Foi um grupo identificado como movimento de mulheres negras que encabeçou o quinto ato "Fora, Temer" da semana, que aconteceu no Largo da Batata, em São Paulo, na última sexta (2). Entretanto, as horas de concentração e negociação com a Polícia Militar (PM) fizeram com que a organização do protesto contra o presidente Michel Temer resolvesse encerrar o evento. Segundo a PM, sem a comunicação prévia do trajeto, as vias não seriam liberadas. Durante todo o tempo, a polícia cercou os manifestantes por todos os lados. Cerca de 20 black blocs (BBs) não se conformaram com a decisão policial e, mesmo assim, foram às ruas, onde fizeram barricadas de lixo, destruiram uma agência bancária, um ponto de ônibus e as vidraças de concessionárias de automóveis de luxo. Dois homens foram atropelados na Marginal Pinheiros. Um deles é cinegrafista.
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O número de presentes não foi divulgado pela PM, nem pela organização.Durante todo o tempo, a polícia cercou os manifestantes por todos os lados.
Antes de o ato acontecer, a reportagem da VICE presenciou uma roda de conversa informal entre policiais onde um deles afirmava que seria bom se a manifestação permanecesse no Largo, "sem atrapalhar ninguém"."O objetivo do ato de hoje é demonstrar como o golpe é uma medida para avançar na retirada de direitos dos trabalhadores e da juventude", explicou Letícia Parks, estudante e professora que estava no evento, integrante do movimento jovem Faísca. "No nosso país, que tem um histórico de escravidão, o direito é sempre retirado primeiramente dos negros e das mulheres."
Parks justificou o motivo pelo qual o trajeto não havia sido comunicado previamente à PM: "Nossa opinião é de que não temos de negociar com a polícia, porque o papel dela é garantir a nossa segurança, e não [definir] onde podemos ou não circular".Antes de ocupar a pista, a organização recitava repetidamente: "Por menos que conte a história, não te esqueço meu povo. Se Palmares não vive mais, faremos Palmares de novo", trecho do poema Negro homem, negra poesia, do poeta baiano José Carlos Limeira.
Antes mesmo de a manifestação botar o pé na rua, a Tropa de Choque estava armada, impedindo sua saída. Nesse momento, começou a negociação das mulheres com os policiais. Parte de quem estava no ato, principalmente os black blocs, que faziam a linha de frente, reclamava, impondo que o protesto não deveria sucumbir à polícia e tomar as ruas mesmo assim.
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Após mais de uma hora de conversa, as organizadoras decidiram encerrar o protesto. Uma pequena confusão se instaurou quando um homem passou a fazer observações e alguém gritou: "Cadê as minas falando?".
Os BBs resolveram protestar e parte das pessoas foi junto. Nesse momento, o helicóptero da PM passou a perseguir o grupo que avançava. Barricadas de lixo foram feitas nas ruas até chegar na Avenida Rebouças, onde a PM arremessou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes. De lá até a Marginal Pinheiros, os black blocs destruiram diversas fachadas de lojas de automóveis.
Segundo relatos, dois homens foram atropelados. Um dele seria cinegrafista freelancer. De acordo com a publicação de uma manifestante no Facebook, "um dos carros acelerou e pegou ele [o homem] em cheio. Ele voou e rodopiou no ar". A Secretaria Municipal de Saúde não soube informar quem são as vítimas.
Relatos no Facebook afirmam também que quatro pessoas foram detidas. Procurada pela VICE, mais uma vez a Polícia Militar não se pronunciou sobre o número de detidos e patrimônios depredados.Segundo relatos, dois homens foram atropelados.
Parte da manifestação retornou para o Largo da Batata e foi revistada pela PM, que não encontrou nada ilegal com os jovens. Desacreditado, um policial abriu a mochila de um manifestante e se deparou com uma Bíblia.
No fim da noite, a organização foi criticada no evento do Facebook por ter encerrado o protesto. Algumas pessoas – que, aparentemente, não fazem ideia do que seja o movimento negro – se incomodaram, pedindo que não haja segregação de cor e gênero nos próximos atos.Desacreditado, um policial abriu a mochila de um manifestante e se deparou com uma Bíblia.
No domingo (4), mais uma manifestação acontece contra a presidência de Michel Temer. Dessa vez, será na Avenida Paulista, às 16h30.Siga a VICE Brasil no_ Facebook, Twitter e _Instagram.