O que acontece dentro do seu corpo durante uma ressaca foda
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O que acontece dentro do seu corpo durante uma ressaca foda

Não é nada bonito.
Lia Kantrowitz
ilustração por Lia Kantrowitz
MS
Traduzido por Marina Schnoor

O termo médico para a ressaca é veisalgia, e é perfeito mesmo – tão na cara que parece mentira. As raízes da palavra vêm do norueguês e do grego: “inquietação após o excesso” ( kveis) e “dor” ( algia). Né.

Todo mundo já passou por isso, enterrado na dívida da dor quando a noite passada na farra entrega a conta – a diversão de algumas horas antes desaparece com o nascer do sol, substituída por um arrependimento de rachar o crânio que te deixa barganhando com Deus. Só um dos sintomas normais da ressaca – dor de cabeça, sensibilidade à luz e som, fadiga, náusea – já pode acabar com seu dia. Combinados, você quer morrer. Felizmente, (ou infelizmente?) você não vai.

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E não tem cura (fora o tempo, de que vamos falar depois). Quando cai nas garras da ressaca, você só pode tentar entender por que seu corpo está te fazendo pagar um preço tão brutal por algumas horinhas de zoeira. Para fazer isso, falamos com Jerrold B. Leikin, diretor de Toxicologia Médica da NorthShore University HealthSystem. Ele explicou a fisiologia de uma ressaca pesada para nós em detalhes. Aqui vai o que está acontecendo no seu templo.

O básico

Ressacas são basicamente mini síndromes de abstinência de álcool. Quando você bebe, o álcool afeta os neurotransmissores de químicos no seu cérebro, diz Leikin. Inicialmente, beber te deixa eufórico porque o distúrbio nesses neurotransmissores resulta em grandes quantidades de químicos de recompensa, como a dopamina, sendo liberados de uma vez. Seu cérebro se adapta a essas mudanças, e quando o álcool é retirado, acontece a reação oposta. Basicamente, você vai de se sentir O Fodão para se sentir na fossa. Por quê?

“Depois de metabolizado, o álcool oxida para uma substância chamada etanal, que te deixa se sentindo péssimo”, diz Leikin. “Etanal é um metabólito muito tóxico. É mais tóxico que o álcool em si. Se está com muito disso no seu sistema, você se sente disfórico, tem náuseas, sua cabeça começa a doer, e isso pode exacerbar a depressão.”

Se você bebe o mínimo, seu fígado vai conseguir se livrar do etanal antes que ele tenha tempo de causar muito estrago. Mas se não foi esse o caso, o estoque de glutationa – um químico que normalmente ataca o etanal e o quebra em uma substância menos prejudicial – do seu fígado vai estar esvaziado por causa da quantidade de álcool que você enfiou no seu pobre corpo. Por isso tudo dói.

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Dor de cabeça, fadiga e sensibilidade

Qual a razão para até os menores movimentos mandarem choques de agonia para suas têmporas? Segundo Leikin, isso acontece porque “a intoxicação do álcool causa o que é chamado de vasodilatação, ou expansão dos vasos sanguíneos”. A vasodilatação é apontada como uma das causas da enxaqueca, então desde o começo já não é uma coisa boa. Enquanto os efeitos do álcool vão passando, os vasos sanguíneos da sua cabeça começam a contrair num processo chamado vasoconstrição, que causa a dor de cabeça. “Sempre que os vasos sanguíneos expandem ou contraem, vai haver dor”, disse Leikin. “É de se esperar que ressacas possam exacerbar enxaquecas por essa razão.”

E por causa daquele desequilíbrio dos neurotransmissores que falamos antes, você tem uma sensibilidade extrema para luz e som quando está de ressaca. Excesso de álcool atrapalha os ritmos biológicos do seu corpo, bagunçando seu ciclo do sono, e por isso você se sente tão cansado.

Bem-vindo a Desidratação: População, você

O álcool… te faz mijar mais. Já ouviu isso? Já experimentou isso? Bom, todas essas visitas ao banheiro têm um preço. O álcool (“que tecnicamente é um diurético”, diz Leikin) essencialmente engana seus rins para expelir significativamente mais líquido do que você está ingerindo bloqueando um hormônio chamado hormônio antidiurético (a que Leikin se refere como ADH), que geralmente ajuda no processo de absorção de água.

“Beber só 50 gramas de álcool pode causar a eliminação de, eventualmente, mais de um quarto da água em algumas horas”, diz Leikin. É isso que te faz ir tantas vezes no banheiro quando você está na balada. Mas não é só porque você mijou sua noite fora a causa de você se sentir como uma esponja esturricada. “Não se esqueça, suor também é um sintoma comum da ressaca”, diz Leikin.

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Seu estômago e seu ânus

“A náusea que você sente durante uma ressaca se deve ao fato de que o álcool está irritando seu estômago”, diz Leikin. “Isso causa gastrite, ou inflamação do revestimento do estômago.”

Segundo Leikin, o álcool causa um acúmulo de ácido lático no seu corpo, além de um aumento de secreção do pâncreas e intestinos. “O álcool estimula as enzimas pancreáticas, o que faz o pâncreas secretar mais delas que o normal”, ele diz. “Qualquer uma dessas coisas pode causar náusea, vômito e diarreia.” Juntas, elas conspiram para te fazer ficar o mais perto possível da privada por uma boa parte do dia.

Uma névoa espessa cobre seu cérebro

Há muitas razões para você não conseguir se concentrar quando está de ressaca, diz Leikin, e se você leu até aqui, provavelmente sabe por quê. “Você está desidratado e seus eletrólitos estão num nível baixo anormal.” Você tem muito etanal acumulado no seu sistema, e provavelmente está lidando com todos os distúrbios intestinais de que já falamos. “Além disso, seu nível de açúcar no sangue provavelmente está baixo.” Fora tudo isso, lembre-se, você provavelmente não dormiu muito bem. Qualquer uma dessas coisas sozinha já seria um problema para a concentração, ele diz. “Combinadas, vai ser difícil você conseguir fazer qualquer coisa hoje.”

Disparado: Seu coração

“O álcool tem um efeito direto no coração”, diz Leikin. “Há até uma condição que chamamos de Holiday Heart, que é arritmia [batimentos cardíacos irregulares] causada por abuso de álcool.”

Holiday Heart, ou fibrilação atrial, acontece por várias razões: álcool pode enfraquecer os músculos cardíacos, o que pode levar a batidas irregulares. Isso também atrapalha a resposta do seu coração à adrenalina, e diminui os estoques de eletrólitos como magnésio, sódio e potássio, o que tem um efeitos nas correntes elétricas do coração.

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Chafurdando nas emoções

Se você se sente meio chorão durante uma ressaca, você não está sozinho. E a culpa é de uma queda de endorfina, que te deixa vulnerável emocionalmente e um pouco mais deprê que o normal. Essa é a razão para, digamos, você começar a chorar histericamente quando seu competidor favorito do MasterChef deixa o bolo embatumar e tem que sair do programa. “Isso é o que chamamos de labilidade emocional, que é caracterizada por reagir exageradamente a pequenos gatilhos”, diz Leikin. “Pense nisso: a desidratação já te deixa tonto, e isso contribui para seu estado emocional.”

Não tem nada que você possa fazer

Há incontáveis curas para ressaca no mercado, e um público sedento torcendo pra que elas funcionem. Claro, tem que ter alguma coisa que acabe com essa dor, certo? Certo? “Não existe cura para a ressaca”, diz Leikin. “É uma questão de tratamento para os sintomas e tempo. Basicamente, leva tempo para seus eletrólitos se normalizarem e se recuperarem. Beber algo como Pedialyte faz sentido como cura dos sintomas, mas não endosso nada disso. Só o tempo cura a ressaca.”

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