FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Fui ao Skype fumar um charro com o Tropical Tobacco

Uma viagem emocional.

O que é que vos vem à cabeça quando ouvem um nome assim? Algo tropical, claro. Tabaco? Que falta de originalidade. Quando conheci o projecto, senti uma lufada de ar fresco: praias douradas, água cristalina, boa música e um mojito na mão — o sol estava perfeito e o mojito bem gelado.

E isto apenas nos 20 segundos iniciais da primeira faixa. Querer conversar com o gajo responsável por este trabalho foi o passo lógico seguinte. Era suposto ser uma entrevista, a minha primeira para a VICE, mas foi uma conversa. Uma conversa agradável. Conversámos, cada um com a sua máscara, sobre isto e sobre aquilo. Vieram e foram ideias, ele falou, eu ouvi. Eu perguntei, ele respondeu — eu absorvi.

Publicidade

Entre as muitas histórias que fiquei a saber da adolescência dele, a que me suscitou maior interesse foi a inspiração de “One Ounce”: o Tropical contou-me que a música se fez depois de uma bela noite de partilha de substâncias psicotrópicas com amigos — tiveram aquele ataque de munchies e o Mac foi o que estava mais à mão (quem é que não tem uma história semelhante?). O problema é que apareceu um carro da polícia que os obrigou a encostar. O Tropical (que quer manter-se anónimo) conduzia um veiculo que não o dele, sem se encontrar no seu perfeito juízo, e estavam todos naturalmente assustados (eu também estaria). Felizmente, o agente recebeu uma chamada e foi-se embora — ficou sem perceber que eles estavam a viajar de forma metafórica. Agora, da próxima vez que ouvir essa música, a sirene vai fazer mais sentido.

Juro que sou mais bonita sem máscara.

Ei, por falar nisso: momento ideal para partilharmos um charro — foi o que fizemos. Ele lá, eu cá, via Skype, mas em sintonia. Ouvi a nova faixa, “debris\” (lançada aqui em primeira mão), e senti a vibe dele — não foi preciso estarmos juntos. Ele tinha uma máscara, eu outra, mas sorrimos um para o outro por baixo delas, enquanto partilhávamos emocionalmente esta viagem.

Ando nisto há algum tempo e já conheci de tudo: dotados, iludidos, geniais, sem talento, deuses do palco, pessoal que se devia dedicar à horticultura. Mas com a paixão que ele tem pela música nacional, poucos existem como ele. A sua fé é contagiante. Houve um surto de êxtase da parte dele a certa altura — ele estava de máscara, lembram-se?, mas deste lado senti a corrente eléctrica quando lhe perguntei o que sentia ao compor. Pela máscara só lhe via os olhos, mas sabia que estava feliz. Aquelas coisas óbvias.

Múltiplas ideias, vontade de extravasar limites (ou falta deles) no processo criativo. A conversa deu aso à sua imaginação e à minha. Gostei desta cena de estarmos mascarados. Estive duas horas a falar e a ouvir sem, em momento algum, conhecer um rosto. Se conhecem a identidade de Tropical Tobacco, façam o favor de serem uns queridos e dizerem-me, porque ele tornou-se no meu melhor amigo. Se me esqueci de alguma coisa, espero que entendam que a música completará por mim.