FYI.

This story is over 5 years old.

Games

O campeonato do Mundo em jogos vintage

"Parece real". Nem acredito que dizia isto há 15 anos atrás.

A Copa do Mundo já vai nas meias finais e, embora Portugal já não faça parte das contas há algum tempo, tem sido tão entusiasmante que por esse mundo ligam-se centenas de consolas com o último simulador da modalidade pronto a arrancar (quem não quer reescrever a história do Costa Rica – Holanda, ou até alterar os destinos da selecção portuguesa na prova?). Em contraste com o fotorrealismo dos dias de hoje em que aos maiores craques não falta um cabelo na sua contraparte virtual e em que podes desafiar online, a qualquer instante, outros adversários de todo o mundo, relembramos aqui os títulos inesquecíveis de outros mundiais para sistemas igualmente míticos.

Publicidade

A estreia no que a jogos baseados na maior competição de futebol do mundo nem foi assim tão auspiciosa quanto isso.

World Cup Carnival,

para a ZX Spectrum, não foi mais do que a adaptação em cima do joelho de um jogo anterior, World Cup Football, ao campeonato do mundo no México de 86. Para além disto evidenciar a lei do menor esforço (que até acontece hoje em dia também nos videojogos do género, segundo se diz por aí), o jogo é também péssimo: difícil de controlar, esteticamente horrível e frustrante, só se safava por ter um modo dedicado aos penalties algo divertido. Ah, e podem jogar com Portugal, mas infelizmente não podem fazer greve em Saltillo nem prestar uma visita às prostitutas (que o

New Star Soccer

veio repor, há uns anos). Realismo comprometido, portanto.

Se entre 86 e 90 o salto tecnológico foi gigantesco, o mesmo não se poderá dizer entre 90 e 94. Em

World Cup Italia '90

 vês o estádio a partir do céu e os jogadores reduzem-se a cabeças com penteados à tigela, ombros e algo que deve representar as pernas. Para escolheres a selecção desejada, tens usar um mapa mundo nada preciso (é quase impossível acertar na Coreia), e permitia-te escolher o onze inicial, de acordo com as estatísticas e habilidades de cada jogador (não que isso importasse muito, já que não se notavam as mínimas diferenças em jogo entre cada um). O jogo até é bastante divertido, e onde importa assinalar a ausência de faltas, o que só pode ter criado as maiores desavenças entre amigos. Quatro anos depois,

Publicidade

World Cup USA 94

 também para a Mega Drive (ou Genesis nos Estados Unidos, saudades Phil Collins), tornou os jogadores menos semelhantes a caricas, acrescentou o árbitro em campo (e, portanto, faltas e sanções disciplinares) e dava uma nova perspectiva táctica ao jogo. Procurava introduzir também maior realismo e aproximar o jogo de uma transmissão televisiva para que conseguíssemos enganar os nossos avós que já não viam assim muito bem, mas tudo isto ia por água abaixo quando nos permitia controlar o efeito da bola nos remates, originando golos à Tsubasa um pouco por todo o lado.

Se hoje em dia por tuta e meia consegues descarregar para o smartphone uma versão do último

FIFA

 com visuais mais que satisfatórios, há pouco mais de dez anos a tua única hipótese para te divertires um bocado num jantar de família ou numa viagem de carro passava por teres um Game Boy — algo que até é bastante provável já que cerca de 120 milhões destes tijolos foram vendidos em todo o mundo. Entre apanhá-los todos no

Pokémon

, com o

World Cup '98

podias imaginar (com uma generosa dose de imaginação nisto tudo) que estavas a controlar Portugal no Mundial de França — para o qual nem se qualificou — ainda que com nomes falsos já que não foram obtidas as licenças (surgem os clássicos Luís Figarros e P. Future). Na verdade, isto parece mais um simulador do Mundial de 1938, seja pelos tons exclusivamente a preto e branco dos jogos, seja pela qualidade do futebol praticado (é praticamente impossível fazer mais do que chutão para a frente já que só tens dois botões para utilizar).

Publicidade

No mesmo ano, o

FIFA — Road to World Cup '98

 ocupou um lugar muito especial no meu coração: foi o segundo jogo que tive naquela que ainda hoje é a minha consola de eleição de todos os tempos (obviamente, a Nintendo 64). Comprei-o depois de numa festa de anos de um amigo meu ter ficado maravilhado com os gráficos — "parece real", não me cansava de dizer. Aliás, muitos anos mais tarde, quando já toda a gente no secundário tinha Playstation 2 e o Pro Evolution Soccer 5, ele ainda jogava regularmente o

Road to World Cup '98

. É justo dizer que seria, na boa, um dos melhores cinco jogadores daquilo em todo o mundo (o único objectivo que agora tinha era de marcar golos com um combo cabrito + pontapé de bicicleta na dificuldade mais elevada). Vale a pena ainda dizer que apesar do seu aspecto meigo,

Road to World Cup

 escondia uma polémica camada de sadismo — era um dos poucos jogos (senão o único)  com um botão dedicado a agressões (punidas com vermelho directo) e simulações, podias fazer carrinhos sobre o guarda-redes quando este tinha a bola nas mãos e, por vezes, quando marcavas golo, o guarda-redes adversário pontapeava a câmara que lhe filmava o desalento. Para aqueles momentos à Joey Barton em que nada mais interessa do que deixar umas nódoas negras no adversário.

O futebol evoluiu brutalmente ao longo das décadas. O mesmo se passou nos videojogos. Não será difícil imaginar que uma próxima edição do FIFA ou PES até já terá aquele spray dos árbitros para assinalar os livres. Mas caso se encontrem com coragem para enfrentar as limitações tecnológicas de outros tempos, ainda são capazes de descobrir por aqui umas boas doses de diversão, culminadas com a conquista do troféu dourado mais cobiçado do mundo, claro. Não se esqueçam: o futebol espectáculo também está nas décadas de 80 e 90.