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Políticas conservadoras ajudam no aumento da taxa de HIV entre jovens gays, diz estudo

Levantamento aponta que influência da bancada "boi, bala e Bíblia" reduziu programas preventivos pelo país.
Foto: Mácio Ferreira/Ag. Pará via Fotos Públicas.

O Brasil é considerado um dos países-modelos no tratamento da AIDS, porém nos últimos anos tem se mostrado ineficaz para combater a transmissão do vírus entre a população jovem. É o que mostra um estudo encomendado pelo Ministério da Saúde que entrevistou 4.176 homens e fez testes de HIV em 90% dos entrevistados. Os resultados, segundo o estudo publicado em maio deste ano, foram acima das expectativas com 18,4% de resultados positivos em comparação a outro feito com a mesma metodologia em 2009, com 12.1% de resultados similares.

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O levantamento também apontou que as causas do aumento também estão ligadas à falta ou diminuição de programas e campanhas que conscientizem o uso de camisinha e outros cuidados contra a HIV e DSTs, influenciados pelo crescimento da bancada “Boi, bala e Bíblia” no Legislativo que regrediram em programas focados em questões de gênero e sexualidade, especialmente os que englobam a população homossexual masculina.

Para abrigar todas as classes sociais, etnias e regiões, o estudo foi realizado em 11 capitais brasileiras e no Distrito Federal com uma média de 350 homens por cidade.

Dos mais de quatro mil entrevistados:

- 58,3% têm menos de 25 anos idade;

- 83.0% são solteiros e a maioria pertence às classes C e D;

- os homens que toparam fazer o exame de sangue foram testados duas vezes e metade destes fizeram o teste pela primeira vez na vida;

- 83,1% se declaram gays, 12,9% heterossexuais ou bissexuais e 4% outros;

- 75% dos entrevistados afirmam fazer sexo exclusivamente com homens.

Entre 2006 e 2015, a taxa de transmissão entre jovens de 15 a 19 anos foi acima de três vezes mais e entre os de 20 a 24 anos, duplicou. No mesmo período, o contágio entre homens que fazem sexo com outros homens aumentou de 35.3% para 46.2% sendo 31% a mais do que comparado a outras categorias de homens com HIV. Brasília é a cidade de menor prevalência do vírus, com 5.8%, e São Paulo, a maior, com 24.8% de prevalência.

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Segundo os pesquisadores que participaram do estudo, já se pode falar de uma segunda onda da Aids, sendo o Brasil um dos países que têm demonstrado um aumento no contágio de HIV entre homens que fazem sexo com outros homens.

"O crescimento do apoio da bancada 'Boi, bala e Bíblia' em um congresso considerado o mais conservador na história da democracia do país levou a redução nas pautas de gênero e sexualidade e reduziu o apoio a programas que focam nas necessidades de homens que fazem sexo com homens. Inclusive, houveram grandes cortes de verba ou desmantelamento de programas de pesquisa, prevenção e tratamento na área da saúde", diz o estudo.

Somada à falta de informação por parte do governo brasileiro, a mudança no comportamento sexual entre os jovens entrevistados também influencia no aumento do vírus no país. Nas entrevistas conduzidas, a frase “a AIDS não me assusta mais” usada por alguns jovens foi destacada no estudo, mostrando que essa faixa etária dá menos importância ao sexo seguro e o risco de contrair HIV por causa dos tratamentos disponíveis na saúde pública e medicamentos de profilaxia.

A pesquisa conclui que para a redução da taxa de infectados no Brasil é preciso investir em abordagens e campanhas que envolvam as comunidades LGBT e também que falem com os jovens para conscientizar sobre os riscos da HIV e a importância de se proteger durante o sexo. “Prevenir a AIDS faz sentido em diferentes níveis, mas para governos que estão cortando o orçamento da saúde, reduzir os índices de transmissão é essencial”, conclui o estudo.

Leia mais sobre o estudo aqui.

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