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O Partido Pirata islandês se fortaleceu depois do escândalo dos Panama Papers

Com raízes na democracia direta, na reforma da lei de direitos autorais e na privacidade pessoal, os Piratas se preparam para "uma eleição sem precedentes".
Crédito: Birgir Þór Harðarson

Na semana passada, mais de 20.000 manifestantes foram às ruas da capital islandesa Reykjavik após a divulgaçãodos Panama Papers – os mais de 11 milhões de arquivos do banco de dados da Mossack Fonseca, um dos maiores escritórios de advocacia especializados em sigilo offshore do mundo.

Reunidos diante do Parlamento islandês, os manifestantes exigiam a renúncia de seu primeiro-ministro, Sigmundur Davíð Gunnlaugsson, após documentos revelarem que ele e a esposa tinham interesses financeiros atrelados a uma empresa-fantasma nas Ilhas Virgens Britânicas.

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Na terça-feira, Gunnlaugsson cedeu ao clamor do povo e recorreu ao presidente islandês Ólafur Ragnar Grímsson para que lhe exonerasse e promovesse novas eleições. Seu pedido foi negado e então Grímsson pediu que Gunnlaugsson renunciasse, o que colocou Sigurður Ingi Jóhannsson, o vice, na posição de novo primeiro-ministro.

Muitos islandeses criticaram tal ato como mera dança das cadeiras política, já que Gunnlaugsson segue como diretor do Partido Progressista e membro do Parlamento. Outros encararam a situação como nada mais que uma manobra para atrapalhar a ascensão dos improváveis heróis políticos do país: os Piratas.

"As pessoas estão extremamente infelizes por acreditarem que a mudança não foi o bastante."

Fundado em 2012, o Partido Pirata islandês tomou por base a organização sueca de mesmo nome fundada seis anos antes. Apresentado como um partido anti-establishment com raízes na democracia direta, na reforma da lei de direitos autorais e na privacidade pessoal, o Partido Pirata islandês levou seus primeiros representantes ao Parlamento em 2013.

Em janeiro de 2015, o Partido Pirata se tornou o partido político mais popular da Islândia. Agora, na esteira do escândalo dos Panama Papers, a popularidade cresceu ainda mais: pesquisa recente indica que 43% das cerca de 320.000 dos habitantes do país apoiam os Piratas.

"Toda esta situação é inédita", disse Ásta Guðrún Helgadóttir, uma das três representantes do Partido Pirata atuantes no Parlamento islandês desde 2015. "As pessoas estão extremamente infelizes por acreditarem que a mudança feita não foi o bastante. Tecnicamente, há um novo governo, mas quase nada mudou – com exceção do fato de que não se confia no governo agora."

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Por mais que a transferência de poder facilitada pelo presidente islandês tenha sido legal, Helgadóttir crê que, ao impedir que o eleitorado escolha um novo líder, o processo democrático foi enfraquecido. Ela citou diversas desculpas "oficiais" que explicam por que o presidente indicou novo primeiro-ministro no lugar de promover uma eleição às pressas – incluindo as eleições presidenciais de junho e o rápido crescimento do Partido Pirata nas pesquisas.

"O presidente essencialmente tirou das pessoas o direito de se expressarem", afirma Helgadóttir. "Creio que [o governo responsável] esteja usando o Partido Pirata de forma a chegar a algum acordo com quem detém os direitos. Estão usando o Partido Pirata como se fosse uma ameaça, tentando culpar a minoria [de impossibilitar as eleições] o que não é verdade."

Por mais que o governo islandês pareça usar o Partido Pirata como bode expiatório para impedir as eleições, o apoio amplo aos Piratas é inegável. De acordo com Helgadóttir, a crescente popularidade se dá pelo fato do Partido preencher uma lacuna no cenário político islandês, composto em grande parte por conservadores.

"De primeira podemos parecer um partido à margem de tudo, mas, assim que você presta atenção no que estamos fazendo e dizendo, percebe que estamos apenas sendo honestos", disse Helgadóttir. "Queremos maior transparência, pois estamos fazendo coisas que afetarão o futuro das pessoas. Acreditamos que o povo tem direito de saber o que o governo está fazendo."

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De acordo com Helgadóttir, o governo islandês prometeu eleições para o próximo outono, ainda sem data definida. Tal promessa vaga levou grande parte dos manifestantes a concentrar seus esforços em garantir um plebiscito imediato enquanto o Partido Pirata prepara sua campanha.

No decorrer dos últimos dois anos, o Partido Pirata islandês se voltou para o refinamento de sua plataforma política, incluindo uma série de mudanças tais como nova legislação referente às drogas baseada na de Portugal, além de reformas na constituição islandesa. Após a renúncia de Gunnlaugsson e o crescimento do partido nas pesquisas, os esforços dos Piratas se voltaram para conseguir apoio da população e definir quem se candidatará como primeiro-ministro e pelas vagas no Parlamento.

Helgadóttir espera que o Partido anuncie logo os candidatos. Ela segue otimista de que os Piratas terão uma base forte ao entrar na corrida eleitoral e prevê que o partido ganhará muito mais vagas no Parlamento.

"Estou bem empolgada para ver quem se juntará a nós quando fizermos nossa convocação", comenta Helgadóttir. "Será um partido de verdade, não só mais um partido político. É a chance de consertar esta democracia quebrada que temos e talvez sobreviva a esta crise que as democracias ao redor do mundo estão enfrentando. Vamos nos divertir muito juntos e se nossa pauta seguir adiante. A democracia pode ter alguma esperança nesse mundo."

Tradução: Thiago "Índio" Silva