O que é que vos vem à cabeça quando ouvem um nome assim? Algo tropical, claro. Tabaco? Que falta de originalidade. Quando conheci o projecto, senti uma lufada de ar fresco: praias douradas, água cristalina, boa música e um mojito na mão — o sol estava perfeito e o mojito bem gelado.E isto apenas nos 20 segundos iniciais da primeira faixa. Querer conversar com o gajo responsável por este trabalho foi o passo lógico seguinte. Era suposto ser uma entrevista, a minha primeira para a VICE, mas foi uma conversa. Uma conversa agradável. Conversámos, cada um com a sua máscara, sobre isto e sobre aquilo. Vieram e foram ideias, ele falou, eu ouvi. Eu perguntei, ele respondeu — eu absorvi.Entre as muitas histórias que fiquei a saber da adolescência dele, a que me suscitou maior interesse foi a inspiração de “One Ounce”: o Tropical contou-me que a música se fez depois de uma bela noite de partilha de substâncias psicotrópicas com amigos — tiveram aquele ataque de munchies e o Mac foi o que estava mais à mão (quem é que não tem uma história semelhante?). O problema é que apareceu um carro da polícia que os obrigou a encostar. O Tropical (que quer manter-se anónimo) conduzia um veiculo que não o dele, sem se encontrar no seu perfeito juízo, e estavam todos naturalmente assustados (eu também estaria). Felizmente, o agente recebeu uma chamada e foi-se embora — ficou sem perceber que eles estavam a viajar de forma metafórica. Agora, da próxima vez que ouvir essa música, a sirene vai fazer mais sentido.Juro que sou mais bonita sem máscara.Ei, por falar nisso: momento ideal para partilharmos um charro — foi o que fizemos. Ele lá, eu cá, via Skype, mas em sintonia. Ouvi a nova faixa, “debris\” (lançada aqui em primeira mão), e senti a vibe dele — não foi preciso estarmos juntos. Ele tinha uma máscara, eu outra, mas sorrimos um para o outro por baixo delas, enquanto partilhávamos emocionalmente esta viagem.Ando nisto há algum tempo e já conheci de tudo: dotados, iludidos, geniais, sem talento, deuses do palco, pessoal que se devia dedicar à horticultura. Mas com a paixão que ele tem pela música nacional, poucos existem como ele. A sua fé é contagiante. Houve um surto de êxtase da parte dele a certa altura — ele estava de máscara, lembram-se?, mas deste lado senti a corrente eléctrica quando lhe perguntei o que sentia ao compor. Pela máscara só lhe via os olhos, mas sabia que estava feliz. Aquelas coisas óbvias.Múltiplas ideias, vontade de extravasar limites (ou falta deles) no processo criativo. A conversa deu aso à sua imaginação e à minha. Gostei desta cena de estarmos mascarados. Estive duas horas a falar e a ouvir sem, em momento algum, conhecer um rosto. Se conhecem a identidade de Tropical Tobacco, façam o favor de serem uns queridos e dizerem-me, porque ele tornou-se no meu melhor amigo. Se me esqueci de alguma coisa, espero que entendam que a música completará por mim.
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