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Filmes

"Temporada" tece a poética das histórias comuns do Brasil

Premiado em diversos festivais, longa-metragem do mineiro André Novais conta a história de uma agente no controle de endemias em Contagem.
2 Temporada
Crédito: Divulgação

Parece que o filme do cineasta mineiro André Novais Oliveira não poderia ter sido lançado numa época melhor. Verão na potência máxima e com ele o surto de dengue no Brasil. No segundo longa de Novais, a protagonista Juliana trabalha como agente no combate de endemias em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte (MG). Sob o sol bravo, subindo ladeiras e batendo com força no portão das residências de bairros periféricos, a protagonista vasculha quintais tipicamente brasileiros cheio de plantas, entulhos e pneus vazios encostados numa parede, esquecidos. Um trabalho que todo mundo conhece por já ter recebido esses funcionários da prefeitura de sua respectiva cidade em casa, mas que poucos sabem os perrengues da atividade.

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O filme Temporada não fala sobre os riscos da dengue, porém. O foco é Juliana, uma jovem mulher que acaba de se mudar para Contagem ao saber de última hora que passou no concurso público para a função de agente no controle endêmico na cidade. Um tanto introvertida e de olhar triste, Juliana enfrenta os desafios de sua nova vida, num emprego que não paga muito e a longa espera por seu marido, Carlos, que prometeu pedir as contas no emprego antigo em outra cidade para começar uma vida nova com a esposa.

Juliana é de poucas palavras e se nega a contar sobre suas tristezas e aflições até para os colegas do novo trabalho, que se mostram unidos e atenciosos. E é assim que Temporada vai se desenvolvendo nas descobertas e na tomada da própria vida da protagonista. Grace Passô, atriz mineira veterana do teatro e um das fundadoras da companhia de teatro Espanca! na capital mineira, levou Juliana à vida nas telas para o longa e contracenou com atores e atrizes profissionais e outros amadores.

A atuação de Passô envolve o espectador, que acompanha a mudança gradativa de Juliana de uma mulher introvertida de olhar triste para uma Juliana independente e confiante. “Eu gosto muito desse personagem, da Juliana”, conta Grace. “A Juliana é uma figura que está num momento de muitas transformações e nessa temporada de transformações ela vai redescobrindo relações afetivas e redescobrindo a paisagem e toda uma forma de viver. É um personagem que experimenta um novo olhar para o mundo. É uma mulher que tá reconfigurando seu olhar para as coisas.”

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Assim como o primeiro longa de Novais Ela chega na quinta, o segundo longa também tem aspectos autobiográficos do diretor na história. André, em 2007, trabalhou como agente no combate de endemias em Minas Gerais durante sete meses. Com a mesma naturalidade e fluidez poética dos seus curtas e o seu primeiro longa, os atores se entrosam com facilidade e dão vida à trama. Um dos agentes, interpretado por Hélio Ricardo, de fato exerce essa função no dia-a-dia.

“Foram vários tipos de experiência de atuação. Desde a Grace que tem muito tempo de atuação, outros atores com uma experiência um pouco menor e ator, digamos assim, não-profissionais, como o caso dos meus pais que já tinham atuado no Ela Volta na Quinta”, explicou Novais, após a sessão do filme. Assim como Juliana, André trabalhou como agente no controle de endemias em Belo Horizonte e lá onde conheceu Hélio e Jaque, que também atuam no filme como colegas de trabalho da protagonista. “Eu sempre fiquei fascinado com essa coisa de entrar na casa das pessoas, cada pessoa é diferente, é um universo diferente. As pessoas servirem um café ou aquelas pessoas que não querem sua visita. Geralmente, é uma galera mais atenciosa e hospitaleira”.

Assim como na história, o filme foi feito em bairros de periferia de Contagem. As cenas são devagares e dá para sentir até o sol batendo na nuca ao acompanhar as descidas e subidas dos personagens. As casas com quintais cheio de tralhas, típicos de qualquer casa brasileira comandada por trabalhadores, mostra o Brasil comum e quem forma ele.

E a poética de Novais transbordou. Temporada foi elogiado e premiado em diversos festivais de cinema, marcando também os dez anos da produtora Filmes de Plástico, onde Novais trabalha junto com outros diretores de Contagem como Gabriel Martins, Maurilio Martins e Thiago Macêdo Correia. O filme estreia essa quinta-feira (17) em cinemas selecionados, através do projeto Sessão Vitrine Petrobras.

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