Perguntamos a Ex-membros a Verdade Sobre as Gangues de Londres

"Londres à beira de uma guerra de gangues", dizia uma manchete da Sky News algumas semanas atrás. Quando o título de uma matéria implica que uma grande cidade está enfrentando o Armagedom iminente por qualquer coisa como um terremoto ou ataque terrorista, eu geralmente arquivo isso numa caixa no meu cérebro marcada como "babaquices alarmistas" e não leio mais.

No entanto, desta vez a curiosidade levou a melhor, e eu li a coisa toda. O conteúdo não era nada novo – "o crime está fora de controle", "viva com medo constante das gangues", "nunca mais saia de casa", etc. –, mas o que chamou minha atenção foi um mapa que supostamente mostrava todas as gangues de East London. Essas gangues tinham nomes como "Hidle House Thugs", "E3 Bloods" e "True Tredegar Thugs", além de um código próprio de cores.

Considerando que gangues são basicamente um grupo de pessoas que cometem crimes juntas, o que a matéria afirmava é que a maior parte da atividade criminal em Londres é realizada por gangues de rua estilo norte-americano, com nomes inspirados em letras de rap e códigos de cores. Isso não me pareceu muito plausível – apesar de eu não ser uma autoridade em gangues de Londres.

O mapa rodou por vários outros jornais e meios de comunicação. Alguns deles publicaram versões maiores dele, dizendo mostrar o território de cada gangue de Londres. Joguei as gangues no Google, e a maioria parecia ser negra ou asiática e formada por adolescentes. Bairros como Havering e Bexley, que têm uma presença pequena de minorias, aparentemente não possuem gangues; portanto, eles não têm problemas com drogas e roubo.

Me pareceu que o mapa representava o preconceito do compilador, que só vê um grupo de criminosos como uma gangue se eles se parecerem com uma gangue de rua negra norte-americana. Decidi entrar em contato com ex-membros de gangues de Londres para saber a opinião deles. Aqui está o que eles tinham a dizer.

VICE: Qual era seu envolvimento com gangues?
Paul: Eu era de uma gangue chamada East London Gang. Andávamos com facas e socos-ingleses, fazíamos assaltos nas ruas e roubávamos cofres e outras coisas de lojas. Quando a maioria já tinha 18, nos tornamos uma unidade organizada e ganhávamos cerca de mil dólares por dia com fraude de cartão de crédito. Entre os 18 e 21, me tornei o líder, mas aí comecei a usar heroína. Um ano depois, parei de escovar os dentes e minha gangue não queria mais nada comigo. Estou limpo há nove anos e dou palestra para garotos sobre os perigos das drogas e do crime.

Segundo o mapa de gangues, há bairros inteiros de Londres sem gangues. Isso está correto?
Isso pode ser verdade nos bairros rurais nos arredores de Londres, mas em lugares como Central e East London isso é mentira. Em Havering, que é o bairro de onde vim, havia gangues 20 anos atrás, e a situação das gangues em Londres hoje é pior que a daquela época.

A maioria das gangues na lista parece ser predominantemente negra e asiática. É assim que as coisas realmente são?
Trabalho com muitos garotos de gangue e tento convencê-los a sair dessa vida. Eu diria que você tem de tudo. Gangues negras, gangues brancas, gangues com garotos negros e brancos, gangues asiáticas – e também há gangues do leste europeu.

As gangues com as quais você cruza têm nomes e cores oficiais?
Acho que a maioria se dá um nome irônico, porém isso não é importante. Tudo que conta para uma gangue é que, se houver problemas, eles estarão lá.

Você acha que a maioria das gangues de Londres é formada por adolescentes?
Há envolvimento de adultos também em termos de repassar bens roubados e fornecer drogas e financiamento.

Na sua opinião, matérias como a do mapa mostram as gangues da maneira certa?

Acho que elas não mostram a real gravidade da situação.

Qual seu envolvimento com gangues?
"Mr. E": Eu estava num grupo que fazia várias fraudes, também estávamos envolvidos com drogas e mandávamos ecstasy para a Itália. Eu também estava associado com gangues de torcedores de futebol. Alguns dos caras com quem eu cometia crimes eram de Millwall, e outros eram de West Ham.

Gangues de torcedores não são nem mencionadas no mapa das gangues. Elas continuam grandes na cidade hoje em dia?
Claro. Só que você não vê as coisas que elas fazem na TV, porque as autoridades não querem que seus bairros sejam mostrados de forma ruim.

Segundo o mapa, alguns bairros não têm gangues. Você diria que isso está correto?
Não. Você encontra gangues em todas as áreas.

A maioria das gangues do mapa é predominantemente negra ou asiática. Isso está de acordo com as suas experiências?
Em termos de drogas, a maioria dos grupos de Londres com que entrei em contato era de jamaicanos, mas havia várias gangues de caras brancos fazendo fraude de cartão de crédito e coisas assim, além de muitas gangues de torcedores.

A maioria das gangues com as quais você cruzou tinham nomes e cores oficiais?
Isso é principalmente coisa de moleque. Nós não tínhamos um nome, pois tentávamos ficar fora do radar. Geralmente, são os caras de baixo escalão que gostam de ter um nome para sua gangue. As pessoas no topo vivem pela sua reputação; então, não precisam dar nome para suas gangues.

A maioria das gangues de Londres é realmente formada por adolescentes?
Não. Você tem caras mais jovens e mais velhos também.

Você acha que matérias como essa do mapa mostram as gangues do jeito certo?
Quando as gangues são mostradas na mídia, é quase como um jogo. Os garotos veem coisas assim, e isso coloca uma semente na cabeça deles. Isso acaba os levando para o mau caminho.

Qual seu envolvimento com gangues?
Justin: Criei uma gangue de pixação chamada WZ, Warriorz. A gente costumava brigar com outras gangues de pixadores usando as mãos, facas, qualquer coisa.

Gangues de pixadores não aparecem no mapa. Ainda existem gangues violentas desse tipo em Londres?
Sim. Há gangues como o SFL, o Scum for Life, que é uma gangue de pixadores e uma gangue de rua em geral.

Segundo o mapa, alguns bairros não têm gangues. Isso está certo?
Acho que existe pelo menos uma gangue em cada bairro.

A maioria das gangues no mapa é predominantemente negra ou asiática. Isso está de acordo com as suas experiências?
A gente andava muito por Londres, e cruzamos com gangues negras, asiáticas, brancas. Tem de tudo.

Você acha que matérias como essa do mapa mostram as gangues do jeito certo?
Isso é só outro jeito de vender jornais e propagar o medo.

Qual seu envolvimento com gangues?
Sam: Meu envolvimento incluía roubo, pixação, brigas, drogas, assalto. Escolhi sair porque o propósito da minha vida se tornou claro através de muitas experiências espirituais.

Segundo o mapa, alguns bairros não têm gangues. Isso está correto?
Toda área de Londres tem provavelmente uma gangue. Se elas são reconhecidas ou não é que é a questão. Muitas das gangues reconhecidas são aquelas que mais chamam atenção na comunidade, que brigam e cometem crimes para serem notícia no dia seguinte.

A maioria das gangues do mapa é predominantemente negra ou asiática. Isso reflete a realidade das gangues da cidade?
Não inteiramente. Há muitas gangues negras e asiáticas, além de gangues misturadas, embora também haja muitas gangues principalmente com caras brancos. Muitas das gangues brancas de Londres são de torcedores, o que raramente aparece na mídia, porque muitas das brigas acontecem longe da comunidade. Não é porque não está na mídia que não está acontecendo.

Você acha realista que a maior parte dos crimes de Londres seja praticada por gangues com nomes e cores oficiais, como as que aparecem no mapa?
Sim. No entanto, há muitos crimes que não são mostrados acontecendo todo dia, e esses crimes não estão sendo cometidos pelas gangues adolescentes que vemos por toda a cidade. Muitos desses garotos não têm experiência; assim, ficam conhecidos na comunidade e têm mais chance de serem presos. Há gangues maiores e mais inteligentes que usam as coisas certas e dizem as coisas certas, mas não saem por aí dizendo quem são.

Você acha que a mídia retrata as gangues do jeito certo?
A mídia é parcialmente responsável por dar a ideia de que as gangues só são formadas por negros e asiáticos, o que não é verdade. Como já mencionei, não é porque só ouvimos falar disso que não há outras coisas acontecendo na cidade.

Agradecimentos a Stuart Campbell por me colocar em contato com Mr. E. Stuart está lançando um livro sobre sua experiência criminal. Você pode agendar palestras com o Paul aqui, compre o livro de Justin sobre seu tempo como líder de gangue aqui e ouça a música que Sam vem fazendo desde que saiu da vida do crime aqui.

Tradução: Marina Schnoor.

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