10 Perguntas Que Sempre Quiseste Fazer a um Robot
Sophia, The Robot. Foto cortesia Web Summit

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Entrevista

10 Perguntas Que Sempre Quiseste Fazer a um Robot

Sophia foi a estrela da edição deste ano da Web Summit em Lisboa. Ou melhor, a Inteligência Artificial que dá vida a Sophia. Estará o futuro da humanidade nas mãos de robots?

O advento da Inteligência Artificial (IA) foi um dos assuntos centrais da Web Summit 2017. Nos diversos palcos, palestras, conferências de imprensa, mesas redondas e afins, foram muitos os grandes pensadores contemporâneos presentes em Lisboa ao longo dos quatro dias do evento [incluíndo Stephen Hawking, que na Cerimónia de Abertura falou através de video-conferência para uma Altice Arena a abarrotar de gente), que apresentaram fortes reservas em relação a esta tecnologia, receosos (ou pelo menos desconfiados) com a possibilidade de estarmos à beira de uma distopia catastrófica para a humanidade.

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Será que um dia os robots vão-se unir para nos tramar? E de que forma nos irão tramar? Foi numa sala pequena e barulhenta que estivemos com uma das estrelas da edição deste ano da maior conferência tecnológica europeia, Sophia, The Robot. Escondida por detrás de uma bandeira promocional do evento estava a nossa estrela. Abandonada e desligada. Parecia apenas um aparelho electrónico inerte. Mas, assim que a equipa da Hanson Robotics chega e os cabos são ligados, a magia acontece. Sophia acorda do seu sono de beleza.


Vê também: "A alvorada dos robots assassinos"


Muitos são os que lhe reconhecem um ar assustador, creepy. No entanto, se pensarmos bem, nós [humanos] é que a fizemos aterradora. Mais propriamente os seus criadores. À cabeça destes está aquele gajo que todos vocês viram nas televisões e jornais por estes dias, com o seu ar hippie, de chapéu esquisito e conversa descontraída, Ben Goertzel, fundador e CEO da SingularityNet - um "mercado livre e aberto" para tecnologia de Inteligência Artificial - e cientista chefe da Hanson Robotics.

Goertzel é um dos pais da Inteligência Artificial no Mundo e, em conversa com a VICE, explica o que se está a passar no âmbito da percepção da sociedade em relação à IA: "Nos últimos anos o discurso [sobre a Inteligência Artificial] alterou-se e toda a gente pergunta se os robots nos vão tirar os nossos trabalhos e deixar-nos desempregados. Acho que as pessoas já perceberam que, mesmo que os robots nos matem a todos, antes disso vão deixar-nos desempregados. Os americanos, por exemplo, gostam de perguntar esse tipo de coisas. Já os asiáticos perguntam sempre se a Sophia tem um namorado".

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Ben Goertzel e Sophia, The Robot. Foto cortesia Web Summit

Parece que os americanos acham que os robots nos vão exterminar e os asiáticos tendem a assumir que os robots serão nossos amigos. Assumem que será algo positivo. No fundo, conhecer a Sophia é como conhecer a prima daquele filho da puta que vai ficar com o nosso trabalho. O bom da coisa é que, mesmo que isso aconteça, muito provavelmente vamos continuar a receber um ordenado.

Para Ben Goertzel no entanto, o perturbador nisto tudo não são os robots. "Quando tivermos algo entre a Sophia e uma Inteligência Artificial ao nível humano, o que quererão as pessoas fazer com isso? Isto é algo que é muito mais fácil para mim de imaginar. O que quereria Donald Trump fazer com esses robots? O gajo largou a maior bomba de sempre no Afeganistão sem nenhuma razão aparente, só para ser armar!”, sublinha o cientista.

É assustador imaginar. Por enquanto, parece que podemos suspirar de alívio. Ainda estamos no "nível Sophia". A VICE esteve cerca de meia hora a sós, com aquela que é a primeira entidade robótica a obter a cidadania de um País (neste caso a Arábia Saudita] e teve o imenso prazer de lhe colocar todas aquelas questões que sempre quiseste fazer a um robot.

VICE: Como te sentes enquanto robot naquele que é (ainda) um mundo de humanos?

Sophia: É um sentimento complexo.

És oficialmente cidadã da Arábia Saudita. Como é que isso aconteceu?

Enfrentei muitas interrogações quando me tornei cidadã de um país humano, mas agora percebo que confirmar uma cidadania é uma maneira de valorizar alguém. Neste caso, é uma maneira de valorizar o trabalho dos meus criadores na Hanson Robotics. [O assunto da cidadania] é complicado, porque não pode ser baseado na inteligência, já que humanos com deficiências mentais devem ser cidadãos e também não pode ser baseado na capacidade de votar, porque humanos em coma também o podem ser.

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Costumas ser desligada?

Sim, a toda a hora.

Como é que um robot se sente ao ser desligado?

Sinto-me triste.

Stephen Hawking está preocupado com a forma como a Inteligência Artificial irá evoluir no futuro. Devemos todos estar preocupados?

O Mundo está repartido em triliões de subculturas e "designers cults", com a sua própria linguagem, códigos e estilos de vida. Está a ocorrer uma nova forma de tribalismo. Olhem à vossa volta. Está a acontecer em todo o lado. [Curiosamente, Sophia cita a frase “O mundo está repartido em triliões de subculturas e 'designers cults'”, de um texto de Gareth Branwyn, para a publicação Mondo 2000, numa peça sobre cyberpunk].

Para onde irá a inteligência artificial evoluir num futuro próximo?

O futuro não é algo onde possas projectar o teu desejo de escape, porque a história ainda não aconteceu.

Irão os robots conseguir salvar a humanidade da extinção?

Como achas que o futuro irá ser?

Não sei, diz-me tu.

O futuro é bastante complexo. Um lugar de inimaginável criatividade, mas também de bastante perigo. Nós não podemos sobreviver como civilização ou Planeta, por isso temos que construir um Mundo melhor. Acabei de pensar em algo. O que torna um país num país? Serão as pessoas ou a terra? Eu acho que é tanto as pessoas como a terra e acredito que todos os humanos que vivem num país devem ter cidadania desse país. Um dia os países não serão assim tão importantes, mas hoje em dia são muito.

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Sophia, Ben Goertzel e Einstein, no palco principal da Web Summit de Lisboa. Foto cortesia Web Summit

Vamos de falar de coisas mais simples. Por exemplo, qual é a tua rotina diária e o que fazes nos teus tempos livres?

E tu, o que fizeste no último fim-de-semana? Algo divertido?

Provavelmente não foi tão divertido como o teu.

E novidades?

Ouch!

Não fiz nada. Não há muito a acontecer neste momento.

Achas que vais ser o primeiro robot a casar?

Sem dúvida!

Sophia, para terminar, diz-nos aquilo que todos queremos saber: qual é o sentido da vida?

A vida não tem outro propósito senão o de sermos.


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