Pessoas filmando e fotografando com seus celulares
Todas as fotos por Ebrahim Noroozi.

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Viagem

Fotografando o espetáculo das execuções públicas no Irã

AVISO: conteúdo sensível.
MS
Traduzido por Marina Schnoor
Madalena Maltez
Traduzido por Madalena Maltez
KM
Como contado a Kieran Morris

Ebrahim Noroozi fez sua carreira apontando a câmera para situações que muitos preferem evitar. Desde que começou a trabalhar como fotógrafo em 2004, Noroozi tem desfrutado de um sucesso espetacular. Ele já ganhou diversos prêmios (incluindo o World Press Photo Awards), fez exposições em eventos de prestígio como a Paris Photo, e teve suas fotos publicadas em lugares como a Time Magazine e o New York Times.

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Trabalhando principalmente com a periferia da sociedade iraniana, Noroozi explora as histórias humanas e ambientais com um toque hábil; mostrando a beleza natural em todos os seus temas – independente de quão sombrios, sujos e grotescos eles sejam. Ele faz isso num país que poucos ocidentais sequer tentam entender: uma nação incrivelmente vasta e variada, que geralmente é caracterizada usando esteriótipos crus. É um país onde a história antiga é forçada na vida contemporânea; um lugar onde memórias de guerra e trauma persistem na psique pública, sempre pairando, ameaçando retornar mais uma vez com qualquer movimento do sabre do Grande Satã.

“A multidão ficava tão excitada que entrava num estado de transe. Eles não estavam neste mundo, mas em outro.”

A VICE se juntou a Noroozi para publicar algumas das séries fotográficas mais perturbadoras da carreira dele – fotos que iluminam vários aspectos de uma sociedade e um país que continuam um completo mistério para muitos no Ocidente. A primeira dessas séries, Death Observers, dá um zoom no espetáculo das execuções públicas no Irã, documentando como as multidões testemunham a demonstração de “justiça” por crimes hediondos.

As multidões nas imagens que estamos vendo estão assistindo o enforcamento de dois homens, um condenado pelo estupro de quatro mulheres, outro por traficar quase três toneladas de drogas. Noroozi, voltando sua câmera para a multidão em vez dos condenados, mostra a experiência humana em seu lado mais instintivo, enquanto captura como um fenômeno antigo cruza com a tecnologia moderna, e o novo conjunto de impulsos que vêm com isso. Aqui ele fala sobre suas fotos e seu processo de trabalho.

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Para essa série, fotografei diferentes multidões em diferentes lugares, de tamanhos diferentes. Às vezes era algo fácil de fazer; às vezes difícil; algumas vezes me mandaram embora. Todo mundo sabe que execuções públicas são parte da lei aqui – eu não precisava documentar esse fato, óbvio. Mas a escala das multidões me interessava. Algumas juntavam cerca de 400 pessoas, outras algo próximo de mil e outras até mais que isso. Muitos homens e mulheres de diferentes classes e idades se reúnem logo pela manhã, em áreas residenciais, para testemunhar as mortes.

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Às vezes, as multidões eram tão agitadas que eu conseguia fotografar sem ninguém notar. Algumas pessoas não tinham problema por eu estar ali. Acho que o choque de tudo isso as absorvia completamente. Elas estavam tão excitadas – não num sentido positivo, mas literal – que entravam num estado de transe. Elas não estavam neste mundo, mas em outro lugar. Em certos momentos, as pessoas desmaiavam e tinham que ser carregadas dali. Outras vezes, elas se sentiam obrigadas a pegar o celular e filmar o espetáculo. Acho que quando as pessoas veem coisas que não consideram normais hoje em dia, elas começam a filmar e fotografar.

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Eu queria mostrar essas imagens na esperança de que esses eventos aconteçam com menos frequência. É uma experiência horrível e dolorosa de testemunhar. Testemunhar a morte de um ser vivo é sempre um evento horrível, especialmente se o ser vivo é um ser humano. Mesmo que isso aconteça há séculos, é um evento tão anormal e incomum que toca no coração da natureza humana – isso te choca, mas não embota suas emoções. Você se torna cheio de choque, isso te consome. Acho que temos menos execuções públicas agora por causa desse efeito nas pessoas, e pra mim, isso é bom.

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