FYI.

This story is over 5 years old.

cinema

Três durões do cinema a quem jamais negarias um whisky

Um pouco de respeito por estes tipos.

Quantas vezes te ocorreu que o durão do filme seria a pessoa com quem menos gostarias de arranjar problemas? Muitas, provavelmente. E se um desses homens temíveis mostrasse vontade de beber um pouco do whisky que tinhas guardado para o próximo sábado? Conseguirias recusar-lhe um copo? Todas estas são questões pertinentes, se pensarmos na vasta quantidade de homens de barba rija que o cinema já nos deu a conhecer. Existem centenas de filmes em que a figura do durão ocupa um lugar central, mas é nas décadas de 50 (com o auge do film-noir) e 70 (com o regresso do gangster) que encontramos os personagens mais importantes desse tipo. É verdade que também os anos 60 possuem os seus espécimes masculinos cheios de fibra e nervos de aço. Contudo, essa é uma década que fica para sempre associada a uma cultura de paz, que pouco tem a ver com estes homens que gostam de resolver as situações à sua maneira. Ainda assim, este apanhado de durões, a quem jamais negarias um whisky, começa por uma personagem de 1968: Franz Propp, o mercenário norte-americano, que Charles Bronson desempenha com enorme categoria, na produção internacional Adeus, amigo. Ao seu lado Bronson encontra Alain Delon, que, apesar do rosto bem mais suave, conta com uma série de papéis que fazem dele um dos actores francófonos que ninguém desejaria  ter como inimigo (veja-se os obrigatórios Le Samourai ou Le Cercle Rouge, ambos realizados pelo mestre Jean-Pierre Melville). Os dois fazem de Adeus, amigo um engraçado exercício no género da golpada, mas o filme é automaticamente ganho por Charles Bronson, logo na primeira cena, em que surge a desembarcar de um navio (regressado da guerra da Argélia) com um copo de whisky na mão. Se houvesse um júri para eleger “O Maior Patrão”, Bronson ganhava logo aí o título com uma pontuação média de 10. A única fragilidade do mercenário Franz Popp acaba por ser a sua tendência para tentar meter cinco moedas, num copo cheio até cima, sem verter uma única gota. Ninguém deve estragar bebida assim.   O próximo durão na lista é Lee Marvin e a ele dificilmente podemos atribuir qualquer esbanjamento de bens preciosos. Além de toda a presença que confere a um ecrã de cinema, Lee Marvin gere normalmente os seus personagens com uma economia de recursos implacável, em que nenhuma palavra, gesto ou bala é empregue sem um propósito (nem que esse seja a intimidação). Em A Marca da Brutalidade (estreado em 1972 com o título original Prime Cut), encontramo-lo no papel de Nick Devlin, cidadão pouco amigável de Chicago, com um talento especial para resolver problemas complicados. Neste caso o problema passa por um rei do gado, de Kansas City, que teima em não pagar o meio-milhão de dólares que deve à máfia irlandesa, em Chicago. O último a tentar tal cobrança voltou à cidade ventosa em forma de salsichas. Ninguém acredita porém que o mesmo viesse a acontecer com Nick Devlin e então lá vai ele em busca de Mary Ann (fabuloso nome para o personagem de Gene Hackman) de modo a ajustar contas. Seja em que situação for (e essas variam entre a fuga a uma debulhadora ou tiroteios num celeiro), Nick Devlin apresenta-se sempre de fato e sapato clarinho para que nenhum inimigo tenha hipóteses de o superar no estilo. E a questão mantém-se: eras capaz de negar um whisky bem servido a um Lee Marvin de fato? Depois de perfilados os mais tensos Charles Bronson e Lee Marvin, não será má ideia pegar em alguém bem mais cool como Elliott Gould, no papel do detective Philip Marlowe, em Um Perigoso Adeus (filme de 1973 mais conhecido como The Long Goodbye). Ultimamente habituámo-nos a vê-lo nos majestosos assaltos a casinos, da trilogia Ocean dirigida por Steven Soderbergh, mas aqui Elliott Gould encarna um detective privado de Los Angeles, que dá por si envolvido numa gigantesca intriga criminosa, quando o seu desejo é encontrar a comida certa para o gato e, se possível, fazer a sua vida descansado (apesar de morar em frente de uma comunidade neo-hippie de mulheres nudistas). A fórmula de Um Perigoso Adeus, que incide num tipo (o dude americano) incapaz de fazer parar o carrossel louco de Los Angeles, é em tudo semelhante à que foi explorada, vinte e cinco anos depois, em O Grande Lebowski. A diferença entre os dois personagens — Phillip Marlowe e Jeffrey Lebowski — passa principalmente pela capacidade de decisão do primeiro, em comparação com o desnorteio de um The Dude (Jeff Bridges) que nunca sabe muito bem onde irá parar a história do tapete arruinado. O detective Philip Marlowe é um durão, quando a situação assim exige, mas é também uma metralhadora de boas piadas durante toda a duração de Um Perigoso Adeus. Sirvam um whisky ao homem, por favor.