Se for para o espaço, não respire poeira lunar

FYI.

This story is over 5 years old.

Motherboard

Se for para o espaço, não respire poeira lunar

Não bastasse o perigo de trombar um alien por aí, novo estudo afirma que solo da Lua é bem mais tóxico do que pensávamos.

Há algo mais a se temer no espaço além de ataques alienígenas. Uma pesquisa feita pela Universidade Stony Brook, nos Estados Unidos, descobriu que as partículas de pó encontrada na Lua podem desenvolver diversos problemas de saúde, incluindo câncer.

O estudo responsável pela conclusão é desanimador para quem um dia pretende ir para o espaço. Os cientistas demonstraram que o solo da Lua é tóxico para células humanas e animais. Bem tóxico, na verdade: cerca de 90% do material genético exposto à simulação de poeira lunar morreu devido à toxicidade dos componentes espaciais.

Publicidade

O problema já é conhecido há décadas, mas só agora está sendo estudado em detalhe. De acordo com a geneticista Rachel Caston, principal autora da pesquisa, quando a Nasa estava fazendo as missões Apolo e mandando pessoas à Lua, um astronauta, Harrisson Schmitt, reclamou da poeira lunar. Ele disse que estava tossindo e chamou o incômodo que de “febre do feno lunar”. "Trata-se de poeira que ficou grudada nos trajes espaciais e foi trazida de volta na cápsula espacial, muito difícil de limpar", afirma Bruce Demple, bioquímico na mesma universidade e coautor do estudo.

Caston explica que o foco do artigo publicado é o dano causado ao seres humanos e animais em um nível mais profundo. "Já existem pesquisas feitas a respeito de inflamação nos pulmões, mas agora olhamos para os resultados moleculares desse dano", disse ao Motherboard. Com a nova pesquisa, espera, poderão ser criadas novas abordagens para lidar com os problemas de saúde das viagens ao espaço.

Até aqui, explica Demple, o foco dos astronautas em missão lunar tem sido na engenharia: evitar a exposição à poeira. "Claro que é melhor prevenir e muito pode ser feito nesse sentido”, diz. “Mas nosso ponto de vista é o de que na presença prolongada na Lua pode haver exposições acidentais e vale a pena estar preparado para esse cenário."

"Existem relatos de que ela rasgou kevlar das botas dos astronautas enquanto eles andavam pela Lua. Não há nenhum componente orgânico, nenhum ser vivendo nela, nada, nem água"

Publicidade

Poeira lunar não é algo que se encontra em qualquer supermercado, por isso, claro, a pesquisa teve de ser feita com um material que simula o encontrado no satélite da Terra. "Tentamos escolher uma gama de materiais que simulassem os aspectos geológicos", diz Caston. A preparação para a pesquisa demorou cerca de dois anos.

As "vítimas" do estudo foram culturas celular de pulmão humanas e células neuronais de ratos. O estrago causado ao DNA pelo material alienígena simulado foi tão grande que não foi possível medir quais partes da estrutura foram danificadas.

Em curto prazo, dizem os cientistas, a poeira lunar pode causar tosse, irritação nos olhos, garganta e nariz ou até inflamações. Mas uma exposição contínua durante um período longo têm o potencial de desencadear doenças mais sérias. "Cânceres, em geral, acontecem por mudanças genéticas provocados por agentes que danificam o DNA", afirma Demple.

Do que é feita a poeira lunar?

Você deve estar se perguntando: como é que uma inocente poeirinha pode ser tão interessante e perigosa?

Em primeiro lugar, é preciso entender as diferenças entre a poeira terrestre e a lunar. "Uma é que a poeira lunar tem ferro zero, que é altamente reativo", diz Caston. Outra: a poeira lunar "é afiada, parecida com vidro, abrasiva". "Existem relatos de que ela rasgou kevlar das botas dos astronautas enquanto eles andavam pela Lua. Não há nenhum componente orgânico, nenhum ser vivendo nela, nem água".

Bruce Demple afirma que, de um ponto de vista químico, a camada superficial da poeira lunar é muito diferente de qualquer coisa que encontramos aqui na Terra. "Não há atmosfera, então ela é constantemente exposta ao vento solar que reduz o ferro a essa forma chamada ferro nanoparticulado, que é muito reativo”, diz.

“Esse átomos existem há éons sem ter nada com que reagir. Então, no segundo em que são expostos à água, como em um pulmão humano, eles reagem facilmente. Há também a diferença química, que vem parcialmente da falta de proteção de uma atmosfera: a superfície da Lua é constantemente bombardeada por micrometeoritos que transformam a poeira em partículas ainda menores e a fundem numa estrutura parecida com vidro."

De acordo com os pesquisadores, o próximo passo é conseguir poeira lunar real para continuar a investigar seus efeitos nos futuros viajantes interestelares. Esperemos que os resultados não sejam ainda piores.

Leia mais matérias de ciência e tecnologia no canal MOTHERBOARD .
Siga o Motherboard Brasil no Facebook e no Twitter .
Siga a VICE Brasil no Facebook , Twitter, no Instagram e no YouTube.