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"Kalifat". A lavagem cerebral na idade da inocência

Série sueca, disponível na Netflix, mostra como as adolescentes são persuadidas a ingressar no Estado Islâmico.
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Sorrisos de quem foi seduzida pela banha da cobra. (Imagem de Kalifat. Cortesia SVT/Netflix)

A adolescência é considerada a idade das descobertas, a fase em que a ingenuidade se alia à rebeldia, a época em que podemos ser facilmente influenciados por meia-dúzia de sorrisos. Na série Kalifat, a idade da inocência é o ponto central para entender o modus operandi do recrutamento de jovens menores para o Estado Islâmico (quando este detinha a região de Raqqa, na Síria). Objectivo: dar a volta a miúdas vulneráveis com características particulares.

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O facto de serem filhas de pais refugiados de zonas de conflito - ou que partiram meramente em busca de oportunidades -, a juntar ao peso da etnicidade, de julgarem (ou sentirem) que o Ocidente é racista, fá-las concluir que o seu destino está traçado. “Ninguém desta escola vai arranjar trabalho. Só se for nas limpezas, mas ninguém vai ser advogado”, desabafa a personagem interpretada pela promissora Nora Rios.

A partir destas premissas, há um desencanto com o país onde residem (a Suécia) e uma revolta interior à procura de uma pomada para serenar a alma. O refúgio para olvidar esse desajustamento podia estar assente em produtos utilizados por outros da mesma geração, isto é, a espuma das redes sociais - hoje seria a aplicação TikTok -, a música da liga dos One Direction ou vendo algum filme que padeça do “espírito Twilight”. A distracção muda de figura quando o fundamentalismo religioso arrebata os seus neurónios e lhes são prometidos sonhos descabidos…

Nesta produção nórdica disponível na Netflix, o telespectador entra no universo diabólico do ISIS em três frentes. Em Raqqa, temos a esposa de um dos extremistas que apela à ajuda de uma agente policial para sair daquele pandemónio; na terra de Ibrahimović, duas estudantes são alvo de uma sedutora lavagem cerebral e, no tabuleiro terrorista, são revelados diversos preparativos para o próximo acto violento na Europa (olho nas movimentações do “the traveller").

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Nos tempos sombrios em que vivemos, Kalifat pode não ser o mais adequado para os dias de confinamento. Contudo, vai sendo viciante pela maneira como a sequência dramática é construída, tem um elenco que encaixa na perfeição e abre as portas para a segunda temporada com o seu desenlace surpreendente.

A luta contra este género de ilusões merece novos episódios.


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