Forças policias de vários países estão a acabar com cartéis na Deep Web
Foto cortesia DEA

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Forças policias de vários países estão a acabar com cartéis na Deep Web

Nos meandros da Internet, as pessoas vendem e compram drogas onde quer que estejam. Mas não quer dizer que as autoridades não estejam atentas.

Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma Motherboard.

A Deep Web permite que as pessoas vendam e comprem drogas onde quer que estejam. Por mais que não seja visto como um fenómeno global, o tráfico nas profundezas da Internet baseia-se numa lógica internacional. Há várias investigações a traficantes sediados nos dois lados do Atlântico que trocam informações e, pelo meio, abastecem as suas prateleiras de venda digital com uma infinidade de narcóticos.

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Este mundo sem fronteiras, como seria de esperar, também está debaixo dos olhos da lei. Nos últimos dias, uma série de detenções foi demonstrativa da resposta organizada de autoridades belgas, romenas, francesas e norte-americanas em relação ao tráfico internacional online de drogas. Com esta operação conjunta, os investigadores afirmam ter acabado com um elaborado cartel de ecstasy que operava na Deep Web.

A 17 de Outubro, as autoridades do Colorado, nos EUA, anunciaram a extradição de Filip Lucian Simion. Natural da Roménia, o homem foi detido e levado para Denver acusado de ser o suposto líder do grupo "ItalianMafiaBrussells", ou "IMB", que exportava MDMA para os EUA e Canadá. A investigação, revelam os responsáveis, começou ainda durante o período de operação do primeiro Silk Road, o mais conhecido site de comércio de estupefacientes, encerrado em 2013 pelo FBI.

A 13 de Junho de 2014, a alfândega norte-americana interceptou mais de 60 gramas de MDMA, enviadas da Bélgica para um indivíduo em Boulder, Colorado, de acordo com um documento judicial. Quando confrontado pela polícia, o destinatário concordou em cooperar com as autoridades e, no depoimento, revelou ter comprado a droga ao IMB.

As autoridades apreenderam outros pacotes destinados a clientes norte-americanos - incluindo um no Aeroporto JFK, em Nova Iorque - e fizeram com que estes revelassem quem era o fornecedor. Alguns dos suspeitos deram aos investigadores acesso às suas contas em sites da Deep Web e às mensagens trocadas com o IMB.

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Avaliações de produtos no Silk Road ajudaram a ligar fontes anónimas ao IMB

Enquanto isso, as autoridades belgas interceptaram outros pacotes do IMB entre Fevereiro e Setembro de 2014. As mercadorias continham recibos falsos, de forma a tentarem passar uma imagem de legitimidade, fazendo-se passar por empresas conhecidas. No total, a polícia belga apreendeu 19 encomendas que acreditavam vir da mesma pessoa, ou organização e informou a polícia norte-americana das apreensões.

Em troca, os belgas tiveram acesso a dados do servidor do Silk Road, que incluía mensagens privadas do IMB e dos seus clientes. Quem quer que estivesse por trás da conta do IMB era fluente em holandês e inglês, falava sobre a Roménia e parecia estar familiarizado com a Polícia Federal Judicial Belga (a Federale Gerechtelijke Politie, ou FGP). Nestas mesmas mensagens, IMB afirmava viver perto de Bruxelas, capital da Bélgica.

Numa outra investigação, aparentemente não relacionada, em Dezembro de 2013, a FGP já tinha vasculhado a casa e um espaço de armazenamento pertencentes a Simion. Não é claro o que levou à busca, mas os investigadores encontraram etiquetas postais que serviriam, alegadamente, para o envio de produtos aos clientes. Muitos dos nomes coincidiam com o que as autoridades norte-americanas tinham em mãos. Os belgas, por sua vez, encontraram registos ligados aos recibos falsos. Simion aparece, assim, directamente ligado às encomendas da Deep Web.

Munidas destas informações, a FPG e a Polícia Federal Romena começaram a vigiar Simion e os seus associados. Através de escutas telefónicas, a FGP descobriu que o grupo usava aplicações de troca de mensagens criptografadas, como a app RedPhone, para fazer ligações e enviar mensagens.

"Com base nestas diligências, conjuntamente com as actividades observadas pela polícia, a FGP acredita que os membros da organização utilizam primariamente aplicações de comunicação pela Internet e e-mails criptografados para efectivar a maior parte das suas comunicações", consta num documento judicial. Num determinado momento em que o grupo não usou comunicação criptografada, a FGP afirma ter ouvindo alguém a separar, ou a preparar drogas, como ruído de fundo num telefonema, bem como alguém a digitar num computador.

As autoridades conseguiram, depois, determinar que Simion e Leonardo Cristea, outro suposto membro do grupo criminoso, residiam na Roménia, mais precisamente em Bucareste, ao passo que outros dois suspeitos, Andy Nestor e Yman Djavatkhanov, viviam em Bruges, na Bélgica, e deslocavam-se frequentemente às áreas fronteiriças da Alemanha e França. Para complicar ainda mais, a polícia francesa também apreendeu dezenas de pacotes em trânsito para os EUA, incluindo um encomendado por um agente da DEA sob disfarce em Chicago.

A FGP conseguiu colocar escutas numa garagem em Bruges, utilizada pelo grupo, e gravou-os a discutirem negócios em pormenor. Em Maio, veio o culminar do trabalho colectivo de todas estas forças da autoridade: 10 indivíduos foram presos no decorrer da operação conjunta entre EUA e Europa. Simion e Cristea podem, agora, ser condenados até 20 anos na cadeia.