamente o monopólio estatal dos meios de comunicação, disponibilizando um leque de pontos de vista e de vozes em Cuba, oferecendo reportagens independentes e conquistando prêmios jornalísticos de prestígio.

Os blogueiros governamentais, no entanto, começaram a atacar esses meios independentes após o anúncio da iniciativa do Departamento de Estado, como se o plano fosse uma prova de que tais veículos seriam produtos da política dos Estados Unidos.

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O anúncio é prejudicial “por dar argumento, por dar ferramentas a (…) setores mais conservadores do poder em Cuba que buscam uma forma de nos associar ao inimigo para reduzir nossa presença na sociedade cubana”, argumentou José Jasán Nieves Cárdenas, de 30 anos, diretor de El Toque, uma plataforma voltada para o empreendedorismo e a cidadania.

Nieves afirmou que a aproximação entre Estados Unidos e Cuba anunciada em 2014 pelo ex-presidente norte-americano Barack Obama e o líder cubano Raúl Castro tinha aliviado as tensões na ilha e permitiria o florescimento de iniciativas da sociedade civil.

As medidas do presidente Trump para reverter a normalização das relações tiveram o efeito oposto, acrescentou Nieves.

“A política de Trump propõe a destruição, a derrubada do governo cubano”, disse Miguel Alejandro Hayes, de 22 anos, que escreve para o blog La Joven Cuba e lançou uma carta aberta de protesto contra o Departamento de Estado devido à Força de Tarefa sobre Internet. “E não estamos de acordo com isso”, acrescentou.

Cuba bloqueia o aceso a sites que considera veículos dissidentes, como o da famosa blogueira Yoani Sánchez, e a outros veículos antigovernamentais com sede em Miami.

Até o momento, o governo cubano não bloqueou novos veículos que, embora critiquem a política governamental, não pedem o fim do projeto socialista da ilha.

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