Dia 8 de Agosto de 2003, tarde de calor sufocante em Benicàssim, Espanha. Visivelmente inseguro, mentalmente instável e de voz trémula, Daniel Johnston, sobe a um dos palcos secundários do FIB, respaldado apenas por uma guitarra e um teclado. Um momento raro por essa altura. Para quem ali estava, os minutos que se seguiram foram um misto de sensações. Euforia e fascínio pela presença em carne e osso de uma lenda outsider, pouco dada a aparições públicas, muitas vezes cativo da sua diagnosticada condição mental bipolar e esquizofrénica. Desilusão e dor pela por demais óbvia incapacidade de, naquele momento, Johnston transpor para cima do palco a intensa beleza de um repertório de canções que, ao longo das últimas quase quatro décadas, inspiraram tantos outros artistas como ele. Frágeis, intensos, reféns de condições que os ultrapassam.Duvido que alguém naquela tenda soubesse o que esperar, mas o que aconteceu foi demasiado penoso. Mas também, ainda assim, belo na sua honestidade. Inesquecível. De qualquer das formas, resumindo e concluindo, isto aconteceu, eu estava lá e lembro-me que a coisa foi de curta duração. O setlist.fm lista apenas seis músicas tocadas e nenhuma delas a gigantesca "True Love Will Find You in the End", que é, senhoras e senhores, meninos e meninas, o que, afinal de contas nos traz aqui hoje.
A dada altura do processo de criação das demos de preparação do seu segundo álbum - com edição prevista para Março de 2019 -, Captain Boy, alter-ego de Pedro Ribeiro, cruzou-se com o tema de Daniel Johnston e, segundo reza a lenda (e a nota de imprensa que me chegou às mãos), o desafio de o reinterpretar cresceu nele à velocidade de uma seta do Cupido. Nas encruzilhadas da vida e numa daquelas decisões que o Mundo um dia irá reconhecer como, no mínimo, impecável, rapaz convida rapariga para dueto, rapariga aceita e o resultado, se não estiveres morto ou fores um filho da puta sem coração, é das coisas mais bonitas que vamos ouvir nos próximos tempos. O rapaz já sabemos quem é, a rapariga é a Débora, Surma para os amigos (que neste momento são tantos pelo Planeta fora como aqueles que ela merece)."True Love Will Find You in the End" é uma música desassombrada, um portento de simplicidade, de silêncios e fragilidades humanas. A esperança no amor apesar de tudo. E aqui o tudo é muito. É demasiado. De Beck aos Wilco, o tema de Johnston tem, provavelmente, dezenas de versões. Dos idos de 2003 para cá, e principalmente nos últimos cinco anos, o músico norte-americano tem actuado com mais regularidade. As suas interpretações de "True Love…" são, invariavelmente, contundentes e indissociáveis de uma luta constante pela luz. Pela escapatória à inevitabilidade. Na versão que hoje estreamos - com o vídeo que podes ver acima a cargo de Bruno Carreira - Captain Boy e Surma dão-lhe aquela que é, inquestionavelmente, uma das melhores homenagens de sempre.Dolente, directa e intensa como a original. Fantasmagórica, esperançosa, essencial e viciante como a obra de cada um dos artistas nas suas carreiras em nome próprio. Daniel Johnston haverá de gostar disto. Se conseguirem não ouvi-la 20 vezes seguida digam qualquer coisa. Nós tratamos do funeral.
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A dada altura do processo de criação das demos de preparação do seu segundo álbum - com edição prevista para Março de 2019 -, Captain Boy, alter-ego de Pedro Ribeiro, cruzou-se com o tema de Daniel Johnston e, segundo reza a lenda (e a nota de imprensa que me chegou às mãos), o desafio de o reinterpretar cresceu nele à velocidade de uma seta do Cupido. Nas encruzilhadas da vida e numa daquelas decisões que o Mundo um dia irá reconhecer como, no mínimo, impecável, rapaz convida rapariga para dueto, rapariga aceita e o resultado, se não estiveres morto ou fores um filho da puta sem coração, é das coisas mais bonitas que vamos ouvir nos próximos tempos. O rapaz já sabemos quem é, a rapariga é a Débora, Surma para os amigos (que neste momento são tantos pelo Planeta fora como aqueles que ela merece)."True Love Will Find You in the End" é uma música desassombrada, um portento de simplicidade, de silêncios e fragilidades humanas. A esperança no amor apesar de tudo. E aqui o tudo é muito. É demasiado. De Beck aos Wilco, o tema de Johnston tem, provavelmente, dezenas de versões. Dos idos de 2003 para cá, e principalmente nos últimos cinco anos, o músico norte-americano tem actuado com mais regularidade. As suas interpretações de "True Love…" são, invariavelmente, contundentes e indissociáveis de uma luta constante pela luz. Pela escapatória à inevitabilidade. Na versão que hoje estreamos - com o vídeo que podes ver acima a cargo de Bruno Carreira - Captain Boy e Surma dão-lhe aquela que é, inquestionavelmente, uma das melhores homenagens de sempre.Dolente, directa e intensa como a original. Fantasmagórica, esperançosa, essencial e viciante como a obra de cada um dos artistas nas suas carreiras em nome próprio. Daniel Johnston haverá de gostar disto. Se conseguirem não ouvi-la 20 vezes seguida digam qualquer coisa. Nós tratamos do funeral.
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