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Tecnologia

O Povo Andino à Prova de Arsênio

Trata-se da primeira população humana de que se tem notícia completamente adaptada à digestão de arsênio
​ Crédito: Guigue/Wikimedia

Costumam chamar o arsênio de Veneno dos Reis e Rei dos Venenos, mas como na história de qualquer rei, sempre há quem invada o reino. No caso do arsênio, os invasores vivem além de seu alcance venenoso, na cordilheira dos Andes. São a primeira população humana de que se tem notícia completamente adaptada à digestão de arsênio, e em um artigo recente sobre Biologia Molecular e Evolução, cientistas descreveram as mudanças genéticas exatas que possibilitaram isso.

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Uma equipe de pesquisadores suecos viajou para San Antonio de los Cobres, uma cidade situada no noroeste da Argentina. Há evidências de pessoas vivendo na área desde, pelo menos, 1500 AC, e a julgar pelas múmias encontradas por perto, o arsênio sempre esteve presente na água da região. A rocha vulcânica deixa as águas subterrâneas com níveis altos de arsênio, e o veneno, por sua vez, foi parar na água potável da cidade, até que implementaram um sistema de filtração, em 2012.

Os cientistas realizaram uma pesquisa pangenômica com 124 mulheres. Com base nas entrevistas, descobriram que as mulheres são, principalmente, de descendência indígena, de origem atacamenha, com alguns ancestrais hispânicos, e que as famílias delas vivem na região há pelo menos duas gerações.

Em seguida, os pesquisadores examinaram a urina dessas mulheres.

Eles não só confirmaram que as moradoras de San Antonio de los Cobres são capazes de metabolizar o arsênio com mais eficiência, como também conseguiram localizar onde seus genomas se adaptaram para viabilizar a proeza — foi um conjunto de variantes nucleotídicas do gene AS3MT.

Por muito tempo, pesquisadores suspeitaram que o AS3MT tinha mesmo algo a ver com a maneira como o corpo humano metaboliza o arsênio, e é muito empolgante saber exatamente onde isso ocorre, e que variações transformam um haplótico numa espécie de protetor.

Outros povos indígenas americanos têm haplóticos geneticamente similares, assim como alguns peruanos e o grupo étnico Kinh, da cidade de Ho Chi Minh, do Vietnã. Na verdade, varia a cada pessoa, mas em certos lugares, como San Antonio de los Cobres, a adaptação é uma necessidade. Sobre as montanhas, o povo está livre do reino tirânico do Rei dos Venenos.

Tradução: Stephanie Fernandes