FYI.

This story is over 5 years old.

reportagem

Quais os objetivos da Frente Favela Brasil como partido?

O grupo quer dar voz a moradores de favelas e de áreas periféricas no Brasil, além de aumentar a quantidade de pessoas negras na política brasileira.
Anderson Quack, um dos integrantes da FBB. Foto: Divulgação/FFB

A população total do Brasil é composta por 208,5 milhões de pessoas, dentre as quais 54% se declaram negras. Ainda que maioria no país, a população negra sofre com a desigualdade. Por exemplo, em sua totalidade apenas 17,4% da parcela mais rica do país é negra, enquanto 76% das pessoas mais pobres são negras. Essa disparidade é vista também na política. Para se ter uma ideia, 43 deputados federais reconhecem-se como negros ou pardos entre os 513 parlamentares no Congresso. E é esse panorama que a Frente Favela Brasil quer mudar.

Publicidade

O partido surgiu com o propósito de lutar pelo protagonismo e reconhecimento da população negra, moradores de favelas e demais regiões periféricas dentro da sociedade. O lance é dar voz e vez a elas, em vez de precisarem de intermediários, por meio do protagonismo político, para haver políticas que transformem positivamente as vidas de pessoas inseridas nesse grupo. Basta dizer que a FFB é apoiada por personalidades como Lázaro Ramos, Taís Araújo, Carlinhos Brown, Sandra de Sá e Tony Garrido.

“Você não pode falar em justiça e igualdade na política em um país que tem mais da metade da população negra, sendo que menos de 10% dos parlamentares se consideram negros. Nossa meta é, eleição após eleição, colocar mais negros nas câmaras e nas assembleias legislativas, para essa enorme população de negros e favelados do Brasil ser e se sentir representada e participante da política no Brasil”, explica Anderson Quack, diretor de cinema, que produziu documentários como Falcão - Meninos do Tráfico e Remoção, e integrante da FFB, ao falar também sobre empreendedorismo e política na favela. “Queremos incentivar grandes empresas a fomentar oportunidade e empreendedorismo na base da pirâmide, contribuindo com o maior desenvolvimento do país, pois entendemos que o favelado é um empreendedor nato.”

Apresentação do Olodum durante o evento de lançamento da Frente Favela Brasil. Foto: Divulgação/FBB

O objetivo da Frente Favela Brasil é, já em 2018, concorrer com 40 candidatos em todo o Brasil às assembleias legislativas, Câmara dos Deputados e ao Senado. Entre os nomes já confirmados está Rappin Hood, que concorrerá ao Senado por São Paulo. A FFB, no entanto, não conseguirá concorrer com a própria legenda nas próximas eleições, pois não obteve autorização para tal em tempo hábil. Desse modo, o partido conversa com outras legendas, como Rede, Psol (Partido Socialismo e Liberdade), PC do B (Partido Comunista do Brasil) e PDT (Partido Democrático Trabalhista).

Publicidade

Ainda assim, os objetivos da Frente Favela Brasil nas próximas eleições dizem respeito à quantidade de pessoas negras inseridas na política. “[O foco é] aumentar, ao máximo possível, a porcentagem de negros e favelados nas casas legislativas, para essa população ter mais diversidade de representatividade e as leis poderem refletir e contemplar parte da população brasileira oriunda de favelas”, ressalta Quack.

Outro ponto a ser ressaltado diz respeito aos interesses de moradores de favelas. Como se trata de um grupo composto por pessoas de diversas origens, é inviável tratar como um conjunto homogêneo – afinal, isso cria um estereótipo que beira o preconceito. E isso abrange a formação política do partido, que se define como “nem de esquerda, nem de direita”. A não identificação com a direita chega a ser óbvia, a começar pela existência risível de políticas públicas e pelo modo como moradores de favelas são considerados por políticos desse espectro político. Mas isso não se traduz em uma suposta guinada à esquerda.

“Na nossa visão, a esquerda sempre nos utilizou como meio para atingir os próprios fins e quase nunca nos chamou para ajudar a construir a sociedade melhor, mais justa e igualitária que sempre sonharam. [Eles] sempre falaram ‘vamos fazer isso e aquilo pelos negros e favelados’, mas não queremos que alguém faça por nós. Queremos fazer e realizar. Por isso, entendemos que já passou da hora de assumirmos o protagonismo político”, pontua Anderson Quack, ao mandar a real sobre a suposta polarização entre as duas vertentes. “A Frente Favela Brasil não tem interesse nenhum de entrar nesse Fla x Flu político, com nomes que estão na política há décadas e não fizeram quase nada ou nada pela favela.”

"A nossa luta é diária e incansável por uma sociedade sem ódio racial, preconceito, descriminação de cor, classe social, gênero, orientação sexual e crença religiosa” — Anderson Quack

Como a Frente Favela Brasil se trata de um novo partido, é natural haver questionamentos sobre qual o papel que minorias em relação a direitos sociais terão lá dentro, ainda mais por ser voltado a uma minoria racial. A resposta é certeira: como o partido é voltado à construção de uma sociedade mais justa e igualitária, pautas como igualdade de gêneros e combate ao preconceito contra a população LGBT fazem parte da essência da FFB.

“Nosso copresidente nacional, Wanderson Maia (Derson Maia), é homossexual e divide a presidência com Patrícia Alencar, mulher negra, da educação e do candomblé. Acreditamos que a diversidade e pluralidade são muito importantes. A nossa luta é diária e incansável por uma sociedade sem ódio racial, preconceito, descriminação de cor, classe social, gênero, orientação sexual e crença religiosa”, finaliza Anderson Quack.

Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.