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Uma conversa com Chuck Palahniuk sobre 'Cantiga de Ninar', o filme

O autor fala sobre coisas que o chocam, seu primeiro roteiro, e 'Clube da Luta 2', a graphic novel.

Deneb Catalan,da NebCat Photos. Imagens cortesia dos produtores

Se palavras matassem, as pessoas leriam mais. Chuck Palahniuk sabe disto, e passou a melhor parte de sua carreira aprendendo como reduzir a linguagem ao nível mais letal. “Não importa o quanto você pensa que ama alguém, você vai sair correndo   quando vir uma poça do sangue desse alguém” é uma dessas armas, tirada de uma passagem de Monstros Invisíveis, de 1999. Não bastando o assassinato pela palavra, após 16 romances o autor americano está concluindo seu primeiro roteiro, Cantiga de Ninar, adaptação para o cinema de seu quinto livro, talvez o mais mortal.

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“Meu dia hoje, até agora: fui até a cidade e enviei pelo correio grandes caixas de braços cortados para um evento que farei no fim de julho. Enviei um pacote para uma moça que me reconheceu em uma pet shop, onde eu estava comprando brinquedos para animais para enviar a um evento. Fiz compras para a casa. Enfim, o que mais?” diz Palahniuk pelo telefone. Falamos sobre Clube da Luta 2, agora uma graphic novel de capa dura, e a campanha no Kickstarter de Cantiga de Ninar, iniciada pelo diretor Andy Mingo e que já passou muito de sua meta de US$ 250.000 — além da vez em que, sem saber, jogou diversos braços amputados, uma marca de suas turnês de autógrafos, em um evento organizado por uma fundação que apoia pessoas com deficiência física, incluindo pessoas que foram amputadas. “Me senti um babaca, foi horrível!” confessa.

Confira abaixo a conversa que tivemos com Chuck Palahniuk sobre Cantiga de Ninar, Clube da Luta 2 e, além de outras coisas, o que choca esse autor notoriamente chocante.

The Creators Project: Você começou a trabalhar em Cantiga de Ninar logo após o lançamento do filme de Clube da Luta. Sempre pensei que você tivesse escrito esse livro como uma espécie de anti-filme, algo que não pudesse ser traduzido para o cinema e que só pudesse ser ambientado mentalmente. Adaptá-lo para o cinema foi um desafio?

Chuck Palahniuk: É engraçado, eu sempre escrevo meus filmes como uma espécie de anti-filme. Acho que, se vou escrever livros, vou tirar proveito daquilo que somente livros podem fazer, de modo que estou sempre tentando fazer algo que não pode ser feito no cinema. Mas nesse interim, escrevi histórias em quadrinhos para a editora Dark Horse e conheci artistas muito originais. Scott Allie, meu editor na Dark Horse, sempre dizia: nós faremos o que você criar. Não se detenha, e nos dê as coisas mais absurdas. A Dark Horse me encorajou muito a fazer coisas visuais e, agora, a levá-las para o cinema.

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Como a estrutura do roteiro mantém, ou altera, elementos estruturais do livro?

Mantive os flashes de cenas do futuro, porque nunca os havia utilizado antes. É uma espécie de testemunho inexplicado do que o mundo se tornou. A maior parte da história se passa nesse tipo de flashback, construindo o presente. Por outro lado, cortei a maioria das falas ou cenas estáticas, como a festa Wicca. Me livrei de tudo aquilo que era estático, para que ficássemos nos movendo constantemente.

O filme ainda é narrado em primeira pessoa?

Sim, mas bem menos.

Deneb Catalan, da NebCat Photos

Vamos falar sobre o Clube da Luta 2, agora uma graphic novel. Como você se sente vendo seus livros em formas alternativas?

Anos atrás, a Marvel e a DC me pediram para escrever uma série, isso foi lá nos anos 1990. Não estava disposto a dedicar meu tempo para aprender toda uma nova forma de narrativa, e não queria aprender de pessoas que viviam a 5000 quilômetros de distância. Então, por sorte consegui produzir e aprender com pessoas aqui em Portland, como Brian Bendis e Matt Fraction — com a Dark Horse e um editor com quem eu podia me encontrar para almoçar quando quisesse. Tive todo o apoio de que precisava, e eles me ensinaram toda essa nova narrativa, que melhorou muito meu trabalho como roteirista.

Você faria um livro de Clube da Luta 2?

Não tenho certeza. Não tenho mesmo. Adorei escrever Clube da Luta 2 e adorei trabalhar com o Cameron Stewart. Mas só se ele concordasse em fazer tudo de novo. Sei que foi muito difícil para ele ter que me orientar por todo o processo, consertar as coisas que fiz errado. Foi um trabalho difícil para Cameron. Mas, se ele concordasse, faria um Clube da Luta 3.

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Imagem de Cantiga de Ninar

O que choca você?

Veja, existem diferentes tipos de choque. Há aquele tipo de choque que deixa você sempre com repulsa: normalmente acontece quando vejo um animal morto sem motivo em uma narrativa. Não consigo assistir a Mulher Solteira Procura porque sei que vão jogar aquele cachorrinho pela janela. Mas adoro assistir a A Mão que Balança o Berço, porque adoro ver a Julianne Moore cortada pelo vidro da estufa. Essa cena sempre me faz rir. Não consigo lidar com animais sendo machucados, esse é um choque ruim.

Um bom choque é quando a narrativa me engana. A revelação no final de Arraste-me para o Inferno é tão bem construída que quis me matar por não perceber o que iria acontecer. Fui pego de surpresa e fiquei furioso comigo mesmo, esse é um choque bom.

Cantiga de Ninar ainda fica mais 8 dias no Kickstarter. Clique aqui para acessar a pré-venda de Clube da Luta 2.

Tradução: Flavio Taam