Como são outros Enem pelo mundo
Ilustrações por Verena Antunes

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Como são outros Enem pelo mundo

Não é só no Brasil que uma prova nacional mexe com os nervos de gerações de jovens.

O Enem é aquele lance que manjamos de cor e salteado e que todo ano é jogado na nossa cara sem dó nem cerimônia. Não importa se for por causa de algum parente que passará horas estressantes em uma sala para definir como serão os próximos anos, por meio de memes de gosto para lá de duvidoso, ou em notícias sobre vazamentos risíveis e deprimentes no “Jornal Nacional”: o Enem é um fato social e você só ficará sem saber de nada se for a algum retiro em uma região inóspita – isso se conseguir, é claro.

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Mas e como se dá esse processo ao redor do mundo? Será que alguns caras em algum país da Oceania imitam os desocupados daqui e fazem comentários bizarros sobre quem se atrasa no Enem deles? A versão islandesa da nossa überprova garante bolsa integral em alguma universidade privada? E pessoas que já concluíram o ensino médio cipriota podem fazer o vestibular local, tal qual acontece aqui? Pois bem, acompanhe as cenas dos próximos parágrafos e saiba como funciona o rolê em outros países que, lamento informar, não são os citados acima.

Vestibular dos infernos

Achou que não teria nada sobre vestibulares chineses neste texto? Achou errado! Pois bem, precisamos falar sobre o gaokao (ou “o exame maior” em tradução livre). Aliás, dizer que é “o exame maior” dos chineses é eufemismo dos mais fuleiros. Sem meias palavras, o lance é brutal. É cruel. É fromhell.

Para começo de conversa, a segurança é reforçada a ponto de boa parte das salas nas quais os candidatos ficam ter câmeras de segurança e haver detectores de metais em algumas escolas. Também, pudera: o vestibular é tão disputado, mas tão disputado, que volta e meia tem gente tentando dar aquela burlada básica na lei. Mas quem tentar algo do tipo periga passar até sete anos na cadeia. Isso mesmo: sete caóticos anos por tentar dar aquele migué para se dar bem.

A competição por um lugar ao sol é intensa a ponto de o teste ter poder de determinar como será a vida dos candidatos, que são recém-saídos do ensino médio local. Duvida? Estima-se que as universidades mais renomadas têm a espantosa proporção de 50 mil candidatos para uma única vaga. Alguns efeitos colaterais desse rolê, que faz a série “3%” ser mais leve do que “PeppaPig”, são o risco dessa pressão excessiva ter resultados fatais. Para se ter uma ideia, um estudo feito em 2014 mostrou que o estresse causado pelo gaokao foi um fator significativo em 93% dos suicídios de jovens em idade para prestar a prova.

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Não é o bastante? Segura essa, parceiro: a prova é dividida em chinês (óbvio!), inglês, matemática e um quarto segmento, a ser escolhido entre ciências (biologia, química e física) ou humanidades (geografia, história e política), divididas entre questões de múltipla escolha ou para completar espaços necessários. Ah, mais uma coisa: as perguntas de matemática da prova podem ser comparadas às de universidades do Reino Unido. #medo

Ilustração: Verena Antunes/VICE

É democracia o que você quer?

Suécia. Terra do Abba, Alicia Vikander, Stieg Larsson, ZlatanIbrahimovic e do högskoleprovet. “ Högsko” o quê? Essa palavra complicada – assim como as demais do idioma sueco – significa algo como “Prova Sueca de Aptidão Escolar”, que é, basicamente, a prova padrão para poder conseguir entrar em uma universidade de lá.

Se o gaokao te deixou assustado e te fez ficar chorando em posição fetal dentro de um quarto escuro, o högskoleprovet é assustador apenas no nome. Vamos aos fatos: qualquer pessoa pode fazer o teste e não há restrições etárias ou de cidadania. Sim, no quesito etário, o exame lembra um pouco o nosso bom e velho Enem. De quebra, os resultados são válidos por cinco anos. Tranquilo, não?

Os resultados obtidos no teste, que acontece duas vezes no ano – no outono e na primavera –, podem ser usados pelos candidatos para concorrer às vagas de cursos pretendidos, mas é obrigatório atender aos requisitos necessários para pleiteá-las.

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A prova em si é dividida em duas partes: a quantitativa, que consiste na resolução de problemas matemáticos, comparações quantitativas, raciocínio quantitativo, diagramas, tabelas e mapas; e a verbal, que abrange vocabulário e conclusão de sentenças em sueco, leitura e compreensão de textos suecos e leitura compreensiva em inglês. Já foi dito que é fundamental saber muito bem sueco para poder prestar a prova? Pois bem, nem tudo pode ser tranquilo na vida.

American way of tests

Talvez você tenha assistido a algum filme ou série que mostrava adolescentes à beira de um ataque de nervos para saber quais foram os resultados nos testes feitos por eles ( isto não é um spoiler: esse é um dos pontos de “Ladybird”, um dos filmes queridinhos da temporada atual). Quem sabe você já deve ter visto a triste despedida de jovens, ansiosos para conhecer o mundo, de seus pais. Mas você sabe como funciona o vestibular na América?

Pois bem, as principais provas dos EUA são o SAT, o ACT e o TOEFL. Antes de tomar qualquer susto, saiba que essa miscelânea de siglas é um pouco mais tranquila do que parece.

O SAT é popular entre as universidades das costas leste e oeste da quebrada estadunidense e pode ser prestado em outubro, novembro, dezembro, janeiro, março, maio e junho – sim, em todos esses meses. De modo geral, a prova tem duração de três horas e 45 minutos e abrange matemática e uma parte verbal, composta por leitura crítica e escrita.

Já o ACT, popular no meio-oeste e no sul dos EUA, abrange as seguintes disciplinas, inglês, que tem 75 questões, que devem ser feitas em 45 minutos; matemática, que tem 60 perguntas em 60 minutos; leitura, com 40 perguntas em 35 minutos; e raciocínio científico, cujas 40 questões devem ser respondidas em até 35 minutos. Há também a redação, que é opcional e pode ser feita em 30 minutos.

Por último, mas não menos importante, o TOEFL (Teste de Inglês como Língua Estrangeira) é voltado, como a sigla sugere, para não-nativos dos EUA e tem como objetivo testar a proficiência em inglês – talvez você tenha ouvido falar dessa prova durante algumas aulas no curso de idiomas. O teste deve ser feito em até quatro horas e abrange leitura, escuta, escrita e pronúncia.

Apesar da importância dessas provas, elas não garantem vagas por si sós. Há um mundo de etapas e critérios que as universidades americanas consideram para aceitar os futuros alunos. Por exemplo, os caras consideram muito o histórico escolar (não dá para estudar só de última hora), prática de trabalho voluntário, três cartas de recomendação – uma do coordenador da escola e outras duas de professores – e entrevistas dos candidatos com algum representante da universidade pretendida. Mais um pouco e pediriam informações sobre o tipo sanguíneo e colocariam algum espião da CIA na cola da pessoa – ou rastreariam o IP dela mesmo.